domingo, janeiro 27, 2008

Réquiem sobre o nada


“Posso explicar uma porção de coisas, mas não posso explicar a mim mesma” – respondeu Alice à Lagarta
(Alice no país das maravilhas, Lewis Carroll).




Domingo de lassidão, passado da rede (e da Rede) pro quarto, do quarto pra TV e de pequenos trabalhos concluídos. Pequenas vitórias internas. Domingo de pontos finais. Preguiça. Particularmente aquela. Do mundo. Preguiça de explicar pra quem nem sequer entendeu a pergunta. Preguiça de explicar que as respostas e soluções não me atraem. Só as perguntas. Que estão sempre mudando. Eu simplesmente não trabalho nesse diapasão. Minha escala é outra. Eu não faço nada, o que já é muito. Não, eu não acredito no diálogo. Eu não quero debater idéias. Eu não discuto a relação. Eu acredito nos silêncios, no não-dito, no intervalo entre o que se disse e o que se sentiu, no espaço de tempo em que a lágrima ficou suspensa até cair como um soldado se rende na frente de batalha. Eu não me interesso por desembainhar a espada, mas pelo momento em que ela é jogada no chão e os dois adversários desistem. Eu acho que “os bravos são escravos/ sãos e salvos de sofrer”. Lutar pra mim não é isso. Vencer não é isso. Deixem que pensem o que quiserem. Afinal, eu sempre digo que sou péssima, que é pra ninguém ficar triste quando eu as decepcionar. E no fundo eu sou mesmo. Porque todo mundo, de fato, é. Não. Me desculpem. Me nego. Não vou ser assim só pra ser legal. Não vou ser legal só pra agradar. Não vou dizer o que esperam. Eu acredito demais na existência do mal e do aleatório (não que eles sejam sinônimos) para esperar respostas e explicações e pedir coerência das pessoas (mentira, eu ainda busco coerência nas pessoas; ainda não cheguei a esse grau de desprendimento, mas tenho esperança). Alguns de nós, seres humanos, estão ocupados demais em sobreviver. Não o sobreviver das contas a pagar, prestação do carro, rugas, botox, trabalhos a cumprir e filhos a criar. O sobreviver de respirar sem doer. O sobreviver de dar o próximo passo – e há gentes que nunca entenderão isso, nunca, nunca, nunca... De fazer as coisas valerem a pena do seu jeito, ainda que não seja o jeito certo, ou o jeito que todos esperavam que fosse, nem o jeito que você poderia ter feito, mas foi o jeito que deu naquele momento. Eu só vou até onde eu consigo. E eu não espero que as pessoas entendam (mentira, eu tento não esperar, embora ainda não consiga). Há também pessoas que simplesmente não querem entender. Porque entender significaria abrir mão de serem o que elas são. E eu, meus caros, como vocês sabem, não tenho nenhum pudor de abrir mão, pois eu nada sou (verdade). Já desisti de ser aquele bloquinho de cimento. Não sou um perfil de orkut. As pessoas não são bloquinhos. No mais, me recuso a atirar pérola aos porcos (infelizmente meu grau de tolerância só chegou até mim). Domingo de silêncios. Sequer ouvi o som da minha própria voz. Não saí de casa, não vi ninguém. Domingo de ler jornal de ontem, pois o mundo acontece muito rápido e eu estou atrasada, como o coelho da Alice. Estou atrasada em relação a minha própria vida – ou foram os relógios que pararam? Quem está contando o tempo? Só que ao invés de correr como ele, às vezes eu dou uma de lagarta. Domingo de friozinho atípico para o mês de janeiro no Rio. Domingo de poucos movimentos. Domingo de comidinhas feitas em casa.

O dândi, caríssimos, sou eu. Às vezes a firula toda é só rebeldia. Às vezes a rebeldia é só firula. Às vezes é “só” escapismo (como se fosse pouco). Às vezes a gente opta pela pílula azul e nem ela faz efeito. Às vezes é só isso mesmo. Às vezes parece uma coisa e é outra. Às vezes parece uma coisa e é mesmo. É, acima de tudo, espanto. Não se enganem com o ar blasé. O blasé é só a capa.

4 comentários:

Stella disse...

"Afinal, eu sempre digo que sou péssima, que é pra ninguém ficar triste quando eu as decepcionar."
Okay, sabe quando você lê algo e sente como se aquilo também fosse você? Então. E concordo, sou péssima mesmo. Não é modéstia, como vivem pensando que é.

"Alguns de nós, seres humanos, estão ocupados demais em sobreviver. Não o sobreviver das contas a pagar, prestação do carro, rugas, botox, trabalhos a cumprir e filhos a criar. O sobreviver de respirar sem doer."
Eu acabei de falar isso com um amigo meu que está todo choroso por causa de um rompimento. Estranho como as pessoas simplesmente não aceitam que pra seguir em frente precisam sofrer um pouco. Que "nem tudo são flores".

"Há também pessoas que simplesmente não querem entender. Porque entender significaria abrir mão de serem o que elas são."
Passei anos da minha vida achando que todos tinham obrigação de me aceitar do jeito que sou. Que tudo tinha que ser dito na cara o tempo todo. Até que percebi que eu precisava entender que os outros não tem nada a ver com a minha vida. Quem sofre a reação da ação sou eu mesma. E ponto final. A única que tem obrigação de me aceitar do jeito que eu sou, sou eu mesma.

"Às vezes a firula toda é só rebeldia. Às vezes a rebeldia é só firula."
Pois é.

"Não se enganem com o ar blasé. O blasé é só a capa."

Não poderia terminar melhor.
Adorei.

Carrie, a Estranha disse...

;)

Andrea disse...

Essa dândi vai flanar amanhã no aniversário do HTP?

Carrie, a Estranha disse...

Estou estudando a possibilidade.