segunda-feira, maio 19, 2008

Amigos de infância


(Peposa e ET)

(O baile toooodo!)



Se você está com cerca de trinta anos (um pouco mais ou um pouco menos) é bem provável que tenha tido um desses três brinquedos.

A primeira é a Srta Peposa, uma ursa, casada com o Sr Peposo. O casal tinha os peposinhos, seus filhinhos. A família Peposa era toda composta de ursos com características meio humanas, como a roupa e o sapato, além das mãos e pés. A mão da Srta Peposa se encaixava na boca – agora por que ela, uma ursa-dona-de-casa já de meia idade, metia o dedão na boca, eu não sei. Assim como não sei por que se chamava “Srta”, sendo que era casada com o Sr Peposo. Ganhei dos meus pais. Estava arrumando meu armário de forma a abrigar as coisas que eu tenho trazido do Rio, quando achei a Srta Peposa, toda empoeirada, coitada. Tossindo, acordou de um sono de 15 anos, no mínimo. Joguei-a num balde com sabão, deixei de molho, pus pendurada no varal e depois meti perfume. Ela está linda – com o vestidinho um pouco rasgado, é verdade. Formiga irmã queria que eu a deixasse nua, mas como é que ela vai ficar pelada e de sapatos? Além disso, ela é uma senhora. Não pode se dar a essas descompusturas de andar pelada pela casa. Não me lembro quando exatamente eu a ganhei. Sei que foram meus pais que me deram. E eu fazia apresentaçõeszinhas infantis cantando “Meu ursinho Pimpão”, do Balão Mágico, com ela (antes, muito antes da Simony se casar com presidiários e freqüentar programas de auditório do horário da tarde ela era uma criancinha doce e angelical com a qual toda garotinha da minha idade queria se parecer).

O segundo amigo, esse meio bege, é o ET. “ET, o extraterrestre”, do Steven Spielberg foi o primeiro filme que eu vi no cinema na minha vida (o segundo acho que foi “Os Goonies”). O filme é de 82 e, levando em conta que os filmes naquela época não chegavam tão rápido ao Brasil – e em Gotham City menos ainda – eu devo ter visto esse filme em 83. Como faço aniversário no final do ano devia ter uns 6 anos. Meus irmãos mais próximos (de idade) me levaram. Lembro-me até hoje da tela azul e dos meninos voando em suas bicicletas. Um pouco depois meu irmão me deu esse ETzinho. Também estava perdido e empoeirado em um monte de tralha. Também foi pro banho (me lembro sempre das historinhas do Calvin e do Haroldo em que este último era lavado pela mãe do Calvin e saía tonto da máquina).


A última amiga é o Meu Bebê da Estrela. Na verdade, Adriana. Ela tem exatos 25 anos – já se formou (em veterinária) e tudo. Me dá muito orgulho, essa menina. Lembro-me exatamente de como a ganhei. O Meu Bebê da Estrela foi uma verdadeira febre entre as meninas da minha idade. Eu tinha uma prima (ainda tenho) mais velha do que eu uns 6 anos e ela tinha o Meu Bebê (você podia escolher nas versões menino ou menina). Só que eu não tinha muita intimidade com a minha prima, daí ficava sem graça de pegar e brincar. Mas me lembro de, num aniversário da minha avó, pegar o Meu Bebê dela por alguns instantes e achar o brinquedo mais perfeito do mundo – ainda por cima ela punha perfume e talco e a boneca ficava com cheiro de neném de verdade.

Aí pedi para os meus pais. Fui às Lojas Americanas com a minha mãe e vimos o preço. 23.000 cruzeiros!!! Era muito, muito dinheiro. Não dava, pelo menos por enquanto.

Um belo dia – ou melhor, umas belas férias – eu estava em Pasárgada. Era a época em que as minhas tias fizeram uma reforma na casa e estávamos na casa das minhas tias-avó, Nhanhá, América e do Tio Zezé. Sempre íamos de férias pra Pasárgada enquanto meu pai ficava trabalhando em Gotham City e ia nos finais de semana. Eis que, um dia, num final de semana comum, ele chega com uma caixa que era do meu tamanho. Nem precisei saber o que era. Já adivinhei. Saí correndo, rasguei o papel em fúria e lá estava ela, como um corpo inerte em seu caixão, só que pronta para nascer. Rasguei o plástico, tomei-a nos braços – seu olhos então se abriram - e dei um beijo na testa dela. Os adultos ao redor se olharam espantados.

A partir daí eu a batizei de Adriana, minha madrinha fez roupas e sapatinhos de crochê pra ela, levei-a ao colégio e, muito recentemente, ela foi levada como cobaia pelo meu primo para as aulas do pessoal de gineco, da faculdade de medicina daqui – sem que antes eu me certificasse de que minha bebeza não sofreria danos de quaisquer espécies.

Mamãe vê os três enfileirados na estante e diz que eu regredi desde que vim pra cá. Eu digo que não. Pois para regredir é preciso que você tenha progredido. E, nesse sentido (e eu vários outros), eu nunca progredi. Sou ainda a meninha de seis anos que se emocionava com uma tela azul em um cinema poeirento do interior. Que acha que a vida deve ser - e de fato é - mais do que a burocracia do mundo adulto, com suas rotinas objetivas, quer nos fazer crer.

É uma pena que os adultos releguem os elementos lúdicos da vida à infância, impingidos pela necessidade do sobreviver, envolvendo-se nas engrenagens massacrantes de tédio. Como se incluí-los no dia a dia – seja de que forma for: na brincadeira com os filhos, com os animais, colecionando brinquedos infantis ou qualquer outro hobbie, contando histórias, dançando, se reunindo com as pessoas que amamos para rir e jogar conversa fora, criando arte – fosse coisa de gente louca, à toa ou que não amadureceu.

Deixo-os ali, me olhando, enquanto tento escrever mais um capítulo da minha tese. Deixo-os ali para me lembrarem, o tempo todo, de quem eu sou e de onde eu vim. Talvez só eles saibam, de fato.


PS: Tive mais algumas bonecas e uns poucos ursinhos de pelúcia. Não eu nunca tive uma Barbie. Sempre detestei. Muito mulézinha pro meu gosto. Muito adulta. Chata demais e ainda por cima com aquele namorado boiola e mala, o Ken (na época eu não sabia que ele era boiola, mas algo me dizia que aquele relacionamento era meio fake). O máximo que eu tive foi um kit maquiagem da Barbie. Mesmo assim porque foi presente do meu Tio Guido. Sempre gostei mais de jogos de tabuleiro e bonecas. Não gostava muito de brincadeiras de rua.

17 comentários:

Anônimo disse...

Eu tive o Peposo. Aliás, ainda tenho. Está na minha casa da praia.

Da barbie, me lembro de ter ganhado aquela versão que só vinha uma cabeça enorme pra gente fazer o cabelo e a maquiagem. Assustador.

Anônimo disse...

Por isso que ainda jogo videogame, vejo desenho, leio quadrinhos dentre outras "infantilidades". Ainda bem.

Também nunca fui fã de bonecas. Sempre preferi os brinquedos dos meninos, eram bem mais legais. Os de menina costumavam ser aquelas bonecas, kits de cozinha e maquiagem, fala sério.

Blueberry Girl disse...

ô, q texto bacana.

"Como se incluí-los no dia a dia – seja de que forma for: na brincadeira com os filhos, com os animais, colecionando brinquedos infantis ou qualquer outro hobbie, contando histórias, dançando, se reunindo com as pessoas que amamos para rir e jogar conversa fora, criando arte – fosse coisa de gente louca, à toa ou que não amadureceu."

Quem NÃO faz isso não vive, né? Vamos combinar. Pensa que. Nada substitui esses momentos. Nada é mais importante.

Agora, quanto a bonecas... eu nunca gostei mto delas, não. Todas que eu ganhava, eu dava. Mto filme de terror na minha mente, com bonecas abrindo os olhos e virando a cabeça pra você no meio da noite, hahahaha.

Anônimo disse...

eu tinha uma peposa e era um dos meus ursinhos favoritos. adorei revê-la aqui.Saudades do seu cantinho mas pouco tempo pra visitar os amigos...
Bjocas

Unknown disse...

Vc me fez chorar com este post. Tb tenho minha Peposa até hj, mas a sua está de longe mto mais conservada q a minha. Me lembrei tanto da minha infância e de qdo eu esperava o Papai Noel ou qdo meu pai viajava por mais de 1 dia e sempre me trazia uma boneca.
Ao contrário de vc, sempre quis uma Barbie( parece mto comigo) e pedi ao papai noel. Vc nao imagina minha decepção qdo abri o embrulho e vi uma Susi, e ainda por cima de cabelo anelado. Traumatizante!!!!!

Carrie, a Estranha disse...

Nóis,

Pois é! Tinha essa versão e outra mais simples, sem o cabeção, só com o kit. Foi essa q eu ganhei.

Blue,

Eu tinha uma cozinhazinha e adorava brincar nela! Eu gostava de bonecas, mas as grandes, q eu podia tocar e abraçar.

Blueberry,

Sem dúvida! Bonecas tem um quê de malévolo. Principalmente bonecas de porcelana. Eu tive uma, mas minha irmã fez o favor de pisar no rostinho dela. Super delicada, né? (tb, o que que eu tinha de deixar no chão?).

Ela,

Sumida!

Tá vendo, quase todo mundo tinha uma peposa!

Milema,

Rsrsrsrs...to rindo e com pena do seu comentário. Como assim, te dão uma boneca de cabelo anelado? Muito traumatizante, mesmo. Até li pra Formiga Irmã seu comentário e ela se solidarizou com vc imediatamente.

Descobri que minha Peposa é fotogênica! Ela saiu muito melhor da foto do que é na realidade! Eu escondi os rasgadinhos do vestido - e tb com o banho que ela tomou deu uma boa melhorada. O problema vai ser qdo minha sobrinha descobri-la. Primeiro, vai achar q é dela. Segundo, vai destrui-la! Rsrsrsr...



Bjs

Juju disse...

Sempre passo pra ler suas histórias. Nunca digo nada.
Mas hj não resisti, vendo a foto da Srta. Peposa aí em cima.
Eu tb tive (tenho,em algum lugar) uma. Foi no meu aniversário de 6 anos. Ganhei do meu padrinho.
Odiei.
Assim q abri o pacote disse: não gostei. Assim,secamente.
Os adultos ficaram horrorizados com minha "falta de educação". Pra mim, só estava sendo sincera. Até ofereci pra minha prima que tinha achado legal o meu presente. Não deixaram eu dar.
Pra piorar, no aniversário da minha irmã,no mês seguinte, ela ganhoud o meu padrinho (aliás, nosso) o Sr. Peposo.
E adivinha o que ganhamos no dia das crianças? Os filhotinhos!
Ai, que dor!
Sempre detestei bicho de pelúcia. E tinha medo dos olhos deles à noite.
Na verdade, ainda tenho.
Mas sabe, lendo seus posts eu fico contente. Eu me sinto normal. Ou, pelo menos não me sinto tão sozinha na minha loucura.:)
Bjs!

Érika Freire disse...

Putz eu tive barbie e essa boneca careca ai tb! rsrsrsrsr
Seu blog é muito legal
bjoss e até mais

Carrie, a Estranha disse...

Oba! Leitores novos comentando! Yuppie!

Oi, Juju

Meu Deus! Que padrinho mais sem loção! Se ele viu q vc não gostou, pq deu pra sua irmã? Ok, vcs são pessoas diferentes, mas se vc não gostou é bem provável q tenha deixado pra sua irmã brincar. E ele foi o mesmo q deu os peposinhos? Será que ele tirou um lote de peposos em uma rifa? Só pode ser! É a única explicação. Quase tão triste a sua história qto a da Susie de cabelo anelado da Milema.

Obrigada pelos elogios. Ao ler isso eu fico muito feliz em saber q meus escritos servem pra alguma coisa.

Érika,

Boneca careca, não! Rsrsrs...é o Meu Bebê!

Seja bem-vinda. Obrigada.

Bjs

Anônimo disse...

Ai, pelo jeito fui uma criança pobre mesmo, rs, pq não me lembro dessa ursa nem desse ET. Me lembro dessa boneca, mas nunca fui ligada a bonecas; acho que só tive duas;uma que meu irmão ganhou num concurso de redação, coitado, e deu uma pra professora dele e outra pra mim; acho que ela se chamava Mimadinha, chorava e ria quando apertávamos sua barriga e tb era da Estrela. E outra que ganhei depois de "grandinha", numa reunião de dia das crianças, acho, na casa de uns tios; eu ganhei uma boneca até bonitinha, mas eles fizeram a conta errada, e a filha deles ficou sem; daê sobrou pra mim , que tive que dar minha boneca pra ela(só não sei por que fui a escolhida , se tinha outras meninas lá). Daí que alguns dias depois eles me deram outra, mas daquelas de plástico, horrorosa, o que só fez aumentar minha falta de interesse por bonecas. Sempre preferi jogos de tabuleiros tb, mas gostava de brincadeiras de rua, desde que não fossem de correr. Hj quando paro pra pensar no pq eu nunca ter gostado de bonecas, acho que pq comecei a ter bichos de estimação mto cedo, e bonecas são seres inanimados e que de certa forma assustam com aqueles olhos parados. Nunca fui fã de barbie, acho a boneca mais sem graça do mundo, e minha mãe tb sempre foi contra. Me sinto meio peixe fora d'água, pq parece ser a boneca preferida de 10 entre 10 meninas. Tem um texto do Rubem Alves sobre ela, conhece?(o texto).

Hahaha, gente, tadinha da boneca de cabelo anelado!! mas pior é tê-los na vida real. Dão um trabalhooo.

Meu comentário ficou elooorme, como diz vc, rs; sorry.
Adorei o texto.

P.S.: vc chegou a ter aquelas bonequinhas que vinham dentro de um negócio tipo casca de ovo?acho que se chamavam fofoletes;eram preenchidas com bolinhas de isopor.

Carrie, a Estranha disse...

Oi, Juassara!

Gente, cada história mais triste q a outra!

Eu tinha fofolete! Claro! Mas elas não vinham em cascas de ovo...vinham?

E a turma da moranguinho e cia? Tb acho q nunca tive...não me lembro muito... tinham os ursinhos carinhosos - q eu tb nunca tive.

bjs

Anônimo disse...

Não, Carrie, não eram casca de ovo, mas uma cápsula que lembrava um ovo(a casca do).
É mesmo, tinha tb as Moranguinhos; essas tenho certeza que não tive, mas me lembro do cheirinho bom que elas tinham(alguma coleguinha ou prima devia ter). Já dos ursinhos carinhosos eu não me lembro, só lembro do desenho deles, mas eu já era pré-adolescente na época e não assistia, não curtia muito; preferia ver "A caverna do dragão", rs.

Bárbara Anaissi disse...

eu tive meu bebê tb... e lembro da fofolete em caxinhas tipo as de fósforo - não era isso não?
agora, por favor, me expliquem: qual o problema dos cabelos anelados da susie??? anelados são bem mais bonitos rs rs rs
muito gostoso esse texto com cheirinho de infância boa, carrie.

Carrie, a Estranha disse...

Jussara,

Acho q a Bárbara tem razão. Era caixa de fósforo.

Bárbara,

É q essa minha amiga, a Milema, tem problemas! Rsrsrs...Ela detesta cabelos anelados (os dela, pelo menos). Fico imaginando ela criancinha, recebendo a Susie. Eu tb adoro cabelos anelados. Ela diz q é só pq eu não tenho, pois se tivesse eu ia ver só.

Bjs

Alice disse...

GENIAL! Amei sua idéia de postar as fotos dos brinquedinhos de infancia. Não tenho mais quase nada, dei todos para um orfanato que tinha aqui perto de casa. Mas eu tinha um Meu Bebe e chupa essa manga: Eu queria a versão menina, minha mãe bateu perna e não achou, as meninas haviam esgotado. Boa mãe que era a minha, não queria me deixar sem presente no Natal e teve uma grande idéia: Comprou o menino e furou-lhe as orelhas, pq era a única coisa, além das vestes, que diferenciava o Meu bebe menino da menina. KKKKKKK Só percebi isso anos depois!!!

Isabele disse...

q texto deliça, pra ler um sorriso bobo. Tb tive um bebê da estrela e minha avó comprava roupas de crianças para vesti-la. Eraum máximo. Eu passava o dia brincando e ela acompanhava todas as minhas atividades. Quando eu para o trabalho (escola) ela ficava no colégio tb heheheh. O irmão dela era o Fofão, tão feio mas eu adorava :)

Angelica disse...

Eu também tive muitas bonecas quando era criança. Minha boneca favorita chamada Lola e teve roupas de festa e cabelos ondulados. Eles são ótimas lembranças. beijo