sábado, julho 22, 2006

Can




Hoje tava me sentindo um lixo. Aliás, a semana inteira. Por uma série de razões que não vêm ao caso. Daí, rodando por estes blogs da vida, deparei-me com este vídeo, que eu coloco mais embaixo (tirado do YouTube; aliás descobri que eles têm um sistema super legal e fácil pra inserir vídeos em blogs). Fiquei tão chocada e comovida que saí pesquisando desesperadamente na web sobre quem eram essas pessoas. Descobri que tratavam-se de pai e filho - Dick e Rick Hoyt -que participam de triatlons há muitos anos. Até aí tudo bem. Se o garoto não tivesse uma doença horrível desde que nasceu, e isso o impedisse de falar e andar.
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Aquela velha história: quando nasceu os médicos disseram que ele não ia sobreviver etc. Os dois já percorreram todo os EUA, escalaram montanhas e fizeram coisas que eu nunca fiz na vida. Deram até entrevista no programa da Oprah. Confiram a história toda deles aqui.
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Milhares de lágrimas depois, me lembrei que dei aula pra um cara com um problema semelhante. Não falava, mas era o que mais participava das minhas aulas. Não andava, mas nunca faltava. Não tinha dentes, mas sempre sorria. Pra fazer as provas, ele precisava de uma licença da direção e fazia numa salinha à parte. Um dia, fui até lá pra ver se ele já tinha acabado e o vi fazendo a prova no computador. Digitando com os pés, pois era a única parte do corpo dele que tinha coordenação.
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Uma vez um cara de outra turma veio com uns papos de "isso não é vida e pra que viver assim". Estive "por aqui" pra dizer: "porque ainda assim é vida. E porque ele tem um cérebro. Ao contrário da maioria de vocês". No final das contas, "ser" é, ainda, - pelo menos pra maioria - melhor do que "não ser".
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Trocamos e-mails. Tempos depois, ele me mandou um e-mail, mostrando o trabalho que ele desenvolvia com um grupo de teatro com pessoas portadoras desse tipo de deficiência. Ele se chama Fábio.
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Daí fiquei pensando...não nessas coisas de "parei de reclamar da falta de sapatos quando vi alguém sem pés", ou de "não reclame da sua vida" - odeio esse tipo de pensamento, pois cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é e onde lhe aperta o calo. Mas fiquei pensando na possibilidade de vida nos lugares mais inóspitos e sob condições mais inacreditáveis.
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E fiquei pensando em mim. Sou uma romântica. Não romântica no sentido babaca de música-do-Wando, mas o romantismo como gênero literário e estilo de vida; o romantismo alemão e seus poetas bêbados, sofredores e mórbidos. Em Byron, Blake, Shelley e - por que não? - Poe. Um certo olhar pra vida que leva as coisas sempre a ferro e fogo e se vê sempre brandindo aos céus: "oh, Deus, por que eu?!!". E uma das coisas que mais tem me incomodado no momento é ser assim. E eu luto contra isso. E sofro muito mais lutando contra isso do que simplesmente aceitando e tentando reverter pro lado bom da força. Mas isso não é tudo. É apenas o que me define, hoje - pois acho que essas coisas também mudam. Eu não sou pior nem melhor do que ninguém por isso. Só sou assim.
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Me lembrei também do penúltimo filme do Woody Allen, chamado "Melinda & Melinda", que conta a mesma história, só que de dois pontos de vista bem distintos: da tragédia e da comédia. No final das contas, o que importa é a forma com que se encara a vida e não o que acontece nela.
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Sei lá. Não sei se tudo isso fez sentido pra alguém - ou se ficou parecendo que estou me comparando ao tipo de sofrimento dessas pessoas; não é essa minha intenção, lógico - , mas pra mim parece límpido como água. E também, se não ficou, assistam ao vídeo - que, afinal, é muito mais claro do que eu.
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8 comentários:

VanOr disse...

CA-RÁ-LE-O! Morri de chorar, quis gritar pela janela, fazer o bem e doar meu corpo pra ciência. Sem saca: esse vídeo clipe, essa música... essa história mudou pra sempre minha dimensão da vida.

Lara disse...

Sem palavras...

Anônimo disse...

No começo do ano discutiamos exatamente isso no cursinho. Há um garoto que tem problemas, acho que mexe apenas a cabeça, mas faz cursinho, corre atrás. Só pelo esforço acho que ele já deveria ter uma vaga garantida na usp.

E eu me senti ofendido com o seu comentário. "Essa juventude de hoje..." eu cresci ouvindo Queen :~

Carrie, a Estranha disse...

Aí eu acho q não Leo. Não acho que ele deva ter uma bolsa por ser deficiente. Acho que devemos permitir o amplo acesso de deficientes a todos os lugares.

Ano passado tava num congresso de História em Londrina, no Paraná e ouvi uma palestra sobre a reforma universitária. Uma das pessoas da mesa era uma deficiente física. Ela disse: "eu fiz USP. Eu não gostaria de ter ganhado uma vaga, pois dessa forma as pessoas sempre me olhariam como ela-só-tá-aqui-pq-ganhou-vaga. O que não é verdade. Eu consegui passar".

Acho que o q deve ser feito é dar condições do deficiente ir e vir. Nos transportes, na sala de aula...e mostrar que todos nós somos diferentes em maior ou menor escala. Isso deve ser respeitado. Esse seria um verdadeiro programa de inclusão.

É o mesmo problema da cota dos negros. Eu sou contra. A educação tem que se reformulada na sua base pra dar condições de pessoas de todas as raças chegarem ao ensino superior. Por mais caquéticas que estejam as universidades públicas, devemos investir no ensino fundamental e médio público, gratuito e de qualidade. Dar cotas de vagas só aumentaria o preconceito e só faria com q os pobres dos prefessores tivessem q baixar ainda mais o nível das aulas - pois com a escola pública do jeito q tá, só baixando o nível.

O problema do Brasil é que aqui as soluções são sempre paliativas. É sempre a política do "menos pior".

"Ah, mas nós temos um dívida história para com os negros...". Temos, mas não é dando o peixe q se soluciona as coisas. È ensinando a pescar.:-) Não é com bolsa família, bolsa escola, bolsa isso e bolsa aquilo. Pode parecer uma solução muito utópica isso de ficar querendo mudar tudo de uma vez, mas sinceramente? Tô cansada de mudanças paliativas, de pouquinho em pouquinho e que, a médio prazo, só agravam o problema que quiseram solucionar.

Becitos

Anônimo disse...

Adoro histórias de superação - o ser humano é feito para superações. Neste caso AMBOS são excepcionais - porque o mais fácil neste caso é acomodar-se e ficar lamentando suas mazelas - o lado menos nobre da humanidade.Só para polemizar, diria que tenho sériissimas dúvidas de que as nossas bolsas família e outros remendos de esmola poderiam estimular condutas de superação.

Anônimo disse...

Carrie,

Tive que assistir agora, após retornar do trabalho, e desta vez, sem chorar, pude ver a beleza do vídeo. Você está de parabéns pela iniciativa. Este pai é lindo, sensacional, como foi para mim o que eu tive.

Abraços,

Celso

Anônimo disse...

muito boa a abordagem do assunto e como foi feita.Seja mais você,ao invés de pensar em fazer,faça.O resultado sempre trará algum benefício,maior ou menor...

Anônimo disse...

maravilhoso, algo q nunca vou esquecer, sao ideias assim, pais assim que mantem esse mundo vivo,acredito que a exclusao existente no brasil em relaçao a pessoas com ( necessidades especiais)deve ter um poico mais de ajuda e participaçao popular, pois a sociedade e feita por todos, e é nessa totalidade q se pode construir um mundo para todo.. mensagen de um baraunense que quer fazer valer a pena