(Se você não acompanhou a “saga cachorrinho”, leia debaixo pra cima).
Graças a dica do Alexandre no post abaixo, achei uma clínica veterinária/pet shop que faz doação de cachorrinhos e gatos e, consequentemente, aceita doações também. Eles cobram apenas uma taxa de ajuda de 35 reais (única) e aceitam os animais e os mantém até alguém se interessar. Conversei com a veterinária e dona, uma moça chamada Fernanda, com uma carinha ótima, que disse que sempre passa gente, vê e se interessa. E que ela já tinha recebido um aviso sobre cachorrinhos abandonados perto do Banco do Brasil, que ela tinha ido lá, mas não achou nada; se eram esses, eu disse que não. Pensei: ela deve ser uma boa pessoa, então.
Comprei vermífugo, dei pra cada uma. Durante a ida botei-as todas em uma caixinha com a toalha que elas dormiram. Expliquei-as que alguns adultos são imbecis. Não, não é minha mãe que é imbecil por não tolerar animais. Minha mãe está no direito dela. Na casa dela. A casa que eu moro no Rio, apesar de sozinha, também é dela. As pessoas têm todo o direito de não gostar das coisas. (Eu, por exemplo, não gosto de pessoas). A imbecil sou eu. Por ter 31 anos e não ter uma casa própria e ainda morar “di favô” na casa, a rigor, dos pais. Expliquei-as que alguns seres humanos adultos são retardados pra algumas coisas. Que eu tenho capacidade de fazer várias coisas legais (eu acho), mas não de adotar uma vira-latinha que seja – nem de dirigir, nem de administrar minha conta bancária, nem de manter um peso razoável (isso está mudando), nem de manter um relacionamento razoável (isto NÃO está mudando); ou seja: fazer coisas do mundo dos adultos. Que eu sou uma completa incompetente para aspectos da vida prática. E que apesar da casa enorme, com quintal, área de serviço, jardim de inverno (onde elas ficaram) que elas tinham passado a noite, com lugares variados pra elas morarem, com um vigia pra dar comida quando as pessoas viajassem, sem problemas de vizinhos colados que escutam os latidos, a casa não era minha. Logo, eu nada podia fazer.
E que um dia, quem sabe, quando eu tiver uma casa – não o Sonho da Casa Própria, que isso eu acho que nunca vou ter, bem como carro, marido, filhos, vida estável bla bla bla; mas tudo bem, eu não me importo; uma casa que seja minha – eu adotarei um “irmãozinho” delas. Até lá eu decidi que vou me voluntariar na Suipa do Rio e na SPA daqui de VR, pra dar banho ou fazer outras coisas. Quem sabe, por exemplo, contribuir com dinheiro, pois eles aceitam até valores a partir de 5 reais. Afinal, é muito egoísmo da minha parte querer cuidar apenas de cachorrinhos que eu vou ter. E vou aproveitar os cachorrinhos dos meus amigos.
Elas me olharam meio tristes e as duas que eu achei que gostavam mais de mim me lamberam a mão, dizendo que entendiam, pra eu não ficar triste, enquanto a outra, a mais arredia, me olhava sentada num canto da caixa dizendo: “Fala sério! Você tá me gozando, né?”.
Pedi desculpas por não poder ficar com elas, mas disse que eu fiz o meu melhor. Dentro da minha imbecilidade e incapacidade eu fiz o que eu pude. Pedi desculpas por esse “tudo” ser tão pouco – mas isso não era privilégio delas, era pouco pra mim também. Tirei-as da rua, dei um abrigo por uma noite, liguei pra deus e o mundo atrás de um lar, tentei tratar da melhor forma que eu conhecia. Vi o quão grande e generosa é a comunidade de pessoas que se importam com cachorros. Vi que os cães, assim como os humanos, dependem de sorte e de pessoas boas que achamos pelo caminho.
Ao chegar na vet, a marrentinha cravou as unhas em mim e tremeu, como quem diz “Epa!Era sério mesmo?”, mostrando que a marrentice era só fachada e que ela era a que menos queria se separar de mim. Segurando-as no colo, pude perceber seus coraçõezinhos agitados, pulsando sob a minha mão. A Fernanda, veterinária, colocou-as em uma gaiola com a plaquinha “doa-se”. Um gato siamês chegou lá, com a superioridade felina, dando uma olhada nas novas hóspedes, se esfregando em mim e perguntando qual a história delas. Disse que mais tarde elas mesmas contariam a ele e que, se possível, ele fosse amigo delas durante a (espero) curta estada rumo a um (bom) lar definitivo. Pedi pra moça colocar a toalhinha que elas tinham dormido, afinal era uma referência de casa pra elas, ainda que precária. Elas se enroscaram no canto da gaiola. A moça disse que elas iam ficar um pouco assustadas com os ônibus que passavam - a loja fica bem perto da rua. Falei pra elas que tudo ia ficar bem, que São Francisco de Assis ia ajudá-las a encontrar um lar bem bacana, de pessoas que talvez estivessem precisando mais de um cãozinho do que eu. Pois talvez o meu cãozinho ainda não tenha chegado.
Saí com 50 reais a menos (35 da taxa, 15 do vermífugo que eu comprei antes) e o coração apertado. Chorando um pouco por elas, mas muito mais por mim. Talvez o meu papel na vida delas tenha sido apenas o de livrá-las da rua e da morte por abandono. Elas tiveram um papel muito mais importante na minha. Ficaram apenas 24 horas, mas me mostraram o quão errada está a minha vida.
Muito obrigada a todas as pessoas que deram dicas aqui de como cuidar, o que fazer (Suzana, Bella, Trinity, Bia/Cristiano, Jussara, Bárbara, Natália, Patrícia do Rio, Patrícia – que é do Rio, mas é outra; Anna V) e em especial ao Alexandre.
UP DATE: o nome da veterinária é Fernanda Ribeiro González. A clínica/pet shop se chama "Pequenos Animais". Av. Paulo de Frontin, 953. Aterrado. Volta Redonda/RJ. Tel: 3345-0642/98249306. Consultas. Vacinas. Cirurgias. Transporte. Pet-shop. Banho e Tosa. Hospedagem. Adestramento.
22 comentários:
Em primeiro lugar foi maravilhoso o q vc fez por essas "menininhas" e eu não achei pouco não. Agradeço muito a DEUS por ter pessoas boas assim com animais!
Em segundo eu estou chorando por este post, a descrição da entrega das meninas me comoveu ( sim, eu choro por td).
Ai, Carrie, eu tô segurando o choro aqui também. Como eu já disse, com bichos eu nunca vou crescer. Eu também sou muito incompetente pro mundo prático, faço um esforço enorme pra tentar controlar a minha conta bancária, pra tentar deixar as coisas arrumadas, pra lembrar onde está o quê (agora mesmo não sei onde guardei o carnê do IPTU que tenho que pagar). Eu diria que essas cachorrinhas tiveram muita sorte de estar no seu caminho, imagina o que seria delas sem vc.
Patricia do Rio
Nossa,! Post emocionante!
Carrie,
Pelo menos vc as recolheu da rua e deu mais uma chance pra elas viverem. Acho que pra vc pode ter sido pouco, mas esse pouco foi suficientemente muito pra mudar algo em vc. Por isso eu digo, se a gente prestasse mais atenção aos animais, no comportamento deles, com certeza as pessoas seriam melhores, teriam melhores sentimentos e o mundo não seria esse caos.
E tenha a certeza de que quem adotar essas 3 fofurinhas será por amor e cuidará muito bem.
Quanto ao seu futuro animalzinho, não se preocupe, quando for a hora certa virá um em especial pra vc. Acredite! =)
Bjooos!!
Ah! Outra coisa...de nada! rsrs
A gente q agradece esses posts q fez sobre o encontro com as cadelinhas e que terá um Final Feliz sim!! ;)
aiiii, eu chorei pra cacente agora....espero que vc esteja bem.sei lá se issio é possível.fica forte aí.beijossssssssssssssssssss
oi, carrie, realmente tocante seu post, não fica assim não, vc fez o que pôde e qualquer relação com animais é sempre muito forte, deixa marcas. Você não é incompetente, poucas pessoas na sua idade têm um lugar próprio para morar, que bom que seus pais podem te oferecer um apartamento no Rio, vc deve retirar energia disso para criar seu próprio espaço, sua própria vida, como vem fazendo, aliás. Enfim, carrie, fique firme, coragem, tudo vai dar certo, e muito dessa aflição vem da tensão pré qualificação.
um abraço,
clara lopez
Obrigada, Carrie, por me fazer ter uma crise de choro em plena sexta feira à noite!
Mas falando sério, coisa linda isso q vc fez por elas, coisa linda q elas fizeram por vc.
Mtos beijos!
ah poxa, o q dizer dps de todos esses comentários?
fiquei trsite com o post pelo fato de vc querer, mas não poder mantê-las. ao msm tempo, feliz por vc as ter ajudado. com certeza terão um futuro mto diferente e melhor agora.
bjks
Trinity,
Nem me fale em choro...
Patrícia,
Olha só, mas vc tem IPTU...tá melhor q eu! ;)
Natália,
Ah é. O modo como a nossa sociedade lida com os animais - e com o meio ambiente como um todo - é o resultado de como tratamos a nós mesmos.
Karina F,
Ai, vc tá muito sumida, hein menina? Dona Belitcha ainda não me deu sua carta (tb não to encontrando com ela).
Clara,
Muito obrigada pelas palavras sempre gentis e generosas q vc me destina. Sim, eu ando muito tensa, tb.
Qto ao lance da "Casa própria"...sei lá. Tenho amigas da minha idade que tem casa - e nem são ou foram ricas. Tenho amigos muito mais velhos q nem empregos têm...tudo é muito relativo, né? Mas a gente se compara...
B.,
Bigada. De coração.
Bella,
Tô mais ou menos. Olho inchado de chorar.
Bjs a todas e muito obrigada!
Legal, Carrie. Infelizmente não deu para ficar com os bichos, né? Mas o local que você deixou é muito bem recomendado. Estou sempre escutando falar de alguém que pegou um cachorro ou gato lá pra adotar. Há,felizmente, pessoas como esta veterinária que fazem um trabalho legal com os bichos. MAs não se culpe e nem se preocupe, logo as cachorrinhas estarão com donos legais.
ai!
oi, carrie, acho que nessa faixa de idade quem tem um imóvel no rio e comprou com dinheiro de seu trabalho (ou seja, sem uma ajuda substancial dos pais), mesmo financiando uma parte aos bancos, só mesmo se estiver no mercado financeiro, no setor de vendas, gerenciando negócios, por aí. Sua área é mais complicada (a minha tb, letras, imagina quanto tive de trabalhar para comprar o meu), paga mal e vc vai precisar fazer um concurso, talvez, no futuro. Mas nesse momento fica calma, faz uma ótima qualificação (será, tenho certeza) e termina essa tese, essa é a prioridade, não?
Grande abraço pra você, força aí,
clara lopez
ps. depois que vc defender talvez eu conte minha estória com os pássaros, quando fazia a dissertação, e uma estória de terror com um gato recolhido no aterro, quando fazia a tese.
Carrie. Você fez mais do que seu melhor, você fez o que ninguém fez.
Beijos.
Tati Tatuada
vc fez muito, carrie. o q tem de indiferença com animais abandonados por aí... vc salvou as 3, emocionou a todos e tenho certeza q mexeu com as idéias de muitos sobre os animais. eles mexem com a vida da gente de uma forma q a gente nem imagina, né?
Clara,
Quero saber sim!
Tati,
Segundo comentário! Eeeeeba! Tá saidinha, hein? Agora ainda vai ter o terceiro no post ali de cima.
Bárbara,
É, pode ser...espero q sim!
Bjs
carie, foi só eu dizer que os jovens na faixa dos 30 ainda não compraram seu imóvel que o Globo de hoje (17/02) traz uma matéria informando que a maioria dos financiamentos habitacionais agora se concentram nessa faixa etária. Isso que dá falar do que não se tem certeza, né não? :) De todo modo, vc terá o seu tb, torço muito.
um abraço,
clara lopez
Hahahaha...olha q li o jornal, mas nem vi isso! É q aqui na província não chega o Morar Bem e deve ter sido lá que saiu.
Mas eu me contentaria em ter a Minha Casa, mesmo alugada. Contanto que fosse só minha.
Bjs
Darling, que vermífugo você deu a elas? Foi a vet que receitou?
Elas vão ficar dentro da gaiolinha esperando alguém se interessar?
Não quero ser pessimista, mas existem muito mais cachorros para serem adotados do seres humanos adotantes. Infelizmente o abandono animal é uma realidade muito cruel. Tenho dois viralatas que adotei na SUIPA e participo ativamente da proteção animal.
Espero realmente que elas encontrei famílias amorosas que cuidem delas com carinho. Elas me pareceram ser Rottlatas,ou seja, rottweiller com viralata.
Obrigada por tê-las tirado da rua, Carrie! Que pena que sua mãe ainda não descobriu que os animais são muito superiores aos humanos e que conviver com eles é um privilégio.
beijos
Cosnis, emocionante. Estou com os olhos embaçados e um nó na garganta.
Me senti lendo a história do Miguilim!
Um abraço
Aline,
Fiquei muito emocionada com o seu depoimento. Nem todas as competências se relacionam com praticidade e, com certeza, vc tem muitas. Aliás, vc é uma pessoa muito especial que é muito importante para mim, de coração. E a quem eu quero sempre ajudar, já que tanto me ajudou nos momentos mais difíceis - mesmo que do seu modo (rsrsrsr).
O bom da vida é justamente sua imprevisibilidade: nunca se sabe as voltas que ela pode dar e onde vai parar. Acredite, a sua ainda te levará para bons caminhos, justamente por suas outras competências que não as práticas; por seu coração enorme, por sua vontade de vencer desafios, por sua displina e dedicação e, principalmente, pelas suas incessantes reflexões e questionamentos. A verdadeira sabedoria está na dúvida e não na certeza, não é mesmo? Continue assim, tendo dúvidas e apostando no possível, no provável e no improvável que pode acontecer em sua vida. Um grande beijo.
Marcia,
Foi o q eu pude fazer...
Primooooo,
Eu não sei a história do Miguilin!!!
Pat,
O meu modo de ajudar é ainda muito pouco. Mas a minha intenção é a maior do mundo. Obrigada.
Bjs
Carrie, não estou desmerecendo, nem criticando o que você fez. Você foi super! A maioria das pessoas passaria direto da caixa com cachorrinhas e nem se preocuparia com seu destino. Você fez muito! Gastou dinheiro, se indispôs com sua mãe, levando as cachorrinhas para a casa dela, se ocupou e se preoucupou. Só fiquei pensando se a veterinária vai se empenhar mesmo na adoção das bichinhas. Mas talvez no interior seja diferente, e eu esteja impregnada de pessimismo de cidade grande.
beijo
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