quinta-feira, março 18, 2010

Mais um

Para todos que gostam de ouvir os meus sonhos...

Essa noite sonhei com a Tia Miquinhas. Tia Miquinhas é minha tia-avó, a única ainda viva, por parte de pai – única das mulheres, dos homens há ainda um tio-avô. Ela fez 100 anos ano passado. Super lúcida, forte. Era madrinha do meu pai – meu pai teria 84 anos se vivo fosse, ela foi Madrinha dele com uns 15 anos, mas esse povo antigo rolava uma dificuldade na hora de registrar, então não dá pra saber exatamente. Minha avó mesmo morreu com 94 anos no ano 2000. Mas também pode ser que tenha morrido com 95 ou 93. Enfim. Tia Miquinhas, no meu sonho, era também a Bárbara Tuchman, uma historiadora que tem um livro sobre a Primeira Guerra, antigão, mas que me deu vontade de comprar: A torre do orgulho. Chegou essa semana pelo correio.

Parênteses: eu tenho muito desses sonhos em que uma pessoa é uma E outra ao mesmo tempo ou um lugar é/são dois ao mesmo tempo. Até eu mesma. Semana passada teve o da professora/cachorro. Posso sonhar com alguém que é a Fernanda Montenegro e uma mesa, o Bin Laden e um tio meu, e assim vai.

Então. Voltando ao nosso sonho. Bárbara/Tia Miquinhas e eu estávamos numa espécie de Cruzeiro, mas que também era algum encontro de História. Bárbara/Tia Miquinhas falava inglês e eu pensava: “por que a Tia Miquinhas tá falando em inglês se ela é portuguesa? Ah é! Porque ela também é a Bárbara Tuchman”. Normal. Aí ela me apresentava pra vários historiadores ban-ban-bans (mas ninguém que eu reconhecesse) dizendo: “essa menina vai lançar um livro sábado!” e eu dizia: “não, tia, vou não” e ela: “ah, mas não tem problema. Você será uma grande historiadora”. Nisso também surgia meu Tio Guido, irmão da minha mãe e que já morreu. E o Cruzeiro chegava finalmente a Nova York, onde eu via tudo muito rápido e ficava puta de ir embora sem trazer meu habitual carregamentozinho de Victoria’s Secrets.

Interpretações?

Dessa vez são bem óbvias: Barbara era o nome da minha orientadora nos EUA, uma pessoa incrível, uma das maiores sumidades em História do Brasil nos EUA e gente boníssima, simples, uma querida. Ontem eu lembrei dela ao falar sobre as Communities Colleges porque ela tem dois filhos com problemas: um é autista (que eu conheci) e a outra tem uma espécie de atraso mental. Esta última freqüenta uma dessas universidades.

Por que a Tia Miquinhas, que eu não vejo há tanto tempo? A família da minha avó paterna veio para o Brasil durante a Primeira Guerra, fugindo da pobreza de Portugal. Minha avó contava que foi uma viagem tensa, em que eles tiveram que vir com bandeiras abaixadas porque podiam ser bombardeados a qualquer minuto. Ela veio com 9 anos, o que daria 1915 – mas fico pensando cá com meus botões, devido a essa confusões de datas e idades, se ela não teria vindo em 1917, data do bloqueio alemão à Grã-Bretanha e França, mas que na prática representou a possibilidade da Alemanha afundar qualquer navio, mesmo “neutro” (e vamu combiná que devido ao sistema de alianças ninguém conseguia ficar muito neutro na Primeira Guerra). Por causa disso os EUA entraram na Primeira Guerra, já no finalzinho, e se deram benzão, saindo como potência e vivendo os loucos anos 20 de muita abundância e prosperidade (até vir o porradão da Grande Depressão, em 1929/30). Mas tergiverso.


Pela condição econômica, eles vieram estilo Jack: terceira classe, péssimas condições. Minha avó contava que só comiam lentilha – e por causa disso ela nunca mais comeu lentilha na vida. Tempos difíceis. A Bárbara Tuchman é uma historiadora da Primeira Guerra, como eu disse. Quer dizer, tem outros livros, mas essa é a principal referência que eu tenho dela. Nem sei se é o forte dela, mas é por isso que eu a conheço. No inconsciente, tudo se mistura aparentemente sem nenhuma lógica – e a gente só consegue arranhar a superfície com as interpretações, não dá pra destrinchar o sentido completo.

Por que não sonhei com a minha avó mesmo e sim com a Tia Miquinhas? Por que a Tia Miquinhas tá viva, ora essa! E o Tio Guido, o que tava fazendo por ali, se já é morto? Bom, esse meu tio teve uma brilhante carreira na magistratura; foi um dos juízes mais novos na época dele, chegou a ser um desembargador em BH, bastante conhecido no meio jurídico. Embora tenha tido imensas perdas no campo pessoal era um cara que na profissão atingiu o topo do topo e uma pessoa mega tranquila. Era uma pessoa que o mundo podia estar caindo que ele se fechava no escritório dele e trabalhava. Exatamente o que eu preciso aprender.

Cruzeiro: viagem que eu fiz recentemente. NY: razões óbvias. Victoria’s Secrets: meu estoque tá acabando mais uma vez (deve ter uns 6 cremes ainda, mas eu já preocupo). Eu tenho mania de cremes e perfumes e cheiros.

E ontem teve a palhaçada do Rubem Fonseca recomendando o livro da pupila dele que eu até escrevi sobre. Daí eu sonho com alguém falando sobre mim.

Case closed. Next?

PS: Aqui eu só conto os sonhos que dá pra contar em público. Os de forte conteúdo sexual, ou contendo forte conteúdo escatológico e que me desabonam em qualquer sentido eu censuro.

3 comentários:

Ila Fox disse...

Engraçado vc manter estes padrões de sonho... não me lembro de ter algum...

Bom, eu sonho que vôo. tem gente que nunca sonhou com isso. E eu sempre sonho. Mas são sempre sonhos diferentes entre si.

Um sonho que me lembro de sonhar bastante la pela infância e adolescencia, era que eu estava fugindo de alguém que me procurava pelas ruas, e eu entrava nas casas pq tinha que me esconder. :-P

Carrie, a Estranha disse...

Ila,

Sonho q voo, tb. Mas ultimamente não tenho sonhado. Tb sonhava muito q tentava correr e não conseguia, mas passou.

Ida disse...

Isso aqui é uma delícia.
Obrigada pelas viagens (e sonhos).

Ah! Também sonho que vôo. E que estou sendo puxada por alguma força do lado negro. Tento me agarrar em algo. Em vão, claro.
Mas aí eu acordo. Ufa!