sexta-feira, janeiro 21, 2011


Como muitos de vocês sabem, eu tenho 5 irmãos e apenas uma única sobrinha de 5 anos incompletos (ela faz aniversário agora em fevereiro). Paula é o nome dela. Ela mora longe (e o camiiinho é desertooo...) então costumo vê-la umas duas vezes por ano: nas férias de julho e de dezembro/janeiro.

Eu vi Paula nascer - literalmente, pois eu fui a única na sala de parto com a minha cunhada. Antes dela nascer eu não tinha a dimensão do quão cedo se forma a personalidade de uma pessoa. Desde muito pequena minha sobrinha tem um gênio bastante forte. Ela nunca ficou quieta em bebê conforto, carrinho, berço, cercadinho, nada. É uma criança extremamente agitada, curiosa, desbravadora e sociável. Ela é tímida com estranhos, mas sempre arruma amiguinhos onde vai. Seria muita corujice da minha parte dizer que ela é muito inteligente (mais do que a média), mas ela tem, desde muito cedo, comportamentos ditos de adulto que me deixam espantada pra dizer o mínimo. Ela descobre o ponto fraco das pessoas e vai nele até te vencer pelo cansaço.

Por exemplo: eu guardei 2 únicos brinquedos da minha infância, a Adriana (Meu Bebê da Estrela) e a Peposa. Daí ela pega a Adriana e começa: por que você tem boneca até hoje? Você é grande. Por que você ainda não deu pra nenhuma criança? Vou levar ela pra miha casa. E pega a boneca pela xuquinha só pra me irritar, porque eu peço pra ela ter cuidado. Puxa os cílios da boneca.

Ela é teimosa. Mega teimosa. Se ela fala que não vai fazer alguma coisa, ela não faz. Podem ameaçar, botar de castigo, cortar televisão fazer o que for que ela simplesmente não volta atrás. Ok, eu acho que os pais cedem muito fácil, mas também não sei se eu teria peito de enfrentá-la todos os dias, todas as horas. Vai indo cansa. Educar é muito cansativo. Por isso quase todas crianças de hoje em dia que eu conheço são mal educadas. Porque chega uma hora em que os pais jogam a toalha.

Meu irmão é surfista, mas mora muito longe da praia. Logo, sempre que ele vem pras bandas de cá ele dá um jeito de passar uns dias em alguma praia. Dessa vez, quando eles estavam vindo pra cá, ela começou a perguntar sobre as férias pra mãe, quanto tempo dura e tal. Lá pelas tantas ela manda: olha só, já vou logo avisando: se vocês vierem com esse negócio de praia, eu tô fora (fazendo gestinho com a mão). Como assim? Quatro anos, gente. Se agora ela tá fora, já pensaram com 15?

Ela é encucada porque eu e Formiga Irmã não somos casadas nem temos filhos. Principalmente Formiga Irmã que é madrinha dela e tem o maior jeito com crianças.Volta e meia começa: a Só [ela chama a avó de Só) não vai ter mais netinhos, não? Incrível como essas ideias vão parar muito cedo na cabeça da pessoa.

Esses dias ela ficou 2 dias sem falar comigo porque eu ri dela quando ela estava chateada. Explico: ela faz uma cara muito fofa quando está brava. Muito, muito engraçada. Um toquinho de gente com a testa franzida em dedinho esticado. Num guento. Tenho vontade de apertar muito. Aí ela ficou sem falar comigo e disse que não gostava mais de mim.

Ela adora a senhora que faz faxina aqui em casa. Mas esses dias disse que não ia falar com ela, porque ela [a faxineira] estava com uma roupa inadequada. Eu dou conta, gente?

Ela também adora um dos vigias da minha rua, o Neuton. E os vigias aqui passam apitando. Daí ela escuta o apito dele e sai correndo: Neuton, o que cê tá fazendo? Neuton, já tá de noite, vai embora! (detalhe: ele é o vigia da noite). Neuton, tá chovendo, vai pra casa. Neuton, pra onde cê tá indo? Neuton, vem tomar café. Pobre Neuton.

Como ela já está com um vocabulário mais elaborado já podemos conversar sobre temas mais profundos (ela ainda não lê, mas fala o alfabeto inteiro, escreve o nome dela e qualquer nome que você queira, desde que dite as letras). No dia da posse da Dilma eu fiquei explicando um pouco do processo eleitoral brasileiro. Quer dizer, até onde eu sei, porque tinha pergunta que ela me fazia e eu não sabia responder, como por exemplo: por que eles querem governar?

Aí expliquei que era a primeira presidente menina que a gente tinha, expliquei que houve uma época que a gente não podia escolher presidentes, porque homens maus governavam e não deixavam - mas por que eles não deixavam?! - e que esses homens maus mandavam matar quem fosse contra eles - e quem era a favor? Expliquei que o presidente antigo chamava Lula e essa se chama Dilma e que eles ficam em Brasília e o que era o Hino Nacional, que quando ela fosse pra escola ia aprender - eu já fui um tantão de dias pra escola e nunca aprendi. Enfim. Moral e cívica na pré-pré-escola.

Dia desses ela descobriu a morte. Vieram com aquela conversar de foi pra estrelinha. Aí ela aprendeu que os dois sôs (avôs) foram pra estrelinha. Aí ela queria saber se existe mais gente na estrelinha - ela e o resto da humanidade, né?

Cara. Pensar em impingir um sofrimento deste nível pra uma criança de 4 anos é muito triste. Vou dizer o quê? Formiga Irmã teve a primeira depressão nessa idade, ao ver as velas de 4 anos no seu bolo e achar que era muito. Como dizer pra uma criança que as pessoas morrem e ninguém tem certeza absoluta do que acontece depois? Que algumas religiões creem que o espírito é imortal e/ou pode reencarnar, e que ela pode decidir, depois de grande, no que ela acredita? Vou enganar dizendo que vira estrelinha ou anjinho? Não. Vou dizer pra ela que é uma questão terrível, que a maioria das pessoas simplesmente não pensa nisso, senão enlouqueceria e com o tempo você, no máximo, se conforma - já que não existe outro remédio? Vou dizer que você é muito novinha pra pensar nisso - como se crescer adiantasse?

7 comentários:

Ila Fox disse...

Profundo o post, eu passei o final de semana com minhas duas priminhas (uma de 6 e outra de 1 aninho), e sempre me impressiono com a rapidez que as crianças de hoje aprendem as coisas.

Pensando que elas absorvem o mundo ao seu redor, até faz sentido elas serem mais espertas que a criançada dos anos 80.

Lidar com o desenvolvimento de uma criança é curioso, desafiador e mágico. Mas ao mesmo tempo assustador e angustiante. Por isso eu prefiro só acompanhar como figurante, não quero encarar a tarefa de ser mãe, me contento com os filhos dos outros.

Natália disse...

Isso me deu vontade de ser psicóloga especializada em desenvolvimento infantil.

Docinho de abacaxi disse...

Carrie, nem te contei a novidade! Vou ganhar um sobrinhO! :D
Qro nem pensar nessa parte estranha de q vc fala no post, desses pitocos nos desafiando... Deixa pra depois!
Mudando de assunto, kd nosso café-cinema?
Saudades, moça!
Bjs!

Carrie, a Estranha disse...

Docinho,

Vc vai se amarrar! Sobrinhos são delícia! Ainda mais pq qdo vc cansa, os devolve pros pais.

Não consegui te encontrar aquele dia. Foi mto corrido. Ia te escrever, mas...sabe como é. O tempo foi passando...

Natália,

A pedagogia é um ótimo ramo.

Ila,

É uma responsabilidade insana. Acho q quem para pra pensar não tem filho. É sempre uma decisão meio no impulso.

Nísia Floresta disse...

Oi... prazer, Nísia. Leio sempre mas é a primeira vez que comento.
Tenho um filho que vai fazer 4 na semana que vem e também descobriu a morte neste fim de ano. Como as situações da sua sobrinha, achei super impressionante.
Estávamos na casa da vó paterna e a mãe dela também. A gente sempre explica que a bisa Bebé é a mãe da vó Maria... lá pelas tantas, ele se tocou que a mãe do avô nunca está e perguntou por ela. A vó respondeu que a bisa Alice já morreu, que ficou muito velhinha e morreu. De vez em quando, falamos que a vovó não consegue correr ou pular porque é um pouco velhinha. Ele deve ter lembrado e perguntou na hora "Você vai morrer?". Ela respondeu que sim, que todo mundo morre... ele ficou chateadíssimo, foi para o quarto deitar dizendo que não queria morrer. Cada adulto dava uma explicação diferente, mas no fim prevalesceu a que a gente morre quando fica bem velhinho e que demora muito... é claro que ele já sabe que não é só quando se fica muito velho que a morte pode chegar, mas deixou por isso mesmo... (e nós também, afinal, ele só tem 3 anos)
Outro dia, alguém perguntou a idade dele. Ele respondeu que tem 3 e vai fazer 4 em fevereiro. E a pessoa comentou "Nossa, você já está ficando velho!" Ele pensou um pouco e respondeu "É, mas ainda vai demorar muito pra eu morrer".

Carrie, a Estranha disse...

Oi Nísia!

Espero q vc veja essa resposta, apesar da antiguidade do post.

É, acho q é mto duro. Eu me lembro q um dos meus maiores medos qdo era criança era morrer. Tinha verdadeiros ataques de pânico ao pensar na morte.

Isso do seu filho me fez lembrar do neto de uma amiga da minha irmã. Com essa história de q "só morre quem é velho" ele ficou deprimido pq ele é o neto mais velho, logo será o 1º a morrer! Rsrs

Ou seja: não tem remédio.

Nísia Floresta disse...

exato...

ele logo começou a questionar se as primas que são bebês e a irmã - que ainda vai nascer - também vão morrer. E, de vez em quando, fica aborrecido se alguém vem dizer que ele vai se o "irmão mais velho".

remédio, não tem mesmo. Só ficar junto e compartilhar pra não nos sentirmosa tão sós...

Grande beijo, Carrie.