segunda-feira, julho 28, 2008

Pass it foward


Para a Raquel, que mora em NY, a minha “homem da fila”. Um dos mais fortes elos na corrente do bem que está me levando pra lá. Espero um dia poder ser a sua “Moshê”.


No mês de agosto de 2001, Moshê (nome fictício), um bem sucedido empresário judeu, viajou para Israel a negócios.



Na quinta feira, dia nove, entre uma reunião e outra, o empresário aproveitou para ir fazer um lanche rápido em uma pizzaria na esquina das ruas Yafo e Mêlech George no centro de Jerusalém. O estabelecimento estava superlotado. Logo ao entrar na pizzaria, Moshê percebeu que teria que esperar muito tempo numa enorme fila, se realmente desejasse comer alguma coisa - mas ele não dispunha de tanto tempo.


Indeciso e impaciente, pôs-se a ziguezaguear por perto do balcão de pedidos, esperando que alguma solução caísse do céu. Percebendo a angústia do estrangeiro, um israelense perguntou-lhe se ele aceitaria entrar na fila na sua frente. Mais do que agradecido, Moshê aceitou. Fez seu pedido, comeu rapidamente e saiu em direção à sua próxima reunião.



Menos de dois minutos após ter saído, ele ouviu um estrondo aterrorizador. Assustado, perguntou a um rapaz que vinha pelo mesmo caminho que ele acabara de percorrer o que acontecera. O jovem disse que um homem-bomba acabara de detonar uma bomba na pizzaria Sbarro`s...


Moshê ficou branco. Por apenas dois minutos ele escapara do atentado. Imediatamente lembrou do homem israelense que lhe oferecera o lugar na fila. Certamente ele ainda estava na pizzaria. Aquele sujeito salvara a sua vida e agora poderia estar morto. Atemorizado, correu para o local do atentado para verificar se aquele homem necessitava de ajuda. Mas encontrou uma situação caótica no local.



A Jihad Islâmica enchera a bomba do suicida com milhares de pregos para aumentar seu poder destrutivo. Além do terrorista, de vinte e três anos, outras dezoito pessoas morreram, sendo seis crianças. Cerca de outras noventa pessoas ficaram feridas, algumas em condições críticas.


As cadeiras do restaurante estavam espalhadas pela calçada. Pessoas gritavam e acotovelavam-se na rua, algumas em pânico, outras tentando ajudar de alguma forma.


Entre feridos e mortos estendidos pelo chão, vítimas ensangüentadas eram socorridas por policiais e voluntários. Uma mulher com um bebê coberto de sangue implorava por ajuda.


Um dispositivo adicional já estava sendo desmontado pelo exército. Moshê procurou seu 'salvador' entre as sirenes sem fim, mas não conseguiu encontrá-lo. Ele decidiu que tentaria de todas as formas saber o que acontecera com o israelense que lhe salvara a vida. Moshê estava vivo por causa dele.


Precisava saber o que acontecera, se ele precisava de alguma ajuda e, acima de tudo, agradecer-lhe por sua vida. O senso de gratidão fez com que esquecesse da importante reunião que o aguardava.


Ele começou a percorrer os hospitais da região, para onde tinham sido levados os feridos no atentado. Finalmente encontrou o israelense num leito de um dos hospitais. Ele estava ferido, mas não corria risco de vida. Moshê conversou com o filho daquele homem, que já estava acompanhando seu pai, e contou tudo o que acontecera. Disse que faria tudo que fosse preciso por ele. Que estava extremamente grato àquele homem e que lhe devia sua vida. Depois de alguns momentos, Moshê se despediu do rapaz e deixou seu cartão com ele. Caso seu pai necessitasse de qualquer tipo de ajuda, o jovem não deveria hesitar em comunicá-lo.

Quase um mês depois, Moshê recebeu um telefonema em seu escritório em Nova Iorque daquele rapaz, contando que seu pai precisava de uma operação de emergência. Segundo especialistas, o melhor hospital para fazer aquela delicada cirurgia fica em Boston, Massachussets. Moshê não hesitou. Arrumou tudo para que a cirurgia fosse realizada dentro de poucos dias. Além disso, fez questão de ir pessoalmente receber e acompanhar seu amigo em Boston, que fica a uma hora de avião de Nova Iorque.


Talvez outra pessoa não tivesse feito tantos esforços apenas pelo senso de gratidão. Outra pessoa poderia ter dito 'Afinal, ele não teve intenção de salvar a minha vida: apenas me ofereceu um lugar na fila '. Mas não Moshê. Ele se sentia profundamente grato, mesmo um mês após o atentado. E ele sabia como retribuir um favor.


Naquela manhã de terça-feira, Moshê foi pessoalmente acompanhar seu amigo - e deixou de ir trabalhar. Sendo assim, pouco antes das nove horas da manhã, naquele dia onze de setembro de 2001, Moshê não estava no seu escritório no 101º andar do World Trade Center Twin Towers.

(Relatado em palestra do Rabino Issocher Frand)

4 comentários:

Raquel (NY) disse...

Nossa, quanta honra, um post so para mim. Assim vou ficar emocionada, nao vale.
O que tenho a dizer e que para mim e um privilegio ser o seu "homem da fila", ja que sei que voce e o "homem da fila" para muita gente. Eu nao gosto de filas, mas espero que muitas delas so com gente desse tipo estejam no nosso futuro.
Beijo e ate breve
Raquel

Anônimo disse...

Sendo verdade, foi um verdadeiro Mitzvah

Anônimo disse...

Que lindo texto... que emoção. Estive nessas ruas em Jerusalém, fiquei num hotel na Rua Yafo. Ameaças de bomba houve várias, já em 2006...
Há vátias histórias inspiradoras assim na comunidade judaica; algumas são verídicas, outras são como parábolas, mas todas passam grandes ensinamentos!
Boa sorte na sua empreitada> Estou também torcendo por você!

Carrie, a Estranha disse...

Raquel,

Tolinha. Vc acha q isso é honra? Vc ainda não viu nada. Vc ainda terá um post exclusivamente falando só de vc.

Joel,

Não é uma interessante história? Se é verdade ou não é o q menos importa. Achei bacana pensar q o milagre pode vir do fato de ajudar os outros. Isso é uam coisa q eu sempre digo: ajudar as pessoas tem a ver com se ajudar, antes de tudo.

Nana,

Sim, meus pais tb estiveram em Jerusalém, antes das coisas ficarem piores (não que tenham sido calmas algum dia, mas antes do 11 de setembro era um pouco melhor).

Muito obrigada pela torcida.

Bjs