segunda-feira, março 09, 2009

Um belo começo de livro para um belo começo de semana


Esse também é dos meus começos preferidos. Como diria um ex-namorado meu: “gatinha, por que você não faz esse texto? É a sua cara” (quando eu fazia teatro). Que meigo, ele. Mas o pior é que é. Eu sou um homem do subsolo.


Sou um homem doente...Um homem mau. Um homem desagradável. Creio que sofro do fígado. Aliás, não entendo níquel da minha doença e não sei, ao certo, do que estou sofrendo. Não me trato e nunca me tratei, embora respeite a medicina e os médicos. Ademais, sou supersticioso ao extremo; bem, ao menos o bastante para respeitar a medicina (sou suficientemente instruído para não ter nenhuma superstição, mas sou supersticioso). Não, se não quero me tratar, é apenas de raiva. Certamente não compreendeis isso. Ora, eu compreendo. Naturalmente não vos saberei explicar a quem exatamente farei mal, no presente caso, com a minha raiva; sei muito bem que não estarei a “pregar peças” nos médicos pelo fato de não me tratar com eles; sou o primeiro a reconhecer que , com tudo isto, só me prejudicarei a mim mesmo e a mais ninguém. Mas, apesar de tudo, não me trato por uma simples questão de raiva. Se de dói o fígado, que doa ainda mais.


(Dostoievski, Fiódor. Memórias do subsolo. São Paulo: Editora 34, 2000: p.15)

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