terça-feira, outubro 12, 2010

Dexter

Esse feriado prolongado – o dia dos professores foi antecipado pra segunda e emendaram tudo nas faculdades em que eu trabalho – eu só fiz duas coisas. Deitei na minha cama com apetrechos novos e assisti Dexter no computador.

Há tempos que ouço as pessoas falarem de Dexter. Eu, que sou fanática por séries, ainda não tinha tido a oportunidade de ver. Sem contar que passa na FOX e dublado. Não sei quanto a vocês, mas eu tenho a impressão de que a FOX possui o maior número de intervalos – e os mais extensos da TV -, então nunca consigo seguir as séries de lá. Por causa disso não consigo ver o excelente The Office. Assisti apenas a versão inglesa – melhor, diga-se de passagem – em DVD. Mas, esse post não é sobre a FOX. É sobre o Dexter.

Bem, todo mundo sempre me disse que era ótimo e que eu ia adorar...estavam todos errados. Dexter não é ótimo. É simplesmente o melhor seriado policial que eu já vi em toda a minha vasta vida sanguinolenta. E vou além: é um dos melhores seriados que eu já vi. Já está entre os cinco melhores – os outros quatro? Wonder Years (Anos Incríveis); The Office (o britânico) e...preciso pensar mais. Afinal, os cinco melhores têm que ser realmente os melhores.

Vamos lá. Pra quem não conhece, Dexter conta a história de um policial com uma vida dupla. Durante o dia ele é um perito criminal que trabalha particularmente com sangue deixado em cenas de crimes. Ele é um especialista em borrifos de sangue. A partir das manchas na parede e dos ferimentos no corpo ele consegue dizer como a pessoa foi morta. Durante a noite, ele é uma espécie de justiceiro. Pega os presos que o sistema não foi capaz de pegar. Ah tá. Legal. Não. Não é só isso. Na verdade é uma história super complexa.

Dexter foi adotado por um policial que o encontrou na cena de um crime aos três anos de idade. Ele não se lembra de nada antes disso, e o seu pai adotivo conta que sua família morreu. Muito cedo, Harry, o pai adotivo, começa a notar tendências perversas no garoto. Harry encontra os ossos do cachorro da família enterrados no quintal, junto a outros ossos de animais. Preocupado com o que o garoto possa se tornar, e dando a entender que ele passara por um trauma muito grande quando pequeno, Harry começa a conversar com Dexter sobre esses impulsos. O menino conta que sente vontade de matar – tudo isso nos é contado ao longo da primeira temporada, em flashbacks que se mesclam ao presente. Harry, então, começa uma espécie de treinamento do garoto. Através de caçadas, primeiramente, e depois convencendo-o que certas pessoas têm motivos para serem eliminadas. Mas não pensem que se trata de um mero justiceiro. Dexter tem princípios muito rígidos. Princípios que fazem parte do Código de Harry, o conjunto de regras que o seu pai lhe ensinou. Dentre elas, a primeiríssima é ter certeza. Em suma, Dexter é um serial killer que canalizou suas potencialidades para o bem – se é que isso é possível.

 
E, pra completar, Dexter torna-se um perito policial, estilo CSI. Isso o faz estar dos dois lados. Ele sabe o tipo de prova pode comprometê-lo e é extremamente cuidadoso em não deixá-la ao cometer seus crimes.

Aí você pensa: ok, é uma série policial super bem feita. Não. Não é só isso. Porque é uma série de implicações psicológicas fantásticas. Ok, leitor amigo, você pode objetar que a boa narrativa policial é extremamente psicológica. Não é à toa que ambos – a psicologia e o romance policial - surgem na mesma época, isto é: no alvorecer da modernidade. Mas é que estava fazendo falta um seriado policial tão inteligente como Dexter para nos lembrar o que realmente é uma narrativa policial. Ok, eu curto CSI, Law and Order (prefiro o SVU) e Cold Case. Acho que são bem inteligentes, bem feitos. Mas Dexter é outro nível. As séries policiais vão ter que correr pra alcançar o patamar de Dexter.

Falando um pouco mais do seriado, Dexter tem uma irmã adotiva que também é policial. É a atriz de O exorcismo de Emily Rose, me foge o nome e não vou procurar. Excelente. Ela é o simétrico oposto do irmão. Parafraseando o próprio Dexter, enquanto ela luta pra esconder os sentimentos, Dexter luta para esconder a falta deles. Sim, não se enganem. Dexter é um psicopata e tem a completa ciência disso. Não sente remorso, culpa, medo, nada. Sua única ambição da vida é ser normal. E é só isso que o impede de sair matando a esmo. Harry sempre lhe ensinou como se misturar. A única forma de não ser pego, além dos cuidados com a cena do crime, é fingir ser normal. E Dexter ambiciona, quem sabe, de tanto fingir, um dia conseguir finalmente ser normal e sentir alguma coisa.

Dexter tem uma namorada. Cujo relacionamento dá certo, inicialmente, porque não rola sexo. Dexter não liga pra sexo. Na verdade ele não entende o porquê de tanto barulho por nada. Sua namorada, Rita, fora sucessivamente estuprada e surrada pelo marido, um viciado em crack daí o desinteresse dela inicialmente. Daí Deb, a irmã de Dexter, a conhece atendendo a um chamado de socorro onde ela quase foi morta pelo marido. Rita tem dois filhos. Algumas cenas entre Dexter e os dois são realmente das melhores. Em alguns momentos, em que eles estão brincando, Dexter pensa: “se eu tivesse um coração, este seria um momento em que ele estaria cheio de alegria”. Como não amar?

A clareza sobre o seu lado sombrio é das mais intrigantes faculdades de Dexter. Novamente parafraseando-o, ele diz que consegue entender os sentimentos humanos, mas não os sente. Por isso diz que caso fosse capaz de algo do tipo, sua irmã seria a pessoa que ele mais amaria no mundo. Mais uma vez: perfeito.

Incrível como o cenário de Miami funciona bem na trama. De cara eu pensei: putz, série policial, com serial killer, passada em Miami? Não vai dar certo (que me perdoem os fãs de CSI Miami, mas eu sempre odiei). Mas esse é um dos charmes do seriado. O contraste. Porque seria óbvio botar a coisa toda se passando em NY, Chicago, Las Vegas, ou até mesmo em LA. Mas Miami? Pois é. É o contraste que funciona. A trilha sonora latina, os cenários solares e os letreiros luminosos e coloridos dão um ar meio Pedro Juan Gutiérrez a coisa toda. E o elenco completa essa paisagem, destacando-se a chefe cubana, o parceiro latino e o policial mothafucka negão.

Essa primeira temporada – pode deixar que não vou mandar nenhum spoiler – é perfeita. Um grande serial killer está à solta e este mistério vai durar até o último episódio. Fora isso, casos paralelos vão acontecendo. Uma boa série policial tem que ser redonda. Não poder ter pontas soltas nem pode usar de saídas fáceis como as - hãm-hãm, som de pigarro - “séries policiais” (com bastante aspas) da Globo, em que na hora agá chega a polícia inteira com a Luana Piovani de trança embutida chefiando tudo e salva geral. Não pode. Olha que eu costumo  matar – com o perdão do trocadilho - com alguma facilidade quem é o assassino. Acerto com alguma freqüência em Cold Case ou CSI. Em Dexter nem em um milhão de anos eu poderia supor. Quando descobri, às 3 da madrugada, quem era o assassino, quase dei pulos no meu quarto. Filho de uma puta! E a solução foi dada assim, de bandeja para o público. Nós soubemos antes de todo mundo, o que é uma estratégia narrativa muito bacana.

Uma coisa que me impressionou também é um fato que eu e minha irmã sempre discutimos aqui em casa – minha irmã é psicóloga e psicanalista, pra quem não sabe. Primeiro, até que ponto certas características, como a psicopatia, são genéticas ou moldadas em tão tenra infância que quase dá na mesma. E outra coisa: existe a estrutura, mas o que você vai fazer com isso é problema seu. Até que ponto um psicopata que passou pelas coisas que Dexter passou teria como não ser daquele jeito? Mas, ainda assim, ele escolhe não ser um “serial killer do mal” – este ponto é controvertido, eu sei, muita gente vai dizer que ele está matando do mesmo jeito e, acreditem eu não sou partidária da pena de morte nem acho que certas pessoas devam morrer, mas no caso dele a coisa é tão bem montada, tão bem feita que você fica pensando que a única saída era a morte.

Se o que Freud dizia é mesmo verdade, que estamos presos a três estruturas, necessariamente, não havendo como fugir delas – a neurótica, a perversa e a psicótica – parece não haver escapatória para o gênero humano. Mas Dexter prova que há. Ok, é só um seriado e provavelmente na prática isso é quase impossível. Dexter prova que é possível escolher, mesmo estando dentro dessas três estruturas. Não é possível mudar de estrutura. Não dá pra Dexter tentar se um neuroticozinho light. Isso ele nunca vai ser. Mas é encarando seus medos que ele consegue se misturar e atingir algum nível de normalidade. E, pensando bem, não é o que fazemos o tempo todo?

Perdoem-me a ausência de mais detalhes técnicos como direção, atores, criação (ah é, parece que é inspirado num livro), mas isso vocês conseguem jogando no Google. Se eu ainda fosse procurar tudo isso não terminava esse post hoje.

Ok, eu só vi a primeira temporada e, como sabemos, as séries tendem a perder seu vigor. Agora vou ver a segunda que meu bolsista de IC me passou já tô baixando a terceira. Parece que ele vai ter um filho.

Mal posso esperar.

14 comentários:

Luís Miscow disse...

De nada.

Obs: a 2. temporada é fantástica. Os primeiros 5 minutos do primeiro EP são de arrepiar.

***GrAzI disse...

EBA!
Que bom que vc gostou!
Para mim tanto a segunda quanto a terceira e a quarta temporada mantiveram o ritmo e não me desapontaram!! Já sobre a quinta ainda não tenho opinião formada, mas está indo bem (assisti o terceiro episódio ontem de noite!)
Curiosidades: a irmã do Dexter no seriado é a atriz Jennifer Carpenter. Durante a primeira temporada ela e o Michael C. Hall (Dexter) começaram a namorar e casaram no início do ano passado. Já no início desse ano o Michael ficou durante alguns meses em tratamento lutado contra um linfoma, mas se recuperou bem e pode voltar a filmar Dexter normalmente. ;)
Beijos!!

PS: Não deixe de contar o que vc achou das demais temporadas, ok? rs

Clara disse...

Comecei a baixar a primeira temporada depois de ler seu post!
;P

Carrie, a Estranha disse...

Luís,

:)

Eu já vi o primeiro episódio da segunda temporada. Não estou me lembrando dos 5 minutos especificamente q vc falou, mas gostei.

Grazi,

Agora vou ter q diminuir o ritmo. Mas pretendo ver.

Clara,

Vc não se arrependerá.

Bjs

Mari disse...

O final da quarta temporada é um dos melhores de todos os tempos... keep watching =)

Paula Clarice disse...

Eu já estava meio com vontade, agora fiquei querendão começar a ver Dexter. Agora, fiquei curiosa mesmo foi pra saber mais sobre a relação entre psicologia, romances policiais e a modernidade. Escreve mais sobre isso? Beijão

Nayara disse...

Carrie, vc é mesmo má! Justo agora que estou me enrolando com um projeto para o mestrado em Comunicação sobre a relação entre transtornos mentais e violência nas séries de TV....quase surtando pra escolher as benditas séries que analisarei...vc fala de Dexter!

Ai Jesus....minha escolhidas eram: Arquivo X, Bones, CSI Las Vegas, Criminal minds e Law and order:criminal intent.....mas sempre fiquei pensnado em Dexter, pq falam que é excelente...e eu nunca vi um epis sequer....

Bj!

Ísis disse...

Dexter é muito, muito, muito bom. E só melhora...

Ísis disse...

Dexter é muito, muito, muito bom. E só melhora...

Solange disse...

Eu gosto de ver é um episódio atrás do outro, que nem novela (ansiosa, eu?) por isso estou baixando a 5a temporada - mas só vou ver quando acabar. E falando no Dexter, espia estes posters sensacionais baseado na série: http://mattsoncreative.com/blog/2010/10/06/dexter-inspired-posters/

Luís Miscow disse...

Carrie, a cena no fundo do mar, em que a câmera vai abrindo... Não quero dar spoiler, hehehe

bjos

Clara disse...

vc baixou com subtítulos???
será que pode me dar o enderco de onde posso baixar?

Anônimo disse...

tb gosto muito da serie dexter,inclusive ja li todos os tres livros,conheçi a série por acaso navegando na net,e descobri que dexter e eu temos muito em comum,muito mesmo,em se tratando de relacionar-se com as pessoas,a unica diferença é que nunca matei ninguem....bom tb nunca precisei claro.......

Luciana disse...

Carrie, procure assistir My name is Earl, acho que no FX. É subestimada e simplesmente ótima...