quarta-feira, junho 13, 2007

Zuzu está vivo. Três hurras para Zuzu.


Palma, palma! Não priemos cânico! Quando eu disse que eu “dava a semana por encerrada” era apenas uma metáfora. Estou completamente atolada entre malas desfeitas, livros por ler, outros que chegam pelo correio, outros que eu não deveria ler, mas acabo lendo – eu sempre tenho vontade de ler as coisas que não tem nada a ver com o que eu preciso fazer no momento - de forma que...calma. Aos poucos eu vou colocando as paradas.

Passei o discurso do disquete pro computador, mas não sei porque algumas últimas alterações que eu havia feito não estavam salvas. Mas eram poucos detalhes que eu acrescentei agora (Baru, confere aí naquela versão da mãe que a gente arrumou à caneta no dia).

Pra quem tá boiando na parada: esse é a apresentação que eu fiz sobre Primo Poeta, que lançou livro de poesias em Pasárgada. Vocês podem ler Primo aqui ou comprar o livro dele aqui. Ah! Também podem ir no lançamento “oficial” na Bienal dos livros do Rio. Mas não vai ser tão divertido e ter tanto vinho!

O lançamento foi num sobrado que foi da minha família, depois da família do Júlio (meu primo) e depois das duas. Hoje em dia é uma Casa de Cultura. Ah, lê a parada aí que vocês entendem melhor.

Tava lotado. A equipe inteira do SublimeSucubuS estava lá, cobrindo o eveiiinto. Dona Henriquetta tomou um porre e só voltou pra casa às quatro da manhã! Hic! Padre Quevedo ficou no comando das fotos e Linda Blair e Brad trataram de conversar com os espíritos que pairavam no ar.

Segue:


PS: Sem fotos de pessoas que eu já tive problemas demais!

Lançamento do livro Ensinamentos de amor, de Júlio César Meireles de Andrade

Boa noite queridos amigos e familiares,

Agradeço ao Júlio César o convite para fazer esta breve apresentação sobre ele. É com muito prazer e orgulho que eu cumpro esse papel que me foi confiado.

Acredito que esse convite tenha surgido não só em decorrência da amizade existente entre nós, mas também em função de outras oportunidades em que já externei meu carinho e apreço pelo Júlio através das palavras. Talvez justamente por isso me vi diante de um dilema: o que dizer de novo de quem eu já disse tanto? Além disso: como fazer uma apresentação para uma platéia que já o conhece?

Foi o próprio livro que me deu a resposta. Já que se trata de ensinamentos de amor, e já que estamos entre tantas pessoas queridas, me dei conta de que uma das lições do amor é justamente conhecer e reconhecer as mesmas pessoas por toda a vida. Sendo assim, optei por falar do “meu Júlio”; aquele que cresceu ao meu lado e com quem eu partilhei muitos momentos, atuando às vezes como expectadora e em outras como coadjuvante. Meus primos são, para mim, uma espécie de confraria ou irmandade, na qual a alegria de cada um é a minha também.

Na ocasião em que o Júlio foi registrar esse livro de poesias, no Rio, ele hospedou-se na minha casa. Fomos ao setor de registros de obras da Biblioteca Nacional. Tive um imenso orgulho quando o vi se dirigindo à funcionária e dizendo: “vim registrar a minha obra”. Aquele molequinho que tinha crescido ao meu lado, sempre o mais entrão, o que tinha as melhores tiradas, estava ali, “registrando uma obra”.

Nessa mesma estada no Rio fizemos um passeio por diversas livrarias e sebos do Centro e da Zona Sul carioca. Em uma delas encontramos o escritor Ruy Castro. Júlio, mais do que depressa, se posicionou atrás dele, pois, nas suas palavras: “quem sabe eu xepo alguma boa história?”.

Ao todo, percorremos umas 20 livrarias e sebos. O melhor de tudo era, ao entrar em cada uma delas, ver a carinha do Júlio. Ele apertava os olhinhos, como faz desde criança e lançava o seu popular “ô bobo”, significando um misto de fascínio, espanto e encanto diante de tantos livros. E se perdia, mais de uma hora, em frente a uma prateleira de poesia. Ou melhor: se achava.

No final dessa temporada ele me disse: “nossa! Eu conheci outro Rio dessa vez!”. Mal sabia ele que eu é que havia conhecido outro Júlio. Um Júlio que registrava obras. Que levava suas paixões com a disciplina de um adulto e a graça de um menino. Mais um Júlio que eu conhecia e que se somava aos outros tantos passados e futuros.

Júlio César Meireles de Andrade nasceu em 05 de outubro de 1979, na cidade de Andrelândia, Minas Gerais. Só saiu desta em 1998, quando foi estudar Direito. Começou o curso em Petrópolis, Rio de Janeiro, tendo concluído nas Faculdades de Ciências Jurídicas e Sociais Vianna Júnior, em Juiz de Fora. Em 2006 retornou a Andrelândia. Algumas das mais belas poesias de Júlio correspondem a esse período de “exílio”. Atualmente é oficial substituto do cartório de registro de imóveis da Comarca de Andrelândia, ao lado do seu pai, José Magno de Andrade. É o filho do meio deste com Maria do Carmo Meireles de Andrade.

O casamento destes representou a união de duas famílias tradicionalmente rivais na política; os caranguejos e os viados – sendo o avô materno de Júlio, o Dr Edson, prefeito de Andrelândia na ocasião. Tal fato ainda era pouco comum. Tanto que o noivado mereceu destaque até mesmo na revista Veja, na edição de 25 de setembro de 1974, numa reportagem sobre as acirradas disputas locais em cidades do interior.

Além de aproximar campos políticos opostos, o casamento também representou a partilha do sobrado - esse em que estamos – entre as duas famílias que o ocuparam em momentos distintos desde a sua construção: os Andrade e os Meireles.

Segundo o livro Terra de André, do amigo Marcos Paulo de Souza Miranda, a antiga residência do Barão do Cabo Verde foi construída por este ainda no século XIX. Em 1880, aproximadamente, o primogênito do Barão do Cabo Verde, o Visconde de Arantes, vende o sobrado ao seu sócio, o abastado comerciante Major Lindolfo Augusto de Queiróz, casado com Ozenda de Andrade Queiroz, irmã de nosso bisavô Antonio Pereira de Andrade Júnior – o Vovô Pereirinha.

Ozenda é mãe de Mário Queiroz, o lendário Zuzu, um dos meus personagens familiares prediletos. Vítima de meningite na infância, Zuzu permaneceu com a idade mental de uma criança, talvez devido aos poucos recursos da medicina da época ou ao excessivo cuidado de Tia Ozenda, que poupou tanto Zuzu durante a doença que este não se desenvolveu. Vivia num mundo à parte, cheio de sonhos e fantasias. Imitava ruídos e músicas com perfeição. Possuía um circo. Comandava trens com a maior seriedade.

Em seu livro de memórias, ainda inédito, Fôro anedótico mineiro, José Guido de Andrade – o querido tio Guido - diz que o sobrado estava a cargo de: “uma anciã que mal enxergava as contas do seu rosário e um homem corpulento, de rosto rosado e olhos azuis, que só se preocupava com o horário dos seus trens e novas atrações para o seu circo...”.

Diante deste quadro desolador, ambos são resgatados desse quase navio fantasma em que se transformara o sobrado, indo morar com Tio Getúlio, na mesma avenida, antes que o patrimônio do sobrado fosse totalmente dilapidado por pessoas que se aproveitavam da fragilidade dos dois para surrupiar objetos de valor.

Após a morte de Tia Ozenda, Angelina Pereira de Andrade – a tia Nhanhá - fica como tutora de Zuzu, devido às referidas condições deste. O sobrado é vendido para Dr. Edson de Resende Meireles, avô de Júlio César, cuja filha, Maria do Carmo - a tia Kaká - viria a se casar com Magno.

Nesse sobrado, Júlio César passou grande parte da infância. As marcas podem ser vistas na poesia “Teatro”, presente nesse livro e uma das minhas prediletas:

Abro a porta;
primeiro ato:
Eu criança
cavalgava um belo corcel,
a bengala de minha avó.
Nas mãos firmes, as rédeas,
uma gravata de meu avô.
Viajava longas jornadas,
do quarto para a sala.

Um passo à frente;
segundo ato:
O piano;
avó minha sentada, rezando,
era o que fazia há quinze anos;
derrame e muita paciência.
Na sala, a mesa central,
ornamentos; espora do Visconde,
jarros e flores, vela, castiçal.

Uma lágrima;
terceiro ato:
Infância;
o belo cantar dos pássaros,
na ameixeira do quintal.
O cheiro do feijão batido,
as roupas estendidas nos varais,
sempre sustentados por bambus.
Eu, criança, ali crescendo.

Um sorriso;
quarto ato:
A família;
tilintar de pesados talheres,
nas refeições comemorativas.
Muita comida, muita bebida e amor;
o bigode lambuzado de meu avô.
A correria dos netos mais novos,
o barulho no assoalho de madeira.


Casa vazia;
último ato:
Solidão;
móveis quebrados e sós;
o espelho refletindo o vazio.
Retratos de sorrisos nas molduras.
Fecho os olhos e, por um momento,
vejo tudo novamente; abro-os:
saudade, muita saudade...

O que Júlio não podia prever é que na verdade esse não era o último ato. Esse teatro continua e a prova disso é estarmos aqui, nessa noite, sob as bênçãos do Barão do Cabo Verde; do Visconde de Arantes; da Tia Ozenda; da Dona Glorinha e do Dr Edson; da tia Kaká; do Tio Guido e de muitos outros que viveram nessa casa ou ao redor dela, como o meu próprio pai, Herberto Pereira, médico recém chegado do Rio de Janeiro. Se apurarmos um pouco mais os ouvidos será possível escutar o apito dos trens de Zuzu ou o barulho do carrossel do seu maravilhoso e mágico circo.

Assim como Zuzu, Júlio César cria seu próprio circo nas páginas de seu primeiro livro – e felizes são aqueles que conseguem manter os seus brinquedos já na idade adulta. Um circo feito de amor. “Ensinamentos de Amor” mostra a arte de aprender e ensinar esse sentimento tão complexo em uma cidadezinha que parece ser muito maior do que suas reais dimensões físicas, sendo às vezes ela mesma a professora. Júlio repassa as lições, agora, com a sua nova família, que eu já amo como se sempre tivesse sido parte, composta da sua mulher, Maria Zélia – e Júlio não poderia se apaixonar por uma pessoa que não fosse professora de português – o pequeno João Francisco e quem mais vier.

Nas suas poesias é clara a influência de poetas e escritores de uma verve regionalista como Guimarães Rosa, Ariano Suassuna e Manoel de Barros. Não se podia esperar nada menos de alguém que cresceu lendo a obra desses autores, muitas encontradas entre os velhos livros deste sobrado, espécies de portais para outras dimensões em que o garoto se perdia. Ou se achava.

Eu gostaria de terminar agradecendo a algumas pessoas sem as quais essa noite não teria sido possível: a Dona Isabel, a Tia Maria Carmen e Maria Adélia, principalmente; e a todos os amigos que ajudaram de diversas formas na realização desse evento. E finalmente a Fundação Guairá, pessoalmente à Dona Berenice e ao Seu Gumercindo, ao realizarem a revitalização desse patrimônio que é o sobrado, que tem resistido bravamente ao Tempo e ao Vento. Como diria Floriano Cambará, ao final da obra de Érico Veríssimo: “O sobrado está vivo”. A fundação Guairá nos mostra que Andrelândia não é apenas cachaça e lingüiça que alimentam nossos corpos cansados de comidas industrializadas da cidade grande. É, além disso, diversão e arte para suprir corações cheios de saudade.

Muito obrigada a todos.

5 comentários:

Anônimo disse...

Garotinha...parabéns!!!!! Só sinto não ter estado presente....mas a vida toma alguns cursos que não imaginamos e nos tira de caminhos que pensamos jamais sair, e um desses é o caminho que me leva a Pasárgada, que a vejo cada dia mais distante de mim.

Carrie, a Estranha disse...

Dani,

Esses desvios tb são momentâneos!!

Bigada.

bjs

Anônimo disse...

Nossa,lindo...pena não ter participado deste evento...acho que outros virão...se depender desta família que sempre tem uma produção para comemorar.

Anônimo disse...

Ai, fiquei com os olhos molhados... Lindo, lindo!

Anônimo disse...

Line... adorei! Como é bom ler o que você escreve. Beijos, Ju Torres