quinta-feira, junho 26, 2008

Eu e o Amarildo


Há cerca de uns cinco anos regularmente eu recebo ligações de pessoas procurando o Amarildo no meu celular (não, não estou colocando um pseudônimo, o nome é esse mesmo). Após alguns enganos descobri que o Amarildo em questão tem o mesmo número de celular meu, só que com código 24. Às vezes eu aviso que o número do Amarildo tem código e o meu não. Em outras não. Engraçado é que Gotham City é uma das cidades cujo código é 24. Só que o meu celular é do Rio. Estaria alguém ligando pro Amarildo e me procurando? Questões, questões...

Pela minha convivência de 5 anos com Amarildo descobri que ele é um caseiro – o código 24 é também de Petrópolis e algumas regiões serranas e oceânicas, o que faz todo o sentido. E dos bons! Pois como tem gente que procura os serviços do Amarildo! E deixam recados enormes na minha caixa postal, falando as tarefas a serem feitas (tudo bem que eu tenho a voz grossa, mas daí a pessoa achar que é um homem falando é um certo exagero). Providências sobre cavalos, propriedades e afins são dadas no meu celular. Acho que Amarildo é caseiro de rico. Espero que não esteja se prejudicando. Já pensaram? “Amarildo, porque você não preparou o Ventania para a minha chegada? Eu te avisei que eu vinha na quinta e não na sexta!”. “Não, Dona Eulália. A senhora não me falou nada, não!”. “Como não falei, Amarildo? Eu deixei um recado na sua secretária!”. “Secretária, Dona Eulália? Meu celular tá sem secretária porque eu tô sem crédito”. Pronto. Anos de credibilidade jogados fora. Dona Eulália achando que Amarildo mente. Quem sabe até tenha dado pra beber, depois que a filha se envolveu com tóchico. Pobre Amarildo.

(Eu adoro imaginar a vida de estranhos. Eu recolho rastros de estranhos. Hoje eu entrei em um ônibus e tinha um bilhete: “diagnóstico clínico: transtorno de ansiedade”. Fiquei pensando em quem recebeu esse diagnóstico e porque precisou que isso fosse escrito em um papelzinho. Ou quem sabe fosse alguém levando outra pessoa – uma neta, filho – e escreveu pra não esquecer. Mas era um papelzinho tão pequeno! Por que não pediu pro médico dar uma receita? Ou será que é alguém que ouviu falar disso em algum lugar e pensou: “ah, deve ser isso que eu tenho! Deixa eu anotar”. Eu pego papéis amarrotados e levo pra casa. Eu pego cartas rasgadas, levo pra casa e reconstituo. E completo as informações que faltam. Sou uma caçadora de memórias anônimas. Agora mesmo eu começo a revirar lixo).

Mas voltando ao assunto dos celulares. Eu tenho uma amiga-leitora Pat Linden, de Brasília, que tem exatamente o mesmo número de celular que uma amiga minha aqui do Rio que se chama...Patrícia. Daí meu celular, por algum motivo bizarro, só registra essa minha amiga aqui do Rio como Pat Linden. Sempre que ela me liga acho que é a Pat Linden, mas é a Pat Greco. Sempre que vou mandar uma mensagem pra ela sai “Mensagem enviada para Pat Linden”. A primeira vez que isso aconteceu eu fiquei preocupadíssima, achando que eu tinha confundido as Pats, mas depois vi que não. E o pior é que eu tenho uma outra amiga-leitora que se chama Patrícia e mora aqui no Rio. E assina sempre como Patrícia do Rio. Daí eu coloquei no meu cel “Patrícia do Rio”. Só que a Pat Greco também é do Rio. Logo, sempre me confundo também. Haverá um dia em que não só o trânsito dará um nó, mas todo o serviço telefônico-celulárico-internético dará um grande bug e vamos todos ficar em casa a luz de velas comendo brigadeiro.

Mas não é o cúmulo da coincidência você ter duas amigas Patrícias que têm o mesmo número de celular e só muda o código?

Mais coincidência do que isso só eu e o Amarildo.

Um comentário:

Mari Donato disse...

Provavelmente o negócio do diagnóstico clínico era "cola" de alguém da faculdade, ou algum sorteio de seminário que foi feito - e o ser esqueceu dentro do busão!
:P