quarta-feira, junho 23, 2010


Ao ver o debate Dunga x Tadeu Schimidt & Globo, me lembrei de uns textos que eu li sobre jornalismo, na disciplina de Mestrado do meu querido professor Afonso, sobre autoridade jornalística. Agora me foge de quem era o texto (Schudson? Zelizer? Darnton? Alzheimer?) que dizia que enquanto outras profissões calcam sua autoridade e legitimidade na apreensão de um conhecimento codificado (como o Direito, a Medicina, a Engenharia), basicamente (ainda que não só), o jornalismo tem as bases do seu profissionalismo muito mais ancorada na autolegitimação entre pares do que em manuais. Ok, manuais de jornalismo existem. Mas não é isso que faz um bom jornalista.

Traduzo: o maluco que vai fazer Medicina aprende uma porrada de regra pra abrir um corpo; o que vai fazer Direito decorar leis, regras, como argumentar, etc e assim por diante. E o jornalista? Ok, ele até aprende em um manual o que vai fazer, mas não é isso que o faz um jornalista. Ou melhor dizendo: ele burla essas tais regras com muito mais frequência do que um médico, quando lhe convém. O que faz dele um bom jornalista é a autoridade que ele conquista, e essa se dá de muitas formas - que não abordarei aqui -mas dentre elas na autoreferência entre iguais. Se outro maluco fala que o cara é bom, que o que ele fez tá certo, e que olha só, estão querendo calar a voz da imprensa, pronto. Fez-se um jornalista.

Exemplo prático: Dunga deu um fora no jornalista. Errado? Erradíssimo. Grosso. Mal educado. Tadeu Schmidt e a Globo compraram a briga e deram com destaque a grosseria do técnico. Tadeu usou frases como "com o seu usual mau humor". Aí você pensa: cadê a imparcialidade? Cadê a objetividade? A Globo ficou putinha com o Dunga e resolveu descontar. Claro, eu faria a mesma coisa. Ou melhor, eu faço, só que eu só tenho um blog e a Globo é a Globo.

Enfim, não sei se deu pra compreender meu argumento, mas o fato é que é visível que a Globo comprou a briga do jornalista, pois é nisso que se baseia a autoridade jornalística: a autolegitimação entre pares. E isso não deveria causar celeuma. Todo veículo faz isso.

Por isso é que eu digo: eu tenho várias coisas pra agradecer na minha vida. Uma delas é ter desistido do jornalismo. Outra é ter feito jornalismo. Nessa ordem.

7 comentários:

Alê disse...

Eu também entendo completamnte seu ponto de vista.

Essa semana está sendo a de entender todo mundo.

:D

Beijos

Alê

P.S.: Obrigada pelo fofa no comentário do post de aniversário do seu blog.
Ah, eu voue screver depois com calma sobre o câncer de pele que tive (e que ainda faço tratamento preventivo).

Alvaro disse...

Gostei, Aline!
Abração, do
Alvaro

Ila Fox disse...

Agora eu quero é que o Dunga vença a copa só para calar a boca, não só do Galvão, mas da Globo também. ;-)

Atitude: substantivo feminino. disse...

Ele é técnico de futebol, só. Tem jogador de futebol (que pode falar nós vai) e tem técnico de futebol (que pode falar palavrão). Palavras bonitas contratem um poeta para ser técnico da seleção. Ou um sociólogo, antropólogo ou qualquer coisa ólogo. Ele é técnico de futebol.
O que eu acho mais engraçado é quando dizem: " mas ele está representando o país.." "ele carrega a imagem do nosso país para o resto do mundo.."
okok
Esse não seria o presidente da república? Não entendi...
Falam dele como se ele fosse político ou presidenciável...e ele é tecnico de futebol. Igual aos caras alí do Aterro do Flamengo. Só tem mais talento e sorte.

Eu adoro esses bafafás porque mostra como a mídia alternativa tem força e consegue criar frissons até mesmo com a Globo.

Adoro esses barraquinhos movidos pela internet, como o Cala Boca Tadeu Schimidt! rsrsrsr

Beijos e parabéns pelo blog!

Carrie, a Estranha disse...

Oi Alê!

Isso, escreve sim!

ÁLvaro,

Obrigada!

Ila,

É, eu acho tudo muito engraçado!

Atitude,

Obrigada pelo parabéns!

Bjs grandes, pessoas.

Amana disse...

hahahaha to me divertindo com a internet em tempos de copa.
gostei de sua reflexão - que coisa bizarra essa idéia de autoridade entre pares, é isso mesmo.

mas... ver a Globo perdendo terreno, sendo questionada por aquilo que ela sempre alegou ser sua força, sua legitimidade, a "audiência máxima inabalável", é muito bom!

bjsss

Carrie, a Estranha disse...

Amana,

É, é tudo muito estranho nessa vida.