terça-feira, abril 01, 2008

Dia da mentira, irmão de verdade.


Hoje é aniversário do meu irmão Marcelo. Chehéio. Mechéio. Meu irmão mais “diferente”. O único a ir pra Exatas – eu, como vocês sabem, mal conto meus dedos da mão. Ele é Agrônomo. O que sempre morou longe – Universidade Rural; depois trabalhou em uma fazenda em Vitória, ES; depois em Campos de Goytacazes, norte do RJ e atualmente faz doutorado na ESALQ/USP, em Piracicaba, SP. O único que tem filho – filha, minha querida sobrinha Paulinha. É sempre o último a chegar, o primeiro a sair e o que, às vezes, nem vai. Toda viagem pra ele demora mais de dez horas. Ainda mais agora, que vai toda a família junto.

Marcelo veio ao mundo no dia em que João Goulart era deposto pelas tropas militares. Minha mãe se lembra de estar em trabalho de parto já e meu pai entrar na sala dizendo que tinham deposto o Jango – na hora das contrações, uma questão bem mais secundária, diga-se de passagem.

Fisicamente ele se parece mais com Formiga Irmã. São o mesmo tipo: cabeleira vasta, escura (que fica branca cedo) e ondulada. Testa curta. Dentes muito brancos, bonitos e frágeis. Pele seca. Olhinhos pequenos. Mas ele é o mais bonito de nós. Sem sombra de dúvida. Ele entra nos lugares e as pessoas se viram para vê-lo passar. Dizem que ele parece com o Richard Gere. Na verdade ele é muito mais bonito que o Richard Gere. Eu até colocaria uma foto dele aqui, mas ele é muito discreto. Não gosta de chamar a atenção – talvez porque já chame sem querer. Ele se veste discretamente.

Se eu tivesse que definir meu irmão em uma palavra ela seria coragem. Ele é a pessoa mais corajosa que eu conheço. Ele morou um ano em uma cidadezinha minúscula do Maine, Estados Unidos, que nevava a maior parte do tempo. Aliás, ele sempre morou não só longe de nós, como em locais isolados e inóspitos. Ele saltava de asa delta. Ele aprendeu a surfar depois dos 30. Foi pra Costa Rica numa viagem em que acordava as três da manhã pra surfar. Hoje em dia pra onde ele vai seguem a prancha e a cadeirinha da Paulinha. Meu irmão ama praia. Quando ele voltou do intercâmbio nos EUA ele estava barbudo e mais forte e eu “estranhei” ele. Eu tinha cinco anos.

Quando eu era criança, minha casa tinha (ainda tem) uma escada no quintal. Eu e meus primos brincávamos de ver quem conseguia pular do degrau mais alto. Meu irmão Marcelo pulava do último. Ele era muito grande. Ele fazia vitamina e tomava direto do copo do liquidificador. Ele sempre comeu muito, mas nunca engordou. Ele jogava basquete com o meu pai, no clube, nos finais de semana.

Meu irmão só tem medo de dentista e de tirar sangue – duas coisas que eu adoro, vejam só. Ele sua até frio quando tem que ir ao dentista.

Meu irmão sempre teve gosto e paciência para coisas detalhistas. Tinha mentalidade de cientista desde cedo. Tinha o kit “Meu pequeno químico”, gostava de ficar horas brincando com coisas pequenas, enquanto meu outro irmão sempre foi mais expansivo e estabanado – bom, eu não me lembro, porque ele é 12 anos mais velho que eu, mas é o que dizem. Meu irmão Marcelo sempre foi o “jeitoso”. Se você precisa montar alguma coisa, ele é a pessoa certa. Engenheiro. Meu irmão Marcelo foi quem me apresentou Stephen King. E Pink Floid e Led Zepellin e rock progressivo que ele sempre adorou (esse último eu nunca gostei muito). Quer dizer, ele nunca me apresentou. Ele ouvia/assistia e eu tava sempre por perto. Observando. Meu irmão não me deixava ver o Chaves. Meu irmão canta e sabe tocar guitarra, baixo e violão. Junto com meu outro irmão, tinham uma banda, como todo garoto nos anos 80. Meu irmão fazia quarto de tortura com as bonecas de Formiga Irmã. Arrancava suas cabeças – das bonecas. E também fazia experiências fotográficas, do tipo colocar uma fronha branca na cabeça de Formiga Irmã contra um fundo branco e tirava fotos, pra ver se ela apareceria sem cabeça na foto. Evidentemente só saía uma pessoa com uma fronha na cabeça. Ele também dava beliscoezinhos na minha avó. É, meu irmão era “mauzinho”. Pequenas maldades infantis. Meu irmão é simples. Muito simples. Eu me lembrei muito dele vendo o “Na natureza selvagem”. Ele tem hábitos simples. É capaz de viver com muito pouco. Gosta de dormir cedo, acordar cedo, comer nas horas certas. Meu irmão gosta muito de comer e também sabe cozinhar. Gosta de tudo, mas adora peixe e carne. Sempre com arroz, feijão e salada. E adora chocolate. E sorvete. Meu irmão é um bom pai. Meu irmão se parece com o meu pai. E também com o pai do meu pai, que era mágico, pintor e fotógrafo, dentre outras atividades. Dizem que eu pareço muito com o meu irmão. Eu e meu irmão somos do signo de Dragão no horóscopo Chinês. Meu irmão às vezes fala que a minha infância foi mais fácil do que a deles quatro, morando apertados em um apartamento em uma fase de vida apertada financeiramente da nossa família. Eu, ao contrário, cresci em uma casa grande, com meu pai trabalhando menos e me dando muito mais atenção. Meu irmão diz que eu nunca tive que dividir uma lata de leite condensado. Ele e meus três irmãos tinham que dividir milimetricamente a lata de leite condensado em quatro.

Eu daria tudo para ter dividido uma lata de leite condensado com eles.

Meu irmão acha engraçadas as nossas – da área humana - teses e dissertações. Meu irmão é engenheiro. É prático. Conversando com ele eu aprendo sobre o meu objeto. Meu irmão vai pro laboratório todos os dias ver os experimentos dele. O objeto dele pode morrer a qualquer momento. O meu também, só que no meu caso não importa. Eu trabalho em casa. Meu irmão tem a pele curtida de sol – da lida no campo e do surfe. Meu irmão já tem pequenas rugas ao redor dos olhos e cabelos grisalhos. Meu irmão às vezes não presta atenção no que a gente fala. Fica voando no mundo dele. Ou, quando você acha que ele não está prestando atenção ele solta uma gargalhada ao ouvir alguma coisa que contamos. Meu irmão me explica coisas sobre os legumes e verduras e transgênicos. Meu irmão é muito inteligente. Meu irmão estuda côco. Fitotecnia, é a área dele. Eu acho. Já minha cunhada fez Zootecnia e estudou galinhas. E porcos. Eu acho muito engraçadas as teses deles. Meu irmão filma as birras da minha sobrinha e mostra pra ela: “olha que feio que o neném fez!” e ela fica olhando, espantada, como se aquilo não fosse com ela. Meu irmão é muito engraçado. Meu irmão é bastante mal humorado, também. Como eu.

Meu irmão é único e especial e hoje faz 44 anos. Eu amo muito o meu irmão. Meu irmão lê este blog. Parabéns, Chechéio. Meu imão Mechéio.

10 comentários:

Tati Tatuada disse...

Nossa Carrie, se eu que nunca vi seu irmão me emocionei com suas palavras, ele, com certeza, vai se debulhar em lágrimas.
Parabéns para ele, beijo para você.

Bárbara Anaissi disse...

linda e emocionante declaração de amor... bjs

Rozzana disse...

Puxa vida, lindo post. Fiquei emocionada. Um belo presente de aniversário... : )

Juninho disse...

Aline, você me fez chorar com seu texto. Não precisava ter dividido lata de leite condensado com eles não, basta ter dividido este texto com a gente, já valeu a pena. Um beijão pra vocês e parabéns aos dois, a você pelo texto e ao Marcelo pelo aniversário. Do primo Juninho.

trinity disse...

Carrie,

nossa q texto! Eu não tenho irmãos e poucas vezes senti falta de um.
Mas com este post, eu fiquei com vontade de ter uma irmã inteligente pra escrever sobre mim(só coisa boa é lógico).
Legal q no final do texto vc "fala" sobre a atitude do seu irmão em filmar sua sobrinha parece coisa de Michael Kyle.

PS1 - Parabéns para seu irmão!
PS2 - Agora seu nome tá fácil e eu tive q fazer maior pesquisa no Goole.

Bibi disse...

Que texto lindo,
Parabéns, meu irmão querido!!!
E obrigada Aline, por me fazer voltar no tempo e ver como a nossa família é especial.
Bezo,
Bb

Camille disse...

Afe. Eu fiquei me lamentando muito pelo seu irmão já ser casado. hahahaha

Júlio César Meireles de Andrade disse...

Só voce mesmo pra escrever uma boniteza dessas.
Gosto muito do Antônio Cândido sim, apesar de ter lido pouca coisa dele.
Um abraço

Carrie, a Estranha disse...

Bigada, pessoas todas...

Trinity, vc pode me perguntar ao invés de perguntar pro google, q eu respondo.

bjs

Marcelo disse...

Obrigado Aline pelo seu lindo texto. A despeito dos elogios exagerados, você mostra o quanto de amor tivemos em nossa família.
Beijos,
Marcelo