quarta-feira, julho 04, 2007

Burn, baby, burn!


Pessoas, assim como os cigarros, consomem-se em brasas, dores, alegrias, ódios; o fato é que viver é um eterno queimar-se. Combustão sem fim. Algumas são como puros havanas: demoram e devem ser degustadas em longas baforadas. Outras são rápidas como cigarros. Outras ainda entorpecem – e há, às vezes, as bad trips, very bad trips. Há as curtas; há os longos. De diferentes cores, texturas e aromas. Há pessoas e pessoas. Há cigarros e cigarros. E charutos. E cigarrilhas.

Há os que tentam economizar. Apagam o cigarro na metade ou fumam mais não tragam (eu desconfio de gente que não traga). Não sentem o gosto, a onda, o prazer, mas também não sofrem os males. Mas qual o objetivo de se passar uma vida com um cigarro na boca sem nunca acendê-lo?

A melhor forma de encerrar um assunto é vivê-lo até o final – mas o contrário não funciona: não é possível economizar certos sentimentos. Eles correm o risco de perder o gosto e o frescor, e se tornarem apenas um pedaço de papel mastigado e ensopado de cuspe no canto da boca.

Daí, depois de tragar e tragar, depois de se queimar - depois de implodir como um velho prédio condenado que rui primeiro pela base até caírem os andares um por um, só restando aos que estão ao redor olhar - um belo dia, do nada, você acorda e descobre que o terreno está limpo. Sem sequer você ter feito força pra isso – exceto, é claro, deixar queimar-se, deixar que as bombas implodam tudo pelos ares. Talvez apenas alguns escombros. Onde antes havia um cigarro, só cinzas. E cinza a gente sopra e ela some no ar. E parece que nunca existiu.

Felizmente ou infelizmente você esquece de tudo. E acende o próximo. E faz tudo de novo exatamente igual. Acha que não vai jogar todas as fichas, que vai economizar um pouco, que vai tragar menos, mas não dá. Quando viu, gastou tudo. Porque não há outro jeito (ou há?). E fica com um leve gosto amargo na boca. Então até mesmo esse gosto some.

Eu? Espero conseguir continuar queimando tudo até a última ponta. Ter forças para sempre acender mais um. Mas que cada um seja como se fosse novo e como se fosse último. Até que, por fim, eu me misture às próprias cinzas. Terei ardido. Assim como um cigarro, terei cumprido minha função. Do pó ao pó.

2 comentários:

Anônimo disse...

Não podia deixar de comentar. Analisando as coisas acho que sempre queimei tudo até a última ponta, e às vezes queimei parte mim junto...mas nada que não tivesse uma boa cicatrização e recuperação para queimar tudo outra vez.

Anônimo disse...

Puxa, acho que você tragou foi um baseado escrevende este post....super metafórico-filosófico...rsrsrsrs