quinta-feira, setembro 20, 2007

Conversas de portaria II


Hoje me dei conta de que sou a rainha das velhinhas do meu prédio. Todas me adoram, me chamam pelo nome quando eu nem mesmo sei quem são. Acho que elas se identificam com Dona Henriquetta, a entidade de 87 anos que me habita. Elas conversam sobre dores nas articulações, trocam receitas, ponto de cruz, previsões meteorológicas e combinam de ir ao pilates juntas. Sou ótima pra conversas de elevador. Aquelas que você tem que ter o timing suficiente de perceber que não vai durar mais do que os andares até seu apartamento.

No final do ano passado uma delas desejou tudo de bom pra mim e pro meu esposo no próximo ano. Como não minto para velhinhas falei que eu desejaria...ter um esposo no próximo ano. Daí seria mais fácil desejar tudo de bom pra ele.

Quando me mudei para este prédio havia duas velhinhas no meu andar – são quatro apartamentos por andar. A mais nova morreu logo. A mais velha morreu há pouco tempo, deixando apenas o sobrinho e o labrador. No outro apartamento mora um simpático casal de meia idade (eu preferia ser vizinha do Chandler e do Joey, mas tudo bem, life is hard).

Ao meu lado moram duas velhinhas portuguesas, irmãs, que acompanham aquele terço picareta do padre Marcelo Rossi na Rede Vida (um tal terço bizantino, que é meio fast food, pois você faz as coisas pela metade e ele gasta metade do tempo do terço comum. Eu sou a favor da volta da missa em latim e acho que o Ratzinger tá abrindo muito a igreja, mas alguém me ouve? Nãããão). Elas só me reconhecem inserida no contexto. Digo, só me reconhecem quando elas me vêem abrindo a porta. Se eu encontro uma delas na rua – quero dizer, a que anda – ela me ignora pois não associa a minha imagem a sua vizinha. Talvez isso se deva ao fato dela andar de olhos fechados e falando sozinha - talvez rezando - mas é só uma hipótese.

Esses dias uma delas esqueceu a chave do lado de fora. Aí minha mãe tocou a campainha pra avisar e ela veio atender de soutien, só com uma blusa em cima, sem vestir, porque achou que era o sobrinho – e, detalhe: atendeu a porta, no Rio de Janeiro, sem olhar no olho mágico.

Hoje desci com uma nem tão velhinha, mas bastante pancada. Ela disse que estava querendo meu nome completo e meu apartamento pra me convidar pra uma inauguração de algumas salas não sei onde. Disse que ia me dar o telefone de uma nutricionista ótima (me achou gorda, me achou gorda, me achou gorda). E não parava de falar. E estava indo na mesma direção que eu. E decidiu que tinha que me dar uma carona de táxi.

Aí a coroa fez a festa. Perguntou o que eu fazia, com quem morava e coisa e tal. No final me mandou ir com Deus e coisas de praxe.

Depois fiquei pensando na quantidade de sogras – ou pretendentes a sogras – que me adoravam. Eu sempre fui a nora predileta. Nunca namorei ninguém cuja família se opusesse ou “não fizesse muito gosto” do namoro. Eu sempre fui a namorada perfeita. Bem, pelo menos para as minhas sogras. Eu sou aquela que come a comida que elas fazem, adora, repete e lava a louça depois. Sou a que lembra de ligar e avisar que o filho delas resolveu ficar mais uma semana não sei aonde. Talvez seja esse o problema. Porque não adianta nada a família do seu namorado adorar você e a sua família. Não adianta nada você ser uma moça fina, educada, inteligente, culta, de boa índole, bons dentes, bons genes e ter paciência com crianças. Nada disso adianta. Os homens não querem nada disso. Eles querem o oposto do que suas mães querem.

A realidade é que no fundo, no fundo eu sou uma boa menina. Até demais. Correção: sou boa menina demais para os maus meninos e má menina demais para os bons, entendem? Preciso achar meu público alvo. No momento minha abordagem só agrada às sogras.

4 comentários:

Anônimo disse...

Lindos textos, Carrie, parabéns. Nem precisava a descrição que você faz de si mesma, sobre o sucesso com as sogras, pois isso transparece nos seus textos. Tolos os que não reconhecem e não valorizam esses "dotes".

Anônimo disse...

Carrie, cheguei aqui através dO Mundo Estranho da Roberta, do qual sou fã. Adoreeeeeei teus textos. Chorei de rir com o "Minha filha", porque é E XA TA MEN TE o que a minha mãe falava, quando eu morava com ela, ao me ver em frente da tevê vendo coisas bizarras.
Voltarei aqui mais vezes.
Um beijo pra você

Anônimo disse...

hahahaha! tá hilária hj vc!
andei meio sumida essa semana, to enrolada com mil coisas, mas to de volta! hehehe!
ahh, tb quero um esposo pro ano q vem! tá, não precisa ser tanto.. um namoradinho tá bom, esposo só daqui uns anos!
tb nunca tive probremas com sogras, mas daí a ser adorada.. nem tanto!
mas q coisa, né? eu pensei q eu era fofa! :-)
bjs

Menina de óculos disse...

Carrie....
Adoro seus textos!!!! Vc é ótimaaaaaaaaaaaaaaaaaa!!!!
bjss