domingo, setembro 26, 2010

Dizem que pessoas que tiveram membros do corpo amputados permanecem durante um bom tempo ainda com a sensação de membro fantasma. A pessoa sabe que não tem mais o referido membro, mas tem resquícios da lembrança dele, então não só não aquilata a nova dimensão do novo corpo, mas também tem sensações ainda, baseada na lembrança daquele membro - do tipo frio, coceira, dor.

Quando saímos de um relacionamento, fora toda a dor a perda, etc, também temos a sensação do membro fantasma. E esta permanece ainda por algum tempo e pode ser facilmente confundida com o amor. Você se acostumou de tal forma com aquela pessoa ali do seu lado, que a falta dela é quase um crise de abistinência. Você não sabe se sente falta da pessoa em si mas do papel que a pessoa ocupava em sua vida de namorado(a), marido/mulher, o que seja. É difícil se movimentar sem seu membro. Você vê uma notícia na TV, acha um livro da livraria ou vê um filme e pensa: ah, eu queria comentar com ele/ela. Não é apenas o amor, mas a força do hábito.

Aí o tempo passa. E passa. E você reencontra a pessoa. E percebe que, fora um ligeiro nervosismo no reencontro, tudo passou. O amor, a sensação do membro fantasma, tudo. Tantas coisas já aconteceram depois do término que os assuntos já são outros. Você tem a sensação de que a pessoa continua a mesma e só você mudou. Na certa, ele/ela também deve ter essa sensação. E você fica se perguntando, como é possível alguém que foi tão importante na sua vida durante um período considerável de tempo, se transformar em...nada. Nada. Um velho conhecido, no máximo. Pra onde vão os sentimentos depois que acabam?

Daí que eu fiquei pensando sobre essas coisas todas e cheguei a uma conclusão. A despeito do que nos dizem os livros, filmes e músicas o verdadeiro amor (o que quer que isso seja) passa. A regra é passar, acabar. Nada dura pra sempre. O que não quer dizer que não possa durar para sempre. Mas estes que duram pra sempre ou mais tempo são por força de investimento das duas partes. Manter o amor não é a regra, é o artificial, a exceção. Por isso, demanda empenho, esforço e dedicação, como qualquer coisa que façamos na vida. Claro que é um esforço muito mais agradável e sutil. Se você precisa fazer uma força desmesurada para amar alguém é bem provável que não ame. Mas existe uma qualidade de esforço envolvida. Um querer estar junto. Querer que o amor dê certo.

Então em vez de dizer: eu prometo te amar pra sempre ou qualquer outra jura de amor eterno, as pessoas deveriam dizer eu prometo me esforçar para que o nosso amor não acabe. Porque é isso. Se você deixar, se bobear, ele acaba. Vira outra coisa. 

9 comentários:

Ila Fox disse...

É nestas e outras que pessoas teimam em ficar em relacionamentos fracassados. É o cérebro sabotando e fazendo confundir hábito com amor. :-P

Docinho de abacaxi disse...

Sintetizou tão bem!
Bom qdo a gente tem quem reflita por nós e chegue a essas conclusões.
Valeu, Carrie!
Ando com mó preguiça de pensar...
Beijos!

Amana disse...

Reencontrar antigos parceiros é como dar de cara com o estranhamento completo, no seu caminho para a padaria. Gostei do que vc disse sobre a ilusão que temos de que só nós mudamos.
Amar por muito tempo é reinventar o amor todos os dias. Reconheço como isso é difícil, como é fácil se perder deste projeto. Reconheço também que a convivência diária pode dar elementos para que nós nos convençamos de que vale, sim, a pena. O contrário, entretanto, também é profundamente verdadeiro.
bjs!

Me disse...

pq vc eh tao fdp assim de dizer exatamente tudo o q eu to sentindo exatamente nesse momento.

Unknown disse...

Sumidíssima vc hein!!!!
Concordo em número, gênero e grau.
Bjos

Ana Manga disse...

E eu só querendo saber o q faz com essa vontade de te chamar pra tomar café toda vez que eu te leio. Uma fantasia sobre os rqiquíssimos papos furados que a gente ia bater! =)

Bjo, linda. Bjo.

Carrie, a Estranha disse...

Ana, querida,

Quem sabe?

Milema,

Tô tentando ficar mais assídua.

Me,

Obrigada. Acho.

Amana,

As pessoas não têm paciência.

Docinho,

Podexá q eu penso procê. Rsrsrs...

Ila,

Tão mais fácil, né?

Beijos, queridas.

disse...

Afff... eu tinha ideias pra comentar aqui, mas fico com a sintese perfeita já dita pela Ila "É nestas e outras que pessoas teimam em ficar em relacionamentos fracassados. É o cérebro sabotando e fazendo confundir hábito com amor. "

Será que faz parte do manual da vida *todo* mundo passar por isso?

Isabella Kantek disse...

Que bonito e verdadeiro.

Estou aqui sentada me deliciando com os seus textos (enquanto as crianças destroem a casa ou quase isso). Não consigo parar.

Beijos e como diz a Anna V., sua verve é porreta.