Essa da esquerda é a minha amiga Fló. A da direita, a menorzinha, é a Fê, irmã dela. A Fló é minha amiga desde a 6ª série. Ela é aqui de Gotham City, mas certa vez a levei para Pasárgada, cidade no interior de Minas, de onde minha mãe é, e onde passei todos os feriados e férias da minha adolescência e pra onde ainda vou com frequência.
O que tem na cidade? Nada. É uma cidade do interior de Minas como tantas outras, com alguns casarões coloniais, algumas cachoeiras. algumas fazendas e onde faz um frio de lascar. Mas além de guardar as raízes de quem eu sou, é também um lugar de gente animada, de onde são 80% dos meus amigos de hoje em dia (seja porque foram nascidos e criados lá ou porque, assim como eu, têm famílias lá e sempre mantiveram o link). A gente pode ter crescido, morar em locais muito distantes, até fora do país, mas de vez em quando as pessoas se encontram. E aí é só cachaçada.
Sim, porque quem conhece Andrelândia sabe que toda boa farra é regada à cachaça mineira. Daí o apelido que a Fló ganhou: V8 (para os não iniciados que nem eu: o motor V8 é o que mais bebe). Hoje em dia Fló é V8 Total Flex. Porque ela se adapta perfeitamente a qualquer combustível. Fê, é a V6. Daí a festa se chamar "V party" (hãn? hãn? pegaram?).
Costumo dizer que a máxima do discípulo que supera o mestre é implacável no nosso caso. Fló diz que eu a iniciei no mundo do álcool, mas você evoluiu muito, pequena gafanhota!
E aí que está fazendo 20 anos que eu levei essa criatura em Andrelcity. Junto com a Karine e outra amiga que nem merece ter o nome lembrado. A Fló permaneceu. E ficou amiga da cidade toda. E passou a ir mais do que eu, até. E esse final de semana ela vai fazer uma festa pra comemorar a data e Nananda, sua irmã, também, já que ela foi imediatamente picada pelo mosquito andrelandense. Eu falei que mereço faixas e momentos de homenagem durante a festa, mas ela me ignorou. Eu e Gegê.
Porque Andrelândia é assim: ou você ama, ou odeia. Ou você morre de tédio ou se apaixona e começa a arquitetar planos mirabolantes de comprar uma casinha e viver da sua produção de couves.
Vocês estão todos convidados. É só chegar na cidade e perguntar pelo posto do Sô João (atenção ao sotaque). Lá chegando, você pergunta pela Fló ou pelo Gegê. Não é o único da cidade. Tem outro. Aí digam que são amigos da Carrie e querem comprar um convite - ah é, a festa ia ser de graça, se fosse num sítio de um amigo, mas como será no clube o ingresso vai custar 15 reais com tudo liberado (comidinhas mineiras simples, como caldos e pão de queijo com pernil), cerveja. E pinga. Claro.
Tem lugar pra ficar (simples, mas limpinho), mas existem também hotéis e pousadas.
E tem também outro evento, o lançamento do segundo livro de poesias do Júlio, meu Cósnis. Pai do lendário e já famoso por essas plagas João Fanquico (que, aos 3 anos de idade pediu uma sanfona ao avô de presente de aniversário. Ganhou uma sanfona profissional para crianças. Faz musiquinhas, aí o paí pergunta o que ele está fazendo e ele responde: "tô fajendo mújica. Eu vi na inteneti".
Vamos lá: O livro se chama "QUOTIDIANO". A epígrafe são duas frases. Uma é uma frase do filósofo Martin Buber “Eu não possuo nada além do quotidiano, do qual eu nunca sou retirado”. A outra é uma frase do meu pai, para a minha mãe: “ela faz o quotidiano ficar tão interessante!”. O lançamento será no salão paroquial de Andrelândia, dia 12, às 19h (mesmo dia da festa da Fló, mas antes. Daí eu vou primeiro pra lá e depois pra festa da Fló, que é às 23h). O lançamento será um sarau. Vou recitar algumas poesias dele. Só pra dar uma palinha, revelo aqui uma poesia (eu tenho o original! Huauauaua! E também os livros chegarão da editora, no Rio, aqui em casa. Eu terei acesso antes do autor! Huahuahuahua!!!) do livro, que não está dentre as que vou declamar, mas é uma poesia sobre a horta da casa das nossas tias (e que é ligada por um caminho de pedra, à casa dos pais do poeta):
Fundo de horta
Um fundo de horta com tocos
de pau e seus estrepes,
palhas secas nos montes de
terra e seus lagartos;
as bananeiras com os
corações à mostra
e uma mangueira
com setenta e cinco anos.
Solo fatigado e erosões enfezadas.
Um fundo de horta comum,
mas com um caminho
de pedras que leva a
um recanto especial e secreto
de ternuras, petiscos e sorrisos,
refúgio da realidade
sonho de toda gente.
Um fundo de horta com tocos
de pau e seus estrepes,
palhas secas nos montes de
terra e seus lagartos;
as bananeiras com os
corações à mostra
e uma mangueira
com setenta e cinco anos.
Solo fatigado e erosões enfezadas.
Um fundo de horta comum,
mas com um caminho
de pedras que leva a
um recanto especial e secreto
de ternuras, petiscos e sorrisos,
refúgio da realidade
sonho de toda gente.
Tá bom, não resisto. Vou por outro:
Vôo
Vou cevando meu toicinho ainda magro e
calejando minhas mãos nas estacas da vida;
vou nutrindo meu cambado corpo cansado
na esperança de dias fartos.
Vou torcendo as cravelhas do peito,
retesando as cordas do coração,
almejando a afinação ideal dos sentimentos.
Vou limpando minhas tripas pra chouriço e
purificando meu sangue com pinga boa;
vou lavando minhas entranhas com limão rosa
e água fervendo em tacho de cobre.
Vou lavrando meus caminhos ainda incertos
neles semeando o que me chega às mãos;
vou produzindo tanto quanto posso mesmo
sabendo que poderei tudo perder.
Vou cozendo em fogo brando de lenha fina
a paciência das horas e dos dias que
se dissipam no tempo e na memória.
Vou vivendo meus amores
e morrendo um pouco a cada dia.
Vou cevando meu toicinho ainda magro e
calejando minhas mãos nas estacas da vida;
vou nutrindo meu cambado corpo cansado
na esperança de dias fartos.
Vou torcendo as cravelhas do peito,
retesando as cordas do coração,
almejando a afinação ideal dos sentimentos.
Vou limpando minhas tripas pra chouriço e
purificando meu sangue com pinga boa;
vou lavando minhas entranhas com limão rosa
e água fervendo em tacho de cobre.
Vou lavrando meus caminhos ainda incertos
neles semeando o que me chega às mãos;
vou produzindo tanto quanto posso mesmo
sabendo que poderei tudo perder.
Vou cozendo em fogo brando de lenha fina
a paciência das horas e dos dias que
se dissipam no tempo e na memória.
Vou vivendo meus amores
e morrendo um pouco a cada dia.
O livro será vendido pela internet e também será lançado na Bienal do Livro, no Rio, este ano.
E aí, que tal? Ótimo programa para o feriado.
3 comentários:
Nossa se eu fosse um ser independente e tivesse carro eu ia nesta festa!
Sua família é cheia de talentos parece a familia Caymmi todo mundo possui DOM.
hahahaha..
Então, trinity! Basta pegar um busum pra JF e de JF pra Andrel. Lá é orça, mas chega transporte. Tb tem busum direito de Sampa. Bjs
É mesmo! :)
Pena que eu sou pessoa pobre e nem tenho dinheiro pra viajar pra Minas. :(
Divirta-se horrores no feriado, então, querida! :D
Beijo!
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