Sofrimento é uma coisa estranha. Certas pessoas parecem que sentem um prazer masoquista em cultivar esse sentimento ruim. Vão se acostumando a senti-lo de tal forma que o ato de sofrer se confunde com a sua própria identidade, não lhe restando outra alternativa, aparentemente. Fica mais fácil ser assim do que tentar algo diferente. Sem contar que esse tipo de comportamento é uma espécie de cadeia feita de diversos elos, cada elo representando um sofrimento. Cada novo elo que se acresce à cadeia dá uma maior consistência ao todo. Por isso tantas vezes essas pessoas sofrem tanto a cada novo acontecimento, mesmo que ele não signifique nada de tão grande. Porque um novo elo nessa cadeia é a chance de se sofrer por todos os elos. Não se sofre apenas por aquele presente, mas por todo o passado e pelo futuro que se advinha.
Claro que a maioria das pessoas que são assim não se percebem como tal, pois se reconhecer como portador dessa moléstia é o primeiro passo para a cura. O portador é um dependente do sofrimento. Aproveita cada dor, mesmo que alheia, para expiar anos de frustração e resignação. Sofrer ocupa tempo e espaço. Tempo que poderia ser usado com a própria vida. Num movimento que é fruto dessa doença, o sofredor compulsivo acredita que não vivendo está lhe poupando a dor, quando é exatamente o oposto que acontece. Sofrer pelo não acontecido, pelo não tentado, o não experimentado, a não escolha é ainda mais amargo. Ao chorar pelo outro chora, principalmente, por si mesmo. Por isso anseia pelo novo sofrimento, pois ele é a chance de sentir legitimamente uma dor que na verdade não tem razão de ser. O mais triste é isso: o sofredor construiu castelos no ar. Descobrir, de repente, que todo seu sofrimento foi em vão (e há algum sofrimento que não seja em vão? Há coisas pelas quais se valha à pena sofrer?) e que nada se sustenta em pé pode parecer, à primeira vista, pior do que o próprio sofrimento. É lhe tirarem o chão. Ainda que o seu chão seja ladrilhado com falsos diamantes, é o seu chão. Certas pessoas preferem isso à queda livre.
Só que a vida real é queda livre o tempo todo.
2 comentários:
fala, Carrie!
agradecendo a mensagem de natal no comentário do meu post anti-natal.
valeu!
bom que meu natal foi, sim, o contrário: só alegria... e azia!
e que vc tenha um ótimo 2007... ou, pelo menos, "mais ou menos", com mais "mais" do que "menos"... he he he
bjs
uma vez alguém comentou comigo que tem uma frase (sobre isso) assim: "desce da cruz que tem alguém precisando da madeira"
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