Sejam bem vindos! Entrem, não reparem a bagunça das caixas de mudança no chão e encontrem um cantinho nessa nova casa. Fiquem à vontade.
Após inúmeros contratempos com o sistema Terra, resolvi tentar o blogger. Quem vem do outro blog sabe do que eu estou falando. Acho que esse aqui também não é o ideal, mas já é muito melhor do que o Terra. Pelo menos te dá satisfações de porque está fora do ar e coisas do tipo. Além disso, tem mais espaço entre as cadeiras: pra mim e pra você, amigo(a) leitor(a). O sistema de comentários é mais simples e ele é visto por mais pessoas. Também me dá a opção de links.
E já que eu estava mudando de sistema, por que não mudar o nome do blog? Mas o que quer dizer exatamente este nome? O que muda no blog? Calma, amigo leitor. Que ninguém espere que eu vá falar sobre demônios, bruxas, fadas ou outros elementais. Falo de outros tipo de demônios. Demônios mentais. Os meus, os seus, os demônios nossos de cada dia. Alguns, até, bastante produtivos, quando ligeiramente domesticados.
Na Idade Média acreditava-se que demônios visitavam homens e mulheres durante o sono. Os súcubos tinham seu equivalente masculino nos íncubos, que também visitavam os homens. Não sei se existiam demônios gays - boa questão pra se pensar, aliás. Numa época onde a sexualidade era extremamente reprimida, e a figura da Igreja Católica, onipresente, onisciente e onipotente, nada mais simples que os impulsos e desejos sexuais tomassem a forma de demônios. Pelo menos é essa a minha intepretação.
Acredito que cada época dá forma ao medo do Inominável segundo suas concepções mentais. Num período teocêntrico, bruxas e demônios. Só criamos o que somos capazes de decodificar. E se demônios e bruxas já não fazem mais tanto sucesso - a não ser que você vá na Universal ou se converta à Wicca - continua o pavor em relação a diferença e a falta de razão. Por isso criamos os hospícios, os remédios e as classificações de doenças mentais. Criamos nossos próprios alvos nos quais bater.
Sem dúvida a ciência evoluiu muito e males como a esquizofrenia, por exemplo, que seria tratada como bruxaria na Idade Média, já encontra remédios que, se não curam, pelo menos aliviam os sintomas. Então não estou pregando que soframos de depressão, enquanto um prozaquinho amigo pode dar uma tremenda mãozinha. Trata-se apenas de dar uma chance ao diferente.
Todos nós temos nossos demônios internos, nossas vozes que dizem coisas desconexas que parecem ir contra a razão - alguns mais, outros menos. Acredito que a arte é uma maneira de dar forma a estas vozes - e que todos nós precisamos de arte. Mas embora a maioria cante que "de perto ninguém é normal", ainda assim, quer ser normal. Insiste em um padrão de comportamento, como se isso fosse possível. E esquece da singularidade - ou até a singularidade é vivida de maneira padronizada nos dias de hoje.
Carrie, a Estranha é um personagem de Stephen King que eu amo muito. Também deu origem a um excelente filme, com direção de Brian de Palma e atuações perfeitas de Sissy Space (somo Carrie), John Travolta e Amy Irving. O livro/filme conta a história de uma adolescente que se sente muito deslocada na escola, em função da educação religiosa extremamente opressora que recebera da mãe. Carrie desenvolve poderes telecinéticos - fenômeno paranormal que realmente existe, embora se saiba muito pouco a respeito (assim como sobre a maioria das doenças mentais, aliás).
Seus colegas de classe - todos cools, populares e atletas - armam um torte pra Carrie no dia do Baile de Formatura do High School. Após o coroamento de Carrie como a "Rainha do baile", uma mistura nojenta de sangue de porco, groselha e outros líquidos cai sobre a garota e ela paga o maior mico na frente de geral. Resultado? Ela mata todos os presentes só com o poder da mente, trancando-os e botando fogo em tudo. Depois sai numa trilha de horror e sangue pela cidade, destruindo quem cruzasse seu caminho.
Além das ótimas atuações e da direção - e do livro ser maravilhoso também -, acredito que a história faça tanto sucesso porque quase todos nós temos Carries dentro de nós. É uma metáfora da existência (Ãhn? Ãhn? Pegaram?). Sentir-se deslocada num mundo onde tudo parece errado não é típico da adolescência. Nessa fase a gente ainda briga contra isso. E acha que um dia passa. Depois de um tempo você aprende a conviver com todas as suas vozes, todos os seus demônios; mais ou menos como fez o John Nash, personagem (real) de "Uma mente brilhante". E percebe que eles podem ser a sua singularidade. E quem sabe você até ganhe dinheiro com isso - ou alguém acha que Tarantino e Woody Allen eram figuras "populares" no colégio?
Um ex-namorado, ao me dar o livro Carrie, a Estranha colocou a seguinte dedicatória: "Um livro que é a sua cara". Foi um elogio irônico, mas um elogio. E é por isso que os posts serão assinados por essa criatura chamada Carrie, a Estranha.
Porque o mundo é estranho. E quanto mais você se debater, pior será.
Mas, lembre-se: se os sintomas piorarem, consulte seu médico. Alguns exorcismos ainda funcionam.
4 comentários:
Olá!! Bem vinda ao mundo do Blogger! De fato ele não é o ideal, mas pelo menos o sistema de comentários é beeeem menos complexo do que aquele outro lá hehehe! Adorei o seu post de inauguração, já vou mudar seu link la no meu cafofo!
Beijinhos
ps: Comentário inaugural hein :)
Oi, M.Eduarda! Sim, vc foi a primeira! Valeu pela inauguração!
Bjs
Ótimo texto!
Parabéns.
Verônica
Bem...enquanto os posts não vêm (ainda tem acento?!) resolvi colocara profissão dos meus sonhos em prática e fazer uma pesquisa arqueológica no blog...
Talvez eu entenda porque gosto tanto de lê-lo...rs
"Depois de um tempo você aprende a conviver com todas as suas vozes, todos os seus demônios (...)E percebe que eles podem ser a sua singularidade".
Adorei isso...
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