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O canal da Warner tá fazendo uma maratona com diversos seriados, agora que as temporadas deste semestre já acabaram. Hoje foi a vez de "Friends". Passou quatro horas seguidas da temporada final.
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Eu assiti "Friends" desde a segunda ou terceira temporada, muito antes de virar moda. Infelizmente, perdi a última quase inteira, pois já estava trabalhando muito. Depois peguei em DVD, mas meu controle tava estragado e não conseguia tirar a dublagem - e vamo combinar que, depois que você se acostuma com as vozes originais dos atores, não consegue mais ver dublado, né?. Além disso, várias piadas perdem o sentido. E eu também acho que seriados são pra serem assistidos na época em que eles vão ao ar. No meu caso, "Friends" me traz uma série de recordações sobre lugares e pessoas...bom, mas não é sobre isso o que eu quero falar.
O que fez de "Friends" uma série milionária é um mistério (no final cada ator estava ganhando um milhão de dólares por episódio; quatro episódios por mês...façam as contas de quanto os caras ganhavam por ano! Fora publicidade etc). Aliás, a indústria cultural vive de tentar fabricar sucessos e repetir a fórmula - que nem sempre dá certo.
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Algumas hipóteses de por que Friends foi um sucesso (evidentemente minhas hipóteses):
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1) Os atores NÃO são maravilhosos, lindos, perfeitos (como em Barrados no Baile ou Melrose Palce, por exemplo). São pessoas produzidas. São quase que nem a gente quando se arruma num dia de festa.
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2) O enredo é sobre "losers". Adultos na faixa dos trinta que não tem empregos definidos (Phoebs, Joey e Rachel), possuem relações instáveis e um comportamento quase adolescente. Ou seja: reflete uma grande parcela da população mundial.
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3) Fala de um tema quase tão impossível nos dias de hoje quanto o amor romântico: a amizade. Seis amigos, absolutamente amigos, que moram perto/junto, que se envolvem amorosamente (Mônica/Chandler; Ross/Rachel) ou, no caso de Mônica e Ross, que são parentes. Tudo bem: Rachel, Mônica e Ross fizeram o High School juntos; Chandler foi roomate de Ross na faculdade... Mas mesmo assim. Posso contar no dedo com quantas pessoas da faculdade ainda mantenho contato: deixa eu ver... nenhuma! Mal sei o nome dos meus vizinhos de porta. Fico meses sem ver alguns dos meus melhores amigos. E, na boa? Não sei se tenho 5 amigos, realmente amigos. Acho que até tenho, mas se juntar vários continentes, cidades...
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E não sou só eu, não. Dizem que em Nova York a coisa mais difícil do mundo é você ser amigo da pessoa que mora com você. A série também já foi cirticada por isso. A maioria mantém uma relação de frieza e mera formalidade. Então, pra mim, "Friends" faz sucesso por isso tudo e particularmente por falar de um grau de amizade que não existe.
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Acho que qualquer relação tem que ser dosada com pitadas de respeito, amor, paciência, sacrifício (sim, sacrifício, mas não muito). Às vezes amigos fazem coisas simplesmente porque a gente pede. Mesmo não tendo um motivo lógico, racional. Ou melhor: mesmo sendo irracional. Amigos muitas vezes compram brigas nossas. E viram a cara pr'aquele escroto que te sacaneou só porque ele te sacaneou mesmo e não por motivo algum. Mesmo não tendo lógica. Mas quem tá disposto a isso hoje em dia? Muito mais fácil ser legal com todo mundo, dar tapinhas nas costas e sair pra beber um chopp depois. Com figuras que você não vai ter o menor contato daqui a 2 anos.
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Penso em quantos amigos eu jurava que nunca me distanciaria e hoje em dia nem falo com eles. Sem contar que alguns amigos que a gente tem desde criança vão se tornando tão diferentes da gente que chega uma hora em que você não tem mais assunto com a pessoa. É claro que sempre sobra um carinho muito grande. Mas às vezes é só o que sobra. Carinho e lembranças. Mas às vezes isso já é muito.
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Amo todos os personagens de "Friends" da mesma forma, sem predileção. Mas, dentre as mulheres me identifico mais com a Mônica (a morena). Pela sua mania de organização, seu senso maternal, seu jeito meio estúpido de ser, seus ataques de ciúmes e sua paranóia por emagrecimento e exercícios. Acho-a a mais linda, também - a Rachel é uma beleza muito óbvia, pra mim. E morro de rir com o humor non-sense da Pheebbs, que me lembra um Monte Phyton, às vezes. E com a burrice de Joey (sim, atores são burros que nem ele!). Mas tenho simpatia para com os perdedores, e o Chandler, com sua auto-comiseração de eterno atolado com as mulheres me, comove profundamente. Mas Ross, com sua necessidade de afirmar como um Doutor em...Paleontologia - exatamente como eu me sinto, às vezes, tendo que explicar o que eu faço! - também me arranca boas risadas.
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Por essas e por outras é que eu defendo os sitcoms e, particularmente "Friends". São retratos da nossa época, da nossa geração. Não culpem a TV pela ignorância da nossa juventude. Nem muito menos culpem a superficialidade deles, quando na verdade é a sua superficialidade que te impede de ver algo mais profundo do que pastelão norte-americano.
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Mas, é claro que não podemos esquecer que é, também - mas não só isso - show-bizz
2 comentários:
faz bastante tempo que não vejo 'Friends'. eu acompanhava direto, mas perdi o pique...
obrigado pela vista ao meu blog.
saudações.
Eu sou apaixonada por friends, tão apaixonada que comprei a série inteirinha em dvd e volta e meia assisto, é muito bom.
No momento pelo qual venho passando, esse seu texto veio muito a calhar.
beijos
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