segunda-feira, dezembro 11, 2006

"Crasse" teatral


Eu acho o cúmulo atores protestando contra uma lei que incentiva patrocínio ao esporte. Fazem isso baseados no fato de que o esporte tem mais visibilidade do que o teatro. Logo as empresas vão preferir investir num atleta que vai pras Olimpíadas do que em uma peça.


Daí brigar contra uma lei que não está tirando dinheiro deles, apenas amplia a possibilidade de empresas descontarem em seus impostos o patrocínio que dão aos atletas é o cúmulo da picaretagem. Ninguém tá querendo patrocinar futebol milionário, mas esportes que não têm visibilidade, como...bom, se eles tivessem visibilidade eu saberia citar algum.

Por que a arte deveria ser prioridade? Por acaso arte é mais importante do que esporte? Pra mim até é. Vou muito mais ao cinema e ao teatro do que assistir a competições de qualquer coisa. Mas esporte socializa. Esporte pode ser um dos caminhos para livrar a sociedade de crime, droga e conferir identidade. Ensina cidadania, respeito e uma série de coisas. A arte também, eu sei. Mas então porque temos que optar entre um ou outro?

Esses dias vi a história de uma garota, campeã de karatê, no quadro da Regina Casé no Fantástico, que mora numa favela do Rio e não pôde ir a um campeonato mundial na Europa porque não tinha grana pra passagem. Agora vem Dona Fernanda Montenegro, Dona Natália Timberg, senhoras que muito honram as artes cênicas do país, tirar doce da boca de criancinha? Acho feio.

Façam que nem a Marieta Severo e a Andréa Beltrão: comprem um teatro que aí vocês nunca dependerão de ninguém. Criem alternativas.

Sem contar que empresas A, B ou C terão interesse em ver seus nomes ligados ao teatro, enquanto X,Y e Z ao esporte. Aí terão as “empresas amigas da arte” e as “amigas do esporte”. Não é lindo? Todo mundo com direito a ser patrocinado. Ninguém pegando o de ninguém.

Eu queria que a Companhia das Letras editasse meus livros. Acho, sinceramente, que eles deveriam investir em novos autores. Mas nem por isso eu vou lá e fico dizendo que eles deveriam para de editar o Rubem Fonseca, porque ele já é um autor consagrado, já tá velhinho e deveria ceder a vez pra quem precisa.

Faz arte quem precisa e muito, não quem quer. Já esporte faz quem tem comida no prato. Por questões óbvias. Os dois são muito importantes, por razões distintas. Agora, não é "despindo um santo pra vestir o outro" que vamos conseguir alguma coisa.

5 comentários:

Anônimo disse...

essa crasse teatral nao tem jeito mesmo.
revestidos de uma aurea adorniana de obra de arte, eles sentem-se no direito de fazer qualquer coisa, como pedir financiamento gordo no BNDES (o meu, o seu, o nosso dinheiro) e cobrar um ingresso inviável de ser pago. final de semana a preço popular? pra quê?
fora a militância contra a meia entrada.
e depois é o brasileiro q nao gosta de teatro. acho q está mais para "o teatro nao gosta do brasileiro"...

(desculpe o desabafo)

e. disse...

Achei deselegante, além de queimar o filme dos possíveis patrocinadores do Teatro como se disessem: "nos preferimos parocinar o Teatro". Empresas preferem o esporte pois afinal o produto fica exposto como se fosse uma propganda ambulante.

Anônimo disse...

Você disse tudo Carrie, assim como tem empresas que gostariam de ver o nome associado às artes tem empresas que gostariam de ver seu nome associado ao esporte ou a qualquer outra coisa.
Eu também prefiro a arte ao esporte, mas com certeza tem gente que pensa ao contrário. Afinal, cada um é cada um né? A Globo tinha que respeitar isso.

Gosto particulamente de empresas associadas à proteção de animais e ao meio-ambiente, e acho que isso é muito mais importante do que artes e esportes.

anouska disse...

essa crasse teatral não tem nenhuma crasse, isso sim. e tem algumas dessas senhouras e senhoures que ainda são contra a meia entrada pra estudantes. pô, o ingresso é caro pacas, o cara é ferrado total, vai no teatro como? será que não se preocupam em formar um público? concordo contigo: uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa. e esse povo aí tá misturando tudo. bjs!

Anônimo disse...

A Crasse Teatral se acha, é isso.

Eles tem medo de que baixando o preço das entradas vá juntar povão nos teatros.