segunda-feira, setembro 11, 2006

Gente estranha - parte I


Aviões são locais propícios para comportamentos estranhos. Acho que é a tensão. A ameaça de terrorismo só tem feito isso aumentar. Não que eu viaje tanto assim. Aliás, justamente em função da minha reduzida milhagem é que eu posso afirmar isso. Sempre tem algum maluco no vôo em que eu estou. Logo, acho que isso deva acontecer com freqüência. Eu me compadeço com pessoas e/ou situações estranhas e/ou bizarras (adoro usar e/ou). Afinal de contas, sempre penso que poderia ser eu.

Ontem, no meu vôo de volta ao Brasil, tinham várias pessoas estranhas além do socialmente aceitável. Duas em particular me chamaram a atenção. Vamos a mais prosaica delas.

Homem, branco, 1,85m aproximadamente, cabelos curtos e castanhos, óculos, calça jeans e jaqueta cinza claro (cinza “burro quando foge”). Dentes ligeiramente proeminentes. O sujeito andava de um lado para o outro no corredor, movendo os lábios e meneando a cabeça. Olhava passageiro por passageiro. Presumi que ele estava contando os passageiros. Talvez algum tipo obsessivo-compulsivo clássico aliviando o estresse de horas de vôo com um ritual repetitivo. Oquei. De repente ele senta e pega um livro grosso. Tira os óculos e começa a ler. Pronto. São as preces derradeiras antes dele se encontrar com Alá e levar o avião inteiro junto. Felizmente, pelo que podem notar, eu estava errada em minhas previsões. Agora vamos a figura realmente estranha.
Mulher, por volta dos 25 anos, aparentemente branca, magra, cerca de 1,68m, calça jeans, casaco cinza “burro quando foge” (a Al Qeda agora usa uniforme?!), luvas beges, touca de lã verde encobrindo os cabelos que pareciam curtinhos.

O comportamento bizarro chamou-me a atenção quando ela se levantou não pela segunda, nem pela terceira e muito menos pela quarta, quinta ou sexta vez, mas lá pela vigésima primeira – sim, porque depois disso eu parei de contar, mesmo sem ter nada pra fazer há limites pra certas coisas - em que ela se levantou pra ir ao banheiro. Às vezes ela ia no ninho das aeromoças. Se fosse só isso tudo bem. O pior é que ela passava abraçada a uma pasta de couro marrom. No início achei que fosse um laptop, mas logo descartei quando a vi com um mapa aberto e mostrando-o a aeromoças.

Quando ela resolvia voltar pra sua poltrona, ficava em pé ao lado dela. Mesmo nos momentos de turbulência em que a tripulação pedia pras pessoas ficarem com os cintos apertados. Achei que ia rolar um caso André Gonçalves básico, mas quando ela tava quase surtando, sentava e se acalmava.

De repente ela se levanta, guarda a pasta, pega uma super-necessaire e vai pro banheiro. Pronto! Alá, Alá, Alá meu bom Alá aqui vamos nós! Como deixaram essa psicopata embarcar com líquidos? Já preparava minha câmera enquanto imaginava minhas imagens sendo usadas muito tempo depois da explosão pela CNN, BBC...(finalmente eu seria uma correspodente internacional de guerra! Não me perguntem como a câmera sairia intacta. Isso seria explorado ao máximo pelos programas sensacionalistas do tipo “Amazing Vídeos” ou “Os dez maiores mistérios do terrorismo contemporêneo) quando, de repente, não mais que de repente, fui despertada do meu delírio. A mulher sai do banheiro sem a touca e...mulata! Como assim, Bial? Ela era mulata e só deu pra perceber quando ela tirou a touca?!

Formiga Sister, mestre ninja na arte de alisamentos, pranchas e afins, foi ao banheiro em seguida e volta dizendo que achou um vidro com um resto de tinta. Será que ela tinha pintado o cabelo? Alisado? Será que ela ficava com o outro amigo estranho no banheiro? Será??!!

O processo todo se repetiu durante o vôo todo. Ela passava, ora com sua pastinha marrom, ora com a nécessaire e a cada momento a gente achava que ela poderia sair loura, rastafari ou explodir tudo - mas nenhuma surpresa dessa natureza ocorreu.

Quando já estávamos quase pousando e os cintos deveriam ficar afivelados e coisa e tal, ela se levantou na mesma hora. Nesse momento a aeromoça deu uma chamada no microfone. Ela simplesmente pegou um ursinho de pelúcia – ah, é. Esqueci desse detalhe – e começou a gritar: vai me bater, vai me bater? Aí sentou e ficou fazendo gestos com a mão mandando a aeromoça – ou o resto do avião, quem sabe? – ficar quieto.

Acontece pouca merda no mundo, vocês não acham? Baseado na quantidade de pessoas insanas que existem...

Rapidinhas...

Vem cá, vocês se lembram quando aeromoça tinha que ser bonita, alta, magra – tinha um tal teste onde as pessoas ficavam reprovadas por centímetros – e falar várias línguas? Acabou isso, né? Só viajo com tribufu, monoglota que falam no máximo aquele inglês “Poderoso Chefão”: ai uil quiliu, ior sonofi de biti.


Tive excelentes oportunidades de começar meu hobby de quebra cabeças nessa viagem. Em todas as lojinhas de museus tinham quebra cabeças de obras famosas pra vender, de mapas...Só que, começar um hobby a 15 euros...dureza! Vou começar em real mesmo. Vai que eu detesto...

2 comentários:

Lara disse...

hahaha! Adorei a história da mulher bizarra. Realmente o mundo é muito estranho!

beijos

Anônimo disse...

Tb adorei o texto; se vc não exagerou, essas estórias são mesmo "de lascar"...