segunda-feira, abril 09, 2012

Nove de abril


Há exatos 50 anos, meu pai e minha mãe chegavam em Gotham City com uma filha pequena (minha irmã mais velha) e muita coragem para tentar a vida em uma cidade completamente estranha. Ela, 24 anos. Ele, minha idade (35). Antes moraram pouco tempo em Coronel Fabriciano, terra de outra siderúrgica - a Acesita. A data era então - e ainda é - aniversário da Usina, porém ainda respirávamos ares estatais e a festa na cidade era grande para saudar o aniversário daquela que era então a mãe dos trabalhadores - com direito a presença do presidente João Goulart e tudo mais. Papai era médico e teve que se apresentar no hospital, onde todos os médicos encontravam-se de plantão em função da presença do presidente.

Aqui nasceram mais quatro dos seus cinco filhos, inclusive esta que vos fala. Aqui minha mãe enterrou o seu marido, meu pai, há dez anos. Aqui fez amigos, construiu casa e fincou pé. 

A cidade deve tudo que tem à Usina. Nos anos 90, resolveu privatizá-la. Hoje a cidade não é mais só a Usina. Mas ainda é muito.


Eu odeio a minha cidade. E amo a minha cidade. E tudo o que sou e penso e acredito está profundamente enraizado no fato de eu ser daqui. Se eu não fosse daqui, provavelmente não manteria a ligação próxima com Minas e Rio. Não falaria como eu falo - sem sotaque de carioca ou paulista ou mineiro. Não teria os amigos que tenho. Provavelmente não teria feito algumas escolhas. Talvez tivesse insistido em alguns erros.

As pessoas imaginam minha cidade como um réplica de Cubatão. Bom, eu nem conheço Cubatão. Vai ver é até uma cidade legal. Mas o fato é que a minha cidade é muito mais bonita do que as pessoas imaginam e tem muito mais verde do que muita cidade dita limpa. Eu odeio a minha cidade por outros motivos e a poluição, definitivamente, não está entre eles. Odeio pela mentalidade classe média. Pela falta de opções de lazer que me agradem. Mas esse é o motivo pelo qual eu odiaria quase que 90% das cidades de médio porte. Eu sou uma pessoa difícil, eu sei.

Adoro não ter trânsito e chegar em 5 minutos ao trabalho. Quer dizer, hoje em dia até tem trânsito, mas eu morro de rir das pessoas reclamando. Ainda não é nada comparado às grandes cidades. Às vezes ao invés de 5 minutos eu gasto 10. Ohhh...

Adoro a vista que eu tenho do meu quarto da Usina. Adoro todos os barulhos que esta produz de madrugada: apitos, sons de trem, buzinas...Adoro o fogo colorido que sai das sua chaminés. Como diz meu namorado: vista de Mordor. Como diz meu amigo Denis: Gotham City. Porque o céu fica rosa em determinados momentos.

Adoro o frio que faz no inverno, muito mais do que no Rio. Odeio o calor que faz no verão.

Adoro as ruas do meu bairro, ainda com as velhas casas de engenheiros, médicos e diretores da Usina. Quase um bairro fantasma, onde as casas parecem desabitadas e as pessoas só andam de carro.

Adoro e odeio o fato de eu ter voltado a morar aqui há três anos atrás, depois de treze anos fora. Adoro ver o meu velho colégio, ainda que modificado. Adoro ver tudo como era da mesma forma, ainda que completamente modificado. Assim como eu.




6 comentários:

Amana disse...

Volta Redonda é um estado de espírito que, volta e meia, me assalta.
Gosto de muitas coisas da cidade, tenho muitas lembranças, principalmente a de ter adolescido aí. Acho também que eu não seria quem eu sou sem os treze anos de Volta Redonda em mim.
Foi isso: um período de céu noturno cor de rosa. Muito mais pra filme do Tim Burton que pra conto de fadas...
Beijo!

Amana disse...

Volta Redonda é um estado de espírito que, volta e meia, me assalta.
Gosto de muitas coisas da cidade, tenho muitas lembranças, principalmente a de ter adolescido aí. Acho também que eu não seria quem eu sou sem os treze anos de Volta Redonda em mim.
Foi isso: um período de céu noturno cor de rosa. Muito mais pra filme do Tim Burton que pra conto de fadas...
Beijo!

Gazzy1978 disse...

Parece eu falando dos motivos pelos quais amo Curitiba, e também pq odeio tão fortemente, de vez em quando.

www.falagrasi.blogspot.com

Felicia disse...

Pensei que eu fosse a única a amar o céu cor de rosa de Volta Redonda, o céu poluído mais lindo do mundo.

DENIS disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Tati Espindola disse...

Adorei o texto!