terça-feira, agosto 28, 2007

Sem palavras


A blogosfera é estranha. Claro, o mundo é estranho e a blogosfera faz parte dele, então seria de estranhar se não fosse estranha. Nos faz depararmo-nos com situações que nunca experimentamos. Como por exemplo você chorar por uma pessoa que nem conhece.

Uma amiga anônima disse algo nos comentários sobre o blog da Fal. Fui lá ver e descubro que o marido dela morreu. Simplesmente teve um ataque epilético, uma parada cardíaca e morreu. Ia ser velado, cremado e enterrado hoje. O Alê. O Alexandre. Eu nem conheço a Fal, muito menos o Alexandre. Mas é como se conhecesse. Pois há cerca de um ano eu vou no blog dela, vejo as fotos, vejo os comentários dele em relação as coisas. Vejo os gatos, o cachorro Baco, a casa deles. Os livros. Soube que eles fizeram 8 anos de casados. Soube que passaram Natal e Reveillon em Garanhus, terra do Alê. Vi fotos de Garanhus. Que se amavam muito. Que ele era engenheiro. E, agora, nesse exato momento, ele já foi cremado. Nunca vou conhecê-lo pessoalmente.

E uma das coisas que sempre me chamava a atenção no relacionamento deles é que a Fal podia estar no auge da depressão, na pior, mas parece que ali dentro eles construíram um mundinho intocável e distante de tudo. Um mundo só deles. Me lembro que volta e meia ela falava algo do tipo: “eu é que não discuto relação. Vai que o Alexandre vê a roubada em que ele se meteu”. Os dois eram bonitinhos demais. Gordinhos. Bonitinhos. Fofos. Se amavam. E de repente. Puff. Esse mundinho se espatifa. E eu venho de novo com a minha velha teoria pessimista: não se pode ser muito feliz. É como se você tivesse uma cota de felicidade na vida. Gastou, acabou. Então às vezes é melhor ser mediocrizinho, poupar a sua felicidade, do que tentar ser feliz. Eu sei, é uma grande bobagem. Não faz sentido algum. Ignorem. É apenas uma tentativa patética de encontrar lógica no acaso. Essa sou eu. Tentando dar lógica ao caos. Como se ser menos feliz fosse receita pra viver mais. E, mesmo que fosse, como se valesse a pena.

Como diria um velho tio: pra morrer, basta estar vivo. Ou outro ainda: hoje em dia tem morrido gente que nunca morreu. E a gente chora porque sabe que, mais cedo ou mais tarde, seremos nós. Ou nossos queridos. E não há absolutamente nada que se possa fazer contra isso. Nada. Como diria o velho barbudo (não, não é Deus, por mais que queiram canonizá-lo): Tudo que é sólido desmancha no ar.

Tudo.

Deixo vocês com uma parte do livro do Marshal Berman, cujo título é essa frase aí de cima, (retirada do Manifesto Comunista, de Marx, o barbudo). O prefácio do livro de Berman é dedicado ao seu filho, de cinco anos, que morreu.



“[...] no mundo moderno, aqueles que são mais felizes na tranqüilidade doméstica, como ele era, talvez sejam os mais vulneráveis aos demônios que assediam esse mundo; a rotina diária dos parques e bicicletas, das compras, do comer e limpar-se, dos abraços e beijos costumeiros talvez não seja só infinitamente bela e festiva, mas também infinitamente frágil e precária; manter essa vida exige talvez esforços desesperados e heróicos, e às vezes perdemos. Ivan Karamazov diz que, acima de tudo o mais, a morte de uma criança lhe dá ganas de devolver ao universo o seu bilhete de entrada. Mas ele não o faz. Ele continua a lutar e a amar; ele continua a continuar”.


Para a Fal e todos aqueles que ainda conservam os seus ingressos. Que continuemos a continuar, apesar do espanto.

12 comentários:

Garota Enxaqueca disse...

Para que encontremos amigos não precisamos do espaço físico... E para vc já os considerava amigos... Não considero estranho e sim verdadeiro.

Sorte pra Fal...

Anônimo disse...

Sou uma amiga nova da Fal. Fiquei estarrecida qdo hoje soube da morte do Alexandre. Tb não o conheci e acho que nunca irei conhecer pessoalmente a Fal. Porém, o mais estranho em tudo isso é que, fiquei com muita pena do Baco, muita mesmo. Fal é uma mulher forte, com centenas de amigas que irão consola-la sem conseguir pq essas coisas só o tempo vai conseguir. Ela irá chorar, ter saudades, sofrer, sofrer muito, mas é gente, pensa, e o consôlo virá. Demora, já passei porisso, mas virá. Agora, pelo que ela contav a, o Baco era muito agarrado ao Alexandre, irá procura-lo pela casa e o que será que irá se passar no coraçãozinho dessa criaturinha de Deus? Desculpe, vc e as amigas, mas não posso deixar de me preocupar com ele.
E é com lágrimas nos olhos que eu digo: Fal, fique com Deus... com certeza Ele irá cuidar do teu Ale.

anouska disse...

nossa, carrie, que triste. eu não conheço a fal, passei raras vezes pelo blog dela, mas dava pra ver que ela era uma pessoa super pra cima. essas mortes repentinas sempre me tiram do eixo, mesmo que eu não conheça a pessoa. só de receber uma verdade dessas na cabeça - que pode acontecer com qualquer um - a gente fica meio sem chão. meus sentimento pra fal e para os amigos que amavam o alexandre.

Anônimo disse...

Carrie, continuo minhas visitas aqui, quase que diariamente. Nâo sei pq, meus comentários não passavam. Hoje, engasgada de tristeza pelo efêmero do sólido, venho aqui tb para me alegrar com as lindas e generosas amizades que aqui encontrei.

Anônimo disse...

Oi, Carrie, fui eu quem avisei. É que não tenho conta no gmail e também não tenho blog. Daí eu tive que ser anônima. Leio muito o seu blog, o da Fal, do da Vanessa Ornella e o da Cora Rónai.
É uma proximidade virtual. Estranha expressão, mas é isso.A gente se sente próxima de alguém que não conhece fisicamente.

bjs e bom dia. Andréa

Anônimo disse...

Não tinha terminado: amizades sólidas, que no entanto não desmancham.

Carrie, a Estranha disse...

Oi, Gente!

Agredeço todas as manifestações. Eu acredito nas amizades. E q elas são sim, sólidas, como disse Aliki. Sejam virtuais, epistolares ou de q forma for. Que nos abracemos virtualmente a fim de aplacar o espanto diante do inexorável da existência.

Um grande beijo e um abraço apertado no coração de todos.

PS: Andrea: vc pode se identificar mesmo não tendo contas. É só coloca "outro" e escrever seu nome.

Bjs

Andrea disse...

Eu também adoro o blog dela e , confesso, fiquei sabendo por aqui.

Já tinha me acontecido antes. Um amigo blogueiro - que eu tive a chance de conhecer dao vivo - faleceu e era muito duro ler as palavras dele assim, meio que jogadas ao vento naquele espaço, o perfil no orkut.

A Fal está no topo das minhas orações.

Anônimo disse...

Não tenho blog, mas adoro ler coisas interessantes, inteligentes e engraçadas. E claro que me sinto próxima dessas pessoas. Cheguei ao Drops da Fal por aqui e ontem fiquei chocada quando li sobre o A. ela tem uma família linda, e agora essa perda. Desejo que sua dor seja aplacada pelas boas lembranças que tenho certeza são muitas. Paz ao A.
Sandra Lee

SOFIE FATALE disse...

que bonito o que vc escreveu. gosto do fato de vc saber tão bem fazer rir, chorar e questionar o que passa ao teu redor. imaginei se alguma coisa acontecesse com a minha "marida" e como sofro quando ele chega um pouco mais atrasado, ou quando o celular não funciona...fico com medo que alguma fatalidade aconteça, que eu o perca...felcidade demais...exatamente como vc escreveu: "não se pode ser muito feliz. É como se você tivesse uma cota de felicidade na vida. Gastou, acabou..."
ou talvez, parafraseando Clarice, "tudo aconteceu por não estarem distraídos..."
Devo me distrair mais....beijos no seu coração de melão....

Anônimo disse...

Também fiquei muito triste com a morte do Alexandre... sempre visitava o blog da Fal, mas só por estes tempos tenho tido tempo de comentar bastante no LV e ontem topo com uma notícia dessas, nossa, fiquei passada o dia todo, só refletindo a respeito... cheguei a conclusão q nunca estaremos preparados.

Beijos.

Anônimo disse...

Não é estranho, não! a minha filha lê o seu blog e ontem à noite veio me perguntar se eu sabia e etc. Levei um soco! ela chorou! é assim mesmo: conhecemos, acompanhamos o dia-a-dia, enfim...sem palavras.
Do mesmo jeito q te imagino na Lapa, se esbarrando com a minha filha.
Não existe palavras nesse momento.
Rezei mto por ela ontem à noite.
Acho q quem lê a Fal, está de luto. É assim q me sinto.
Tudo de bom para vc, menina.
Beijos.