sexta-feira, junho 26, 2009

We want him back


O ano era o longínquo 1982, mas deve ter sido só em 1983 quando eu o vi pela primeira vez. Eu era então uma criança dos meus 6 pra 7 anos. A MTV engatinhava nos EUA. TV a cabo era uma realidade distante pros brasileiros e mesmo vídeo cassete ainda não era comum. A única chance de se verem clipes eram os programinhas da Globo, tipo o Clip Clip (hoje achamos qualquer clipe no You Tube). Meus irmãos viam sempre, enquanto brigávamos pelo nosso lugar em frente à única TV da casa (hoje em dia temos mais TVs que habitantes aqui) – e eu sempre perdia, óbvio, por estar em minoria e estar competindo com dois adolescentes. Daí eu ficava pela sala. E via o que eles estavam vendo. Me lembro de The Cure, dos clips do A-ha, Madonna e tantos outros. E me lembro de Thriller. Me lembro dos meus irmãos me chamando e dizendo: “vem ver esse clipe que você vai gostar!”. Na época absolutamente original e revolucionário com efeitos de fazer uma criança tremer nas bases (Formiga Irmã diz que se lembra de ter visto pela primeira vez Thriller no Fantástico, sozinha em casa, e de sentir um certo medinho – detalhe, ela já tinha 15, 16 anos na época, mas abafa o caso). Aquele cara estranho, magrelo, rebolativo e ao mesmo tempo virando lobisomem diante dos meus infantis?! Uau.

Nunca fui fã de Michael, devo confessar. Não vou ficar aqui falando sobre todas as mudanças que ele trouxe na música, porque isso todos os jornais estão martelando ad nauseum. Minhas lembranças de Michael são afetivas – como o são as lembranças. Michael Jackson é indissociável da memória dos anos 80 – em especial se você foi criança ou jovem nesta época. Dizer que não sou fã não quer dizer que ele não tenha feito parte da minha vida. Atire a primeira luva branca quem nunca tentou fazer o moonwalk, o passinho quase mágico em que a pessoa desliza pra trás. E quem nunca fez alguma paródia das músicas dele na escola, do tipo Beat it (Pirêêê!!! Pirêee! Pirêêê! Pirêê!!!) que jogue o chapéu. Lembro-me do meu primo Fabinho e o quanto ele gostava do Michael Jackson. (In)felizmente ele – meu primo – não sobreviveu para ver o Michael “Branco” dos nos 90, nem o pedófilo da Terra do Nunca. Fabinho morreu num acidente de carro aos 21 anos em 1992. E o clipe de “Black and White” com as mudanças de rostos, efeito absolutamente incrível e genial pra época? Me lembro que nessa época eu já tinha vídeo cassete e gravei o clip pra poder ficar vendo em slow motion as transformações que, anos depois, seriam febre em qualquer programa de TV.

Michael é um tipo de artista que dificilmente vai voltar a existir. Da era dos mega-shows, mega-vendagens e videoclipes. Hoje em dia a indústria fonográfica amarga vendagens cada vez menores e ao invés de grandes astros famosos por 15 minutos, temos astros famosos para 15 pessoas. Ele, Madonna, Paul McCartney...sobram poucos. Hoje em dia as Stfhanies da vida jogam seus vídeos no you tube e não precisamos mais de vídeo clipes ultra elaborados. Não que eu esteja criticando isso. Apenas constato. O mundo é outro e isso não é bom nem ruim.

Michael é lenda. Vai além de gostar ou não gostar, ser ou não ser fã. É que nem Roberto Carlos, Chacrinha e John Lennon. São parte de uma época. Tudo que se conhece em termos de showbizz se deve a alguns poucos artistas. Michael é um deles. Ele não é o Rei do pop. É o Deus do pop. E quando deuses morrem, algo parece estar fora dos eixos. Vão dizer que ele não morreu, que está num castelo junto com Elvis, Marilyn e James Dean. De certa forma, está mesmo. Quando eu ouvi a notícia, na rua, achei que era uma piada. Dessas que você pergunta: de quê? E aí vem um trocadalho do carilho com alguma música dele. Mas não era piada.

Sobre as maluquices e excentricidade dos últimos anos, quem deu a melhor definição foi o João Marcelo Bôscoli, num programa que tem sido reprisado na Globonews. Ele disse que Michael é que nem aquela tia que a gente gosta muito, mas ficou maluca. A gente visita ela no hospício, tem pena, mas ainda assim, é a nossa tia.

E tias malucas merecem meu profundo respeito.

9 comentários:

B. disse...

Sabe que até eu (oh, me considero equilibrada, sentiu? hahaha) pensei "será q ele morreu mesmo?". Sei lá, né. O cara é tão louco que eu duvidei, achei que fosse pegadinha DELE mesmo. Tipo,fingir que morreu pra alavancar a venda de cds e tal. E aí sair da crise financeira. Ok. Eu sou mais louca do que ele, pelo visto. Rs.

Ila Fox disse...

Belíssimo post sobre o Michael Jackson.

Assim como vc não sou fã daquelas de colar poster ou colecionar fotos, mas não deixo de ter os grandes sucessos dele no meu repertório musical.

Apesar do Michael estar fora do show business a mais de 10 anos é como se ele nunca tivesse saido de cena ao mudar para sempre o cenário musical.

Taísa disse...

Muito bom o post !
Estou com a mesma sensação que você! Apesar de não ter sido fãããã, acho que por tudo que ele representou, é como se tivesse faltando alguma coisa agora...

Ila Fox disse...

Também gostei deste outro texto sobre o Máicou Jequis. ;-)

http://andreforastieri.uol.com.br/?p=586

Jussara disse...

Eu tb não era fã, mas lembro que tinha medo da risada no final de "Thriller" e tb de ver o clipe (mesmo que acompanhada :$).

Agora que vc falou e depois de ouvir trechos de alguns sucessos que estão tocando nas reportagens notei que em mim ele tb mexe mesmo com memórias afetivas, como vc bem disse; me lembrei da minha infância. As músicas eram super hits, mas como eu era criança não fazia nem ideia da dimensão daquilo tudo. Tb tenho uma foto dessa época em que eu e um primo estamos com uma luva a la MJ.

Pena ele ter despirocado e desandado pra esse caminho de pedofilia, de desconfiguração do rosto e corpo. Não acredito nisso que falam de um suposto vitiligo. Pra mim ele queria mesmo ficar branco. Podia ter parado na primeira plástica no nariz, afinal, quase todos os famosos fazem uma, mas não precisava ter se deformado.

Me assustei qdo soube que ele tinha 50 anos, pois fazia tempo que não lia nem via nada sobre ele.
Se o cara ainda não era uma lenda enquanto estava vivo, acabou de se tornar.

Jussara disse...

Sabia que tinha alguma coisa errada qdo escrevi. Eu quis dizer desfiguração. Sorry :/.

Stella disse...

Adorei a comparação com a tia maluca. É isso aí mesmo. Nunca mais vai existir um 'showman' como esse cara. Sendo fã ou não, como você mesma disse, é um fato.

Bem, acho que estamos passando por uma fase 'entrelinhas'. Em algum momento parece que 'tudo vai mudar', sabe? É estranho, mas eu sinto isso.

Beijos

Amana disse...

hj estava passeando no Harlem com Gi e Bode e passamos em frente ao Teatro Apollo. Tinha uma muvuca de pessoas gritando e tirando foto de alguns dancarinos imitando MJ. E um muro enooooooorme com faixas de papel e plastico para as pessoas deixarem recadinhos e se despedirem e homenagearem o idolo.
Em cada esquina tem gente ouvindo uma musica dele, pessoas meio atordoadas ainda com a noticia, e milhoes de camisetas sendo vendidas desde a primeira manha depois da noticia. Ate o pastor na Abyssinian Church falou do Michael hj ("que foi um bom garoto, um grande artista, mas se perdeu para as diseases of the world..."). Uma comocao so.
Estamos tentando imaginar, ate agora, a que perda se compararia no Brasil. Acho que eh um misto de morte de Roberto Carlos (pela obra transgeracional na musica pop) com Xuxa (pelas esquisitisses e pelo apelo infantil). O cara era sinistro...
beijos

Ge disse...

Lindo texto, Carrie...Michael Jackson também faz parte das minhas lembranças, meus irmãos e irmãs mais velhos eram muito fãs (inclusive eu tenho um sobrinho chamado Michael) e as músicas lembram minha infância. Com toda a certeza ele foi o Deus do Pop e dificilmente existirá outro com tanta originalidade...pena que ele acabou se perdendo...bju.