sábado, agosto 05, 2006

Fama em Gotham City



Estou novamente em Gotham City. Tá bom, vou parar com essa viadagem e dizer: Gotham City é Volta Redonda, a nossa gloriosa Cidade do Aço, cento e trinta e poucos quilômetros do Rio, a qual devemos a entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial ao lado dos Aliados – sim, porque se dependesse de Getúlio, que sempre foi chegado a um totalitarismozinho básico, entraríamos ao lado do Dulce e do Füher. Pois é. A gloriosa CSN foi construída financiada pelo governo norte-americano em troca do apoio de Getúlio aos Aliados. Em função disso, Voltão é uma cidade planejada. Mas não se trata de uma cidade planejada tipo Brasília. É planejada lindinhamente. Tipo o bairro em que eu cresci. Parece aqueles subúrbios norte-americanos com cerquinhas brancas e gramados verdinhos. Com a pequena diferença de que aqui o céu é rosa. E de vez em quando você escuta umas explosões, mas é só o alto-forno que deu tilt. E às vezes se escuta um barulho terrível, como se fosse um pterodátilo agonizando, mas é só o efeito do resfriamento de grandes barras de aço.

É bem verdade que com todas as pressões ambientais, a partir dos anos 90 a companhia foi obrigada a colocar filtros e reduzir a poluição – pra ganhar esses Isos sei lá da quantas. Mas, como diria meu sábio e velho pai, que veio pra cá em 1960, eu me preocupo quando essa poluição parar de existir, pois é daí que vem meu sustento. O fato é que foi a cidade em que eu cresci e só EU posso falar mal dela, ninguém mais. Tudo aqui faz referência ao aço – o McDonald’s daqui é o único feito totalmente em aço; vários estabelecimentos fazem trocadilhos infames com aço...enfim, mas é a minha cidade. E explica muito da minha personalidade também. Sou forjada a aço e ferro, mas isso não me fez fria e impessoal. Tenho meus bairros arborizados com cerquinhas brancas.

Hordas de imigrantes vieram pra cá e se Getúlio era o pai dos pobres, a CSN era a mãe – isso há muito tempo atrás, bem antes da privatização que demitiu milhares de funcionários e aumentou o nível de criminalidade na cidade. Uma Manchester sul-fuminense. Além disso, somos os judeus do vale do Paraíba. Após a Grande Diáspora que se dá por volta do vestibular, nos espalhamos pelo mundo e em qualquer lugar em que você vá sempre haverá um judeu, um flamenguista e um voltaredondense. Somos uma espécie de confraria, máfia; invisível, mas presente em todos os lugares do mundo. Mas nada disso vem ao caso.

Quero dizer que ontem experimentei a fama em Voltaço. Saí com Formiga Sister para pegar meu passaporte – sim, caros leitores, aqui em Voltão se faz passaporte e ele fica pronto muito mais rápido que no Rio lalalalalala...– e ela deu uma passada na escola em que ela trabalha. Formiga Sister agora é psicóloga e mestre, mas durante 10 anos de sua existência deu aulas. O único emprego dessa natureza que ela mantém é o de professora num supletivo do Estado. É um desses supletivos onde a pessoa não freqüenta aula, apenas vai lá, pega apostilas, tira dúvidas com professores e faz provas. O fato é que Formiga Sister tem o hábito de imprimir os textos de meu humilde blog e levar pra lá. E qual não foi a minha surpresa em descobrir que...eu sou uma celebridade no CES Paulo Freire! Já tinha ido lá outra vez e as pessoas elogiaram meu texto. Mas dessa vez conheci outras pessoas. Muito simpáticas também. Me senti praticamente um Paulo Coelho em noite de autógrafos. Pessoas se acotovelando para me ver. Tudo bem dêem um desconto de 50%. Ou 80%.

Depois disso fomos à uma livraria que eu sempre gosto de ir. Comprei Memórias do subsolo, um livro do Dostoievski que eu amo e nunca li inteiro. Tomamos um café. Ao sairmos da livraria minha irmã encontra mais uma colega de trabalho – sim, Voltão na verdade é um grande Lebrão, só um pouco mais cafona, talvez uma grande Tijuca; todo mundo se esbarra. Minha irmã me apresentou para a mulher que deu um leve sorriso. De repente a mulher pára e pergunta: você é a que escreve naquele blog? Respondi um humilde sim e fui imediatamente sufocada pela mulher que disse que tinha que me dar um beijo. Pronto. Selado o estrelato voltaredondense.

Mas voltando a falar desta escola que minha irmã dá aula, o mais revoltante é que a-nossa-governadora-cujo-nome-eu-me recuso-a-pronunciar fez o inominável com as escolas estaduais. Trata-se da porra do projeto Nova Escola, que tem várias medidas, mas que eu não entendo muito bem. O que eu quero destacar é que, por causa disso, o salário dos professores foi reduzido. Você já viu isso, caro leitor? Reduzir salário de professores do Estado??? Professor que já trabalha sob condições sub-humanas ser obrigado a ter seu salário, que já é uma miséria, diminuído? Só no Brasil e só no estado do Rio.

É por isso que eu digo sempre: quando eu e meu amigo Pink assumirmos o controle do mundo, professores do jardim de infância vão ganhar em ouro. Os de primário também vão ganhar bem e o salário de todos eles será bom, mas decrescerá a medida que for chegando a universidade – porque professor de universidade, como diz o Fernando Henrique, é tudo vagabundo - mas ainda sim será um ótimo salário. Mas enquanto isso não acontece temos que agüentar essa corja insana que acha que a educação pode ser tratada dessa forma. Perdoia-os, Senhor. Eles não sabem o que fazem.

18 comentários:

Anônimo disse...

Carrie,

Meu padrinho veio do sertão do Ceará, junto com o meu pai, para o Rio de Janeiro no ano de 1950. No Rio, meu padrinho estudou e formou-se em Física, e logo depois partiu para Volta Redonda, se não me engano no final dos anos 50. Passou a dar aulas aí, em vários colégios e também, se não me engano, num Instituto Politécnico ou numa Faculdade. VocÊ confirma se tem isso aí? É que eu não vou a Volta Redonda há cinco anos e nunca perguntei nada profissional para o meu padrinho. Bem, sei que metade de VR conhece o meu padrinho, que, é, inclusive, cidadão benemérito de lá, chamado Raimundo Pinheiro.
Digo isso por que eu sempre ía lá na infância, e nesta década fui lá uma vez para pedir para o meu padrinho ser meu fiador. rs
Ele mora numa rua bem legal, uma rua chique daí, só de casas. É uma cidade gostosa, agradável, porém muito fria à noite, inclusive no verão. E realmente a privatização da CSN fez crescer uma criminalidade que não existia mesmo nos anos 70. Uma pena.
Beijos,
Celso

Anônimo disse...

Outra coisa, que eu já te perugntei uma vez, mas você se recusou a responder, e não sei por que: você faz doutorado em História, pela UFF? Qu8al o tema? Eu me formei em História pela UFF e também em Direito pela Unirio. Eu amei estudar na UFF, nos anos 80, um barato lá. Fiz ótimas amizades que perduram até hoje.
Beijos,
Celso

Carrie, a Estranha disse...

Celso,

Ele deve ter dado aulas na Escola Técnica, q era, como o próprio nome diz, uma escola técnica cuja maioria q ali se formava tinha emprego certo na CS. Eu estudei a vida toda no Macedo Soares, colégio ali perto.

Não conheço seu tio, mas ele deve conhecer meu pai - que faleceu há 5 anos. Ele era médico, urologista, e trabalhou mais de 30 anos no hospital da CSN. Tb deu aulas na FOA - facudade de medicina - e no final da vida teve uma clínica ali na 33. O nome dele era Herberto Pereira. Ele era muito conhecido na cidade.


Eu não me recuso a responder, apenas acho q a minha proposta aqui é me manter um pouco no anonimato e de certa forma criar um personagem. Ou seja: viadagem e frescura no mais alto grau. Mas se gera tanta curiosidade... Não sou espiã da CIA. Mas se vc lesse meu blog atentamente ia perceber q em vários momentos eu falo q eu sou jornalista. E tb q já fiz teatro. E sempre falo de história...E sempre falo da UFF. Logo...fiz jornalismo e mestrado em comunicação na UFF e faço doutorado em história, tb na UFF. Trabalho c/ literatura e história, especificamente a obra de Rubem Fonseca.

Nos links dos blogs de outras pessoas, o primeiro deles, "meu blog antigo", é o outro blog q eu tinha no sistema Terra. Lá eu falo tb um pouco mais de mim.

VR fria? Fala sério! Quem me dera! É quase tão insuportavelmente quente qto o Rio (agora, por ex, estou com o ventilador ligado).

O q mais tem em VR são ruas agradáveis cheias de casa! Rsrsrs

Bjs

Anônimo disse...

Carrie, o que ocorre é que eu leio tanto, que as vezes confundo um pouco as coisas. E tenho lido, inclusive, muitio sobre a norma ISO 9001:2000, ehehehe. Aí sim, ninguém merece.
VR é muito legal sim. Tenho certeza de que meu padrinho e seu pai devem ter se conhecido sim, já que ambos eram tão famosos na cidade em termos de relacionamentos sociais. A CSN realmente foi um marco histórico na nossa industrialização, e foi uma lástima que a cidade naõ tenha suportado bem a privatização da companhia. Eu ía muito aí na infância, pois eu adorava a casa do meu padrinho. Ela ainda fica num bairro legal, que eu não consigo lembrar do nome.
Beijos, e desculpe por alguma confusão.
Celso

Carrie, a Estranha disse...
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Anônimo disse...
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Carrie, a Estranha disse...
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Anônimo disse...
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Carrie, a Estranha disse...

Celso,

Em matéria de cinema não sou assim tão cabeça qto vc. Acho q nunca vi filmes do Costa Gavras. Só o conheço de nome. Eu ia mais ao cinema.Hoje em dia vou pouco.
Bjs

Anônimo disse...

Então, não veja nenhum, por que você vai adorá-lo. Mas, se resolver assistir a algum do Costa Gavras, eu recomendaria de cara esse que já está nas locadoras, "O Corte", e talvez ainda esteja no cinema, e "Missing", o grnde clássico dele, um filmaço, sobre a história real do desaparecimento de um jornalista americano no dia do golpe militar de Pinochet. O filme é muito lindo e forte, com a trilha sonora de Vangelis.
Bem, eu amo cinema, e vou sempre que dá tempo. Não consigo curtir o circuitão, tenho predileçaõ por bons filmes nacionais, europeus e eventualmente algum norte-americano. Falei de Missing pelo seu lado de historiadora na veia. Outros imperdíveis para quem ama história: "O Declínio do Império Americano" e "As invasões Bárbaras", dois clássicos.
Bem, sei lá, já vi tantos milhares de filmes bons qeu eu até embolo tudo às vezes.
Mas tenho diminuído minhas idas ao cinema também, por falta de tempo e pela comodidade do DVD.
Beijos,
Celso

Carrie, a Estranha disse...

ODIEI invasões bábaras c] todas as minhas forças! O cara, em uma universidade canadense, vir falar de barbárie?? Vai dar aula na Estácio, cára Pálida, pra vc ver o q é barbárie! Rsrsrsr...e detesto essa perspectiva "nós, os inteligente e letrados" e "eles, os bárbaros"...somos todos farinhas dos mesmo saco.

Anônimo disse...

Bem, Carrie, vi "As invasões Bárbaras" por outras perspectivas. Não me atentei a questão educacional da universidade em si, mas sim a do ser humano no limiar da morte, o contato final entre pai e filho, a angústia. É neste ponto que, para mim, o filme foi marcante e belo, lírico até.
Beijos.
Celso

Anônimo disse...

Mas você gostou do "Declínio do Império Americano"?
Celso

Carrie, a Estranha disse...

Nunca vi Declínio...e nem nunca vou ver.

Meu diretores prediletos são: Tarantino e Woody Allen.

A milhares de quilômetros atrás vem Almodóvar, Spielberg, Spike Lee, Gus Van San...

AMO blockbusters.

VanOr disse...

Eu tive uma experiência... uma experiência, enfim, em VR. Até hoje me benzo quando passo pela entrada da cidade, na Dutra. (ao gargalhar, sufoca em sua própria saliva e em seus olhos esbugalhados lê-se a certeza, cada mais sólida, de que VR tem pacto com o Coisa Ruinzinha).

Carrie, a Estranha disse...

Agora conta!

Anônimo disse...

Conta qual experiência, Van!
Celso

Anônimo disse...

necessario verificar:)