sexta-feira, dezembro 07, 2007

Não sabe brincar, não desce pro play


Com certas pessoas não se mexe. A gente sabe disso, mas esquece. Tenta se reaproximar e ter algum tipo de contato mais íntimo, mas logo se arrepende. E isso acontece uma, duas, quinze vezes e você nunca aprende. Quando acontece de novo, você pensa: mas como eu fui cair nessa de novo! (é aí que entra a psicanálise: ela te dá ferramentas para você perceber que você vai repetir o mesmo padrão de comportamento diante de certas situações, diante de certas pessoas, e te deixar sempre presa ao mesmo sintoma, afinal é confortável esse lugarzinho de reclamação do outro quando quem precisa mudar é você e não ele). E no fundo você fica até feliz quando a decepção acontece. Afinal, você estava certo desde o início. Você tinha razão e não podia confiar naquela pessoa – mesmo ela tendo lhe dito o contrário, mesmo ela mesma tendo lhe oferecido ajuda. É um gosto amargo, é verdade, mas não deixa de ter o seu sabor. É o confortozinho. Já pensou se ela te surpreendesse? Que trabalho isso daria?

Porque certas pessoas só vão até certo ponto. Você só conta com elas pra certos assuntos – e nesses assuntos elas podem ser ótimas. Assim são suas naturezas. Não é por maldade dela. Quem está errado é você em supor que elas poderiam ir um pouco além. Elas nunca lhe deram margem de que poderiam ir – ainda que você tenha lido o oferecimento de ajuda como um estender de fronteiras. Não. Você criou essa fantasia na sua cabeça. Você não entendeu que aquela ajuda se referia àquilo, àquele momento, e não a qualquer coisa que você quisesse. Certas pessoas devem ser tratadas no nível da cordialidade. Very polite. Felicitações em datas festivas, abraços nas ocasiões sociais em que se encontram, tapinhas nas costas e sorrisos. Nada mais. Mas não. Você e essa sua mania de achar que precisa se aproximar mais das pessoas, confiar um pouco mais, estreitar os laços. Não. Não precisa. Ou melhor: aprenda a fingir que estreitou. Deixe que o outro pense que você está próximo – afinal, se o limite dele é tão diferente assim do seu é bem capaz que ele realmente ache que está mais próximo. Pra ele você está mais próximo. Mas para você ele continua a milhas de distância. Se você não pode com o inimigo, confunda-o. Jamais, nunca, em tempo algum brigue. Só se briga com pessoas queridas. A briga exige uma certa amizade e profundidade de relações que, se você não tem, melhor ignorar. Eu só ataco quem eu prezo. Pra bater é preciso estar a uma distância mínima.

Bons temas para se conversar com esse tipo de gente, de modo a não estreitar os laços: sobre o tempo; sobre a novela das oito, sobre o cabelo da apresentadora X ou Y – filmes não são muito confiáveis, porque através dele suas visões de mundo podem colidir e sobrarão caquinhos pra você; a não ser que seja uma comédia romântica ou qualquer outro filme sem grandes questões. Moda também não é um bom tema. Apesar de aparentemente superficial, revela muito. Temas do cotidiano, bastante impessoais, são sempre bem-vindos. O preço da soja. A cotação do dólar. O índice Down Jones. Política, só quando os temas são de difícil discordância, tipo a fome na África (ninguém, em sã consciência, vai concordar que é certo). Tantos temas interessantes e superficiais...pra que você vai insistir em se abrir com certas pessoas? Não. Já tenho muita gente amiga, graças a Deus. Tenho a sorte de conservar alguns melhores amigos há anos, alguns inclusive dentro da minha própria família – então pra que tentar com quem não vele à pena? Amigos que se desdobram pra fazer favores que eu mesma não sei se faria.

E quem está errado? É você! Mude o seu comportamento diante da pessoa ao invés de sempre reclamar do que ela te faz. Pois a única pessoa que você pode ter a remota chance de mudar minimamente é você. E olhe lá. O outro não lhe compete. O outro é problema dele.

10 comentários:

SOFIE FATALE disse...

olha se eu lhe dizer -escrever- que esse post foi como um aviso, creia: isso não é IMPULSE.Enviarei-lhe até o e-mail que mandei para esse tipo de pessoa que vc, como sempre, as ussual, brilhantemente, descreveu.Impressionante.Coisas de Poliana (v escreve Polyana, né?!).Mas, a grande conclusão, C.W, é, com certeza, uma certeza inexorável, suculenta -se assim vc me permite me expressar- é que o que REALMENTE IMPORTA É O QUE ACONTECE DENTRO DE NÓS, E NÃO A NÓS!Além disso, o único, exatamente único, tirano que eu aceito neste mundo é a vozinha silenciosa dentro de mim
beijos, super star!

Anônimo disse...

Ahh Carrie... eu tbm já cometi tantas vezes o mesmo erro... de sempre achar que "aquela vez vai ser diferente".

Aí eu vou na melhores das intenções e quando vejo dou com os burros na água... triste...

Este post me fez lembrar (com um certo rancor) do meu antigo relacionamento...

Ele apareceu todo bonzinho querendo me ajudar num momento crítico da vida, eu precisa me mudar da república que eu morava, ele se oferecu com a mudança... e foi só aceitar que dali em diante o cara se acharia no direito de pedir 100 reais emprestados para devolver não sei quando, comer minhas coisas da geladeira, se apossar gentilmente do meu computador, da minha máquina de lavar...

Sabe aquela frase "dá uma mão e quer o braço todo"? pois é.

E pior que ele era assim com todos! ninguém gostava dele, e eu ficava com pena... com o tempo todo mundo se distanciava, só eu que não! por que como eu sou teimosa feito uma porta queria provar que ele era legal, que ele era uma pessoa boa...

Conclusão: só fui me afundando cada vez mais, quando vi estava com um cara que nem gostava muito a 4 anos só para querer "provar pros outros que ele era uma boa pessoa", o cara tava morando na minha casa e mal pagava as contas, e tinha feito uma dívida no meu nome de quase três mil reais...

Um dia percebi que ele não era bonzinho porra nenhuma, que aquilo era máscara, pura e simples. Assumi a cagada e larguei do infeliz.

Bom, infelizmente o cara não teve nem a moral de pagar a dívida q deixou pra trás né? mas antes as dívidas do que ele!!

Temos que ter muito cuidado com quem estreitamos laços... namorados, amigos, vizinhos, colegas de trabalho, parentes...
os danos podem ser irreversíveis.

Amanda Luisa disse...

e não é que é verdade?
;)

Anônimo disse...

Adoreiiii...passei por uns momentos assim recentemente e reincidentemente,pior é ter que admitir a "felicidadezinha" por ter absoluta certeza que aconteceria;mas eu bem que tava lá...toda disponível pra que acontecesse!!Bingoo!!!kkkkkkk
Não importam as histórias,os sintomas são sempre os mesmos!!!
Ter lido isto me deu um "up" pra sair do comodismo e da mesmice de esperar dos outros o que jamais se dispuseram a dar...que seja um obrigadinho,ou até não sair falando mal de vc(báááásicooo),típico em certas famílias...rsrsrsrs
Atitude já!!!As pessoas só fazem com a gente o que a gente deixa mesmo!!!rsrsrsr!!!Não deixemos!!!!
Cara de paisagem por fora e gargalhaadas por dentro!!!Gente que não vale a pena nesse mundo é o que não falta!!!rsrsrsr
Beijinhosss à todos!!!!
Vanessa

Hetie & Claudio disse...

Querida Carrie do coracao: jesusmariajose? vc estava escondida em algum lugar la no office esses dias? la fui eu comentendo o mesmo erro novamente: confiar nas pessoas que nao merecem minha confianca e consideracao...
fiquei MUITO MAL...mal mesmo...pricipalmente pq dentre tantos estrangeiros que trabalho, a maioria advogados, onde todos tem que pedir minhas orientacoes (embora eu nao seja advogada) e todos acatam, concordam e sempre da tudo certo, justamente quem sempre cria problema sao os (as) brasileiros (as)...
Fico absolutamente triste... mas percebi que eh inveja; nao podem admitir que alguem possa ser mais experiente....para variar, fiquei ate doente ontem e hoje...
mas, sabiamente, uma advogada argentina (viu como os argentinos nao sao de todos ruim - eh essa minha amiga argentina eh budista-) me disse: nao de poder a essa gente... vc nao ve que no fim de tudo ela teve que fazer o que vc recomendou?...mas como nao sou deste mundo... sempre eh muito dificil tentar compreender e me adaptar... 1000 a zero para voce, Carrie...como sempre your target: right between the eyes....Kisses....

Anônimo disse...

É Carrie, mas na teoria é tão fácil a gente entender. Agora na prática, são outros quinhentos. Por mais que a gente entenda todo o mecanismo do "sou eu que tenho que mudar", é tão difícil criar esse escudo de proteção. Pelo menos pra mim é uma tarefa muito complicada. Acho que preciso de muuuito floral.

Sua fã number 1.
Fernanda.

Carrie, a Estranha disse...

Karina,

É engraçado como pessoas diferentes - e situações diferentes - nos levam às mesmas reações.

Mas eu acho que o que acontece a nós é um reflexo do q acontece dentro de nós.

Eu não sei nem se aceito a vozinha dentro de mim como tirana. Fico sempre tentando um golpe de estado! Rsrsrs...

Ila,

Caramba! Que história! Mas vc está longe de ser a única. Há histórias muitos piores - e o que é pior: de gente q ainda está nessa. Pelo menos vc conseguiu enxergar a situação e mudar isso. Realmente com certas pessoas há q se cortar o mal pela raiz.

Amanda Luisa,

E não é, menina?

Vanessa,

É, é muito fácil botar a culpa nos outros, né? Difícil é admtirmos nossa parcela de responsabilidade. Que bom que eu ajudei de alguma forma.

Hetie honey(arrumei um correlato pro Carrie Querida!Rsrsrs),

Acho q eu li algo em seu blog sobre o assunto. Que droga, hein?

Ah, eu amo argentinos! E ainda por cima budista? Melhor ainda só se ela fosse homem! Rsrsrs

Feu,

Mudar é uma das coisas mais difíceis do mundo. Aliás eu tenho minhas dúvidas se realmente é possível mudar, deliberadamente, mediante esforço próprio.

Certamente por ignorância e preconceito, pois não sei nada sobre o assunto, eu não acredito em florais. Sei de gente q já tomou e não adiantou de nada - assim como sei se gente q já tomou e adiantou (assim como existem anti-depressivos q fazem ou não efeito em certas pessoas).

Eu, Carrie White, pessoa estranha, garota com poderes telecinéticos, só acredito (mesmo assim, com ressalvas) em psicanálise. E olhe lá.

Bjs

Carrie, a Estranha disse...

PS: Hetie Honey of my heart!

Anônimo disse...

carrie, o que dizer? faz parte do crescimento escolher quem pode brincar com a gente, e de quê. por coicidência, vc fala disso um post após falar da saudade do pai, e reafirma a crença na psicanálise, então está tudo como deve ser.
um abraço,
clara lopez

Anônimo disse...

coincidência
cl