Hoje seria aniversário do meu tio Guido, irmão mais velho da minha mãe, se vivo ainda estivesse. Ele morreu há cerca de 3 anos, acho. Depois de papai.
Tio Guido era uma pessoa muito, muito especial. Muito simples, apesar de desembargador do estado de Minas Gerais. Cercado de regalias e pessoas importantes, nunca deu muita bola pra tudo isso.
Lembro sempre dele, chegando na casa das minhas tias em Andrelândia, MG, de sobretudo preto, à meia noite, sempre dando susto nos outros. Tio Guido adorava histórias de terror e acho que, de certa forma, ele foi o responsável por me fazer gostar não só deste gênero, mas também das histórias de suspense e mistério. E também por um certo senso de humor negro. Quando eu era criança, dizia que ele era o tio que eu mais gostava. Isso porque sempre ele me dava sustos ou me colocava medo. Mas eu gostava. Justamente por isso eu gostava. Tio Guido testava meus limites.
Tio Guido parecia Humphrey Bogart. Cigarro do lado, cara dura e séria, sobretudo preto. Mas por dentro era um pândego.
Quando estava na faculdade, fiz um trabalho em que eu comparava Alfred Hitchcok a ele. Claro que ele adorou e depois que morreu vi que ele guardava vários trabalhos e textos meus numa pasta. Que honra. Um sujeito brilhante como ele que guardava os trabalhos de uma fedelha como eu. Apesar disso, acho que nunca tive a chance de expressar de fato meu carinho por ele. Queria ter dado mais textos pra ele e conversado sobre mais coisas.
Tio Guido sempre foi um dos melhores amigos do meu pai, quando este chegou pra trabalhar em Andrelândia, nos idos de 1950. Foi ele quem, inclusive, apresentou meu pai pra minha mãe.
Tio Guido trabalhava de madrugada. Sempre tomando café, fumando e no seu escritório. Aí dormia de umas 5 ao meio dia e ia trabalhar. No final da vida dizia que não precisava mais de dormir. Pulava um dia ou outro de sono. Sempre fumou muito e dizia que ia escrever um livro “Porque não parei de fumar”.
Tio Guido sofreu muitos golpes na vida, dentre eles talvez um dos piores tenha sido perder seu filho, Fabinho, quando este tinha 21 anos de idade, num acidente de carro. Na época eu tinha 14. Fabinho já havia quase morrido queimado com 7 anos de idade e era muito parecido com tio Guido. Achamos que Tio Guido envergaria, mas como disse Primo Poeta em certa ocasião, Tio Guido é madeira de lei. Não quebra à toa.
Fica aqui uma homenagem, simples porém sincera a uma grande figura da minha infância. Acho que ele gostaria de ler esse blog.
Tio Guido.
5 comentários:
Linda homenagem!!!!
como blogueira de carteirinha de histórias de família, achei linda a homenagem e, as lembranças gostosas que vc tem dele. que doido, como diz a mali!
mais uma vez vc fala de quem eu conheci ... me mostrou o outro lado do seu tio que eu nunca imaginei, pq sempre olhei para o magistrado, nunca pra pessoa...
Como assim, vc conhece meu tio??!! Marília, to ficando com medo de vc!!!
Muito lindo o post!!!
beijos
Lindo mesmo o texto, Carrie; me tocou, assim como aquele do seu pai.
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