quarta-feira, junho 28, 2006

Império da mediocridade

O mundo vai acabar. Mas não como todos pensam. O mundo vai acabar não em decorrência de uma grande ecatombe nuclear, ou de um meteoro desgovernado se chocando contra a Terra ou nem mesmo por causa do Bush, de terroristas ou de nenhuma guerra. O mundo vai acabar porque a mediocridade vai assolar o mundo e em breve seremos todos samambaias. Não pensaremos mais, não teremos cérebro, e nossa condição acéfala será repassada às futuras gerações. Vegetaremos, apenas nos voltando para luz, água e comida.
Não falo de burrice. Aliás, não acredito em burrice. Acredito em preguiça e ignorância. A ignorância pode ser resolvida com a aquisição de conhecimento necessário. A preguiça se vence. Mas contra a mediocridade não há remédio. E é isso que assola o mundo e matará a espécie humana. Eu, você, todos nós tornamo-nos cada dia mais medíocres. Acostumamo-nos com o meio, a média, e isso passa a ser o padrão. Admiro os fracassados, os fracos; perdedores em geral. Mas definitivamente abomino a mediocridade. Isso não quer dizer que eu não recaia nela.
O mundo está sendo tomado de assalto por pessoas que não têm a menor noção de nada. E o que é pior: parecem não se importar com isso. Império da incompetência. Do descaso. Do desleixo. Esse comportamento se expande em progressão geométrica e ninguém parece se importar. Ele vem aos poucos, em detalhes ínfimos: horários que não se cumprem, tarefas por fazer, compromissos adiados, serviços mal feitos, palavras mal ditas, encontros desmarcados, desculpas esfarrapadas, vidas desperdiçadas das mais variadas formas. Mais ou menos; tudo muito mais ou menos. Falta de respeito com os outros. Falta de consideração. De delicadeza. E você abaixa o padrão e abaixa as expectativas e desce de nível. E um dia virou um plâncton e apenas faz simbiose com outros vegetais. Alguns parasitam deliberadamente sob os outros.
Pra quê melhorar? Pra quê se esforçar? Pra quê tentar o caminho mais difícil? Por que não apenas relaxar e deixar que as coisas aconteçam? Pra quê fazer hoje o que eu posso deixar pra amanhã? Pra quê externar nossas opiniões? Pra quê falar, pra quê ouvir? Pra quê ir na festa de casamento daquela amiga se eu quero sair e fazer outro programa? Pra que ligar, pra que escrever, pra quê me importar? Pra quê sair de casa pra ver fulano, se tá um frio do cão?
(Medíocre: adjetivo; mediano, sem relevo, comum, ordinário, vulgar, meão. Fonte: Dicionário Aurélio)

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